Título: Rajoy vai agir sem pressa
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Fonte: Correio Braziliense, 24/11/2011, Economia, p. 24

Apesar da pressão internacional, premiê eleito da Espanha evita detalhar plano econômico e fala em cautela

Madri — O premiê eleito da Espanha, Mariano Rajoy, resiste à pressão internacional para revelar planos econômicos detalhados. Antes de agir, deverá procurar por esqueletos financeiros no armário e se aproximar da oposição. A afirmação é de autoridades do Partido Popular (PP) e analistas políticos. Conhecido como um administrador público cauteloso, Rajoy venceu a eleição de domingo de forma esmagadora, já que os eleitores culparam os sete anos de governo socialista pelo desemprego elevado e pelos problemas econômicos. O líder do PP, de centro-direita, fez campanha prometendo restaurar a confiança dos mercados financeiros. A expectativa é de que ele corte gastos e promova reformas econômicas favoráveis às empresas.

Membros do seu partido disseram, porém, que ele não será apressado, apesar da intensidade da crise de dívida da Zona do Euro. "Você não pode montar um pacote de medidas até saber exatamente que tipo de esforço de gasto público está confrontando", afirmou Miguel Arias Cañete, coordenador da campanha do PP e cotado para ser ministro das Relações Exteriores, na manhã de ontem.

Todos — da agência de classificação Fitch à chanceler alemã, Angela Merkel, — pediram que Rajoy adotasse medidas rápidas, mas, segundo a lei espanhola, ele não tomará posse formalmente até o período entre 16 e 20 de dezembro. Uma equipe de transição do PP se reuniu com membros do governo que está de saída ontem, mas não foram divulgados detalhes das conversas.

"Membros de sua equipe econômica têm dito que vão olhar para a reforma trabalhista, mas não disseram o que vão fazer", comentou Antonio Cabrales, professor de economia da Universidade Carlos III, de Madri. "O mesmo (ocorre) com a consolidação fiscal. O que ouvimos é: "Não vamos tocar nisso, não vamos tocar naquilo..." Ok. Então, no que você vai tocar?", acrescentou Cabrales. Durante a campanha, Rajoy prometeu proteger os sistemas nacionais de saúde e educação, mesmo quando cortar gastos.

Recessão na Eurozona A economia da Eurozona já está em recessão, afirmou ontem o Instituto Internacional de Finanças (IIF), constatando uma degradação da conjuntura mais rápida que o previsto. "A situação na Eurozona piorou muito ao longo deste mês e a economia caiu num quadro considerado de recessão, que ampliará ainda mais os deficits orçamentários", disse, em nota, a organização bancária mundial. "Os dados que recebemos sobre o fim do terceiro trimestre e o início do quarto são piores que o previsto", dizem os economistas, citando a alta do desemprego na Alemanha e a desaceleração da produção industrial em todos os países da Eurozona. O IIF prevê um retrocesso do PIB de 2% no quarto trimestre de 2011. Para o conjunto do ano de 2012, espera-se uma contração de 1%.