Petrobras deve ter este ano novos programas de demissão voluntária

Bruno Rosa, Danielle Nogueira e Ramona Ordoñez

08/01/2017

 

 

Empresa estima que encerrará 2017 com menos 6.300 funcionários

 

Outros programas de demissão voluntária estão previstos para este ano devido ao processo de venda de ativos da Petrobras, embora a estatal ainda não tenha anunciado quando pretende fazê-los. A perspectiva é que o número de funcionários na holding — excluindo subsidiárias — passe de 50.885 no fim de 2016 para 44.544 no fim deste ano, ou seja, menos 6.341 empregados, segundo a estatal. Nas subsidiárias, o corte deve ser ainda maior devido ao processo de busca de sócios, como no caso da BR Distribuidora, que deve ter um plano de demissão próprio.

Na avaliação de Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ), a elevada adesão de jovens a programas de demissão voluntária traz riscos para a empresa, pois pode comprometer a formação de líderes e o trabalho técnico futuro da companhia, quando os anos de bonança voltarem:

— Provavelmente, a Petrobras está arranhando o processo natural de sucessão de líderes. Mas isso depende do perfil dos profissionais que estão deixando a empresa. Deve acender a luz amarela, para que a companhia se prepare para reequilibrar a força de trabalho.

 

IMPACTO DE ESCÂNDALOS

Felipe Fafá de Carvalho, de 26 anos, que mora em Vila Velha (ES), tinha quatro anos e meio de Petrobras, quando deixou a estatal em setembro. Com nível superior incompleto — ele interrompeu o curso de Administração —, ocupava o cargo de técnico em administração e controle na área de logística. Ganhava R$ 6 mil por mês, incluindo benefícios. Mas estava insatisfeito.

— A gestão na Petrobras é muito politizada. Era muito travado, não me via crescendo. Resolvi arriscar e sair — diz Carvalho, que pretende investir parte dos R$ 200 mil que recebeu na empresa de marketing digital e produção musical que abriu há poucos meses.

Os mais velhos também apontam o ambiente de trabalho como uma das razões para sair da empresa. Márcio Ávila, de 40 anos, era advogado da Petrobras e conta que os escândalos de corrupção afetaram a relação dos funcionários com a companhia:

— O corpo técnico da Petrobras é empenhado, mas quando as decisões saem da alçada dele... Sabíamos pelos jornais o que estava acontecendo internamente na empresa, o que é frustrante. Os escândalos de corrupção decepcionaram os funcionários. Sabemos que a Petrobras vai se reerguer, mas quando?

Ele saiu da Petrobras em setembro, para dar aula de Direito na UFF, após passar num concurso para professor. Seu salário será reduzido à metade, diz, mas pretende complementar a renda advogando de forma independente e dando aula em outras universidades. Hoje, também leciona no Ibmec.

 

SAÍDA DE TÉCNICOS

Segundo dados da Petrobras, no programa de demissão voluntária de 2016, 21% eram técnicos de operação (cargos operacionais típicos da companhia) e 8% dos desligados eram engenheiros. O número de engenheiros foi praticamente metade do verificado no PIDV de 2014, quando 16% dos empregados que deixaram a empresa exerciam essa função e outros 16% ocupavam cargos operacionais.

Indagada se houve erro ao abrir o PIDV a todos os funcionários, a estatal disse que “o objetivo do programa é adequar a força de trabalho às necessidades do Plano de Negócios e Gestão da companhia, com foco no alcance das metas do plano e este objetivo está sendo cumprido”.

Economistas e especialistas dizem que a prioridade da estatal é financeira. Eles citam a antecipação da meta de redução da alavancagem (a relação entre dívida e geração de caixa operacional) de 2020 para 2018. A dívida total da companhia chegou ao fim do terceiro trimestre deste ano a R$ 398,2 bilhões.

— As metas da companhia são ousadas. A empresa vem tentando vender seus ativos para gerar caixa. A Petrobras suspendeu os projetos menos rentáveis para focar no pré-sal, com margens maiores. Mas tudo isso parece ainda não ser o suficiente, pois a dívida é muito alta — disse Aloísio Nunes, professor do Ibmec.

Outro ponto destacado pelos especialistas e criticado por sindicalistas é o plano de venda de ativos. A meta da empresa é levantar US$ 19,5 bilhões entre 2017 e 2018, com as ações de desinvestimento, incluindo subsidiárias, o que causa apreensão entre os funcionários.

 

TURNO DOBRADO

Sérgio Abrade, da Sindipetro Caxias, destacou que, na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), a redução de pessoal tem sido tão significativa que há casos de trabalhadores que precisam dobrar seu turno de trabalho.

— Houve uma redução drástica de pessoal, principalmente na área operacional, o que torna a situação crítica. Como uma refinaria não pode parar, quando termina o turno e não tem o substituto, o funcionário tem que continuar — Abrade.

Procurada para falar sobre a denúncia de que funcionários da Reduc estariam dobrando turnos, a Petrobras respondeu que “a continuidade operacional das refinarias está garantida, bem como o atendimento às melhores práticas de confiabilidade e aos requisitos de segurança, meio ambiente e saúde que norteiam as ações da Petrobras.”

A estatal afirmou que um dos dois principais objetivos no seu plano de negócios 2017-2021 é melhorar os indicadores de segurança, tendo como meta reduzir em 36% a Taxa de Acidentados Registráveis de 2,2 (em 2015) para 1,4 (em 2018) e o outro é diminuir a dívida líquida de 5,3 vezes a geração de caixa (em 2015) para 2,5 vezes (em 2018).

Um funcionário que trabalhou por 30 anos na Petrobras e pediu para não ser identificado aderiu ao PIDV porque avalia que existem muitas incertezas quanto ao futuro da estatal:

— O ambiente interno é ruim, com muitas pessoas ainda desconfiando do colega ao lado, sem saber se ele participou de alguma forma no esquema de corrupção descoberto pela Lava-Jato. A situação financeira da Petrobras, com a perspectiva de cortar cada vez mais benefícios, acaba com a perspectiva de carreira futura.

 

O globo, n. 30470, 08/01/2017. Economia, p. 30.