Título: Briga aberta pelo Trabalho
Autor: Braga, Juliana; Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2011, Política, p. 3

PDT evita cobrar nomeação de filiado do partido à sucessão de Carlos Lupi, mas já se articula para oferecer indicações

Um dia após a queda do ex-ministro Carlos Lupi, o PDT já se organiza para fazer um sucessor no Ministério do Trabalho. O discurso oficial da legenda, ensaiado com o próprio Lupi ontem, é de que a manutenção da pasta depende exclusivamente de decisão da presidente Dilma Rousseff. Nas entrelinhas, entretanto, pedetistas tentam constranger o PT para evitar qualquer chance de o ministério ir parar nas mãos do partido ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

O deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), mais conhecido como Paulinho da Força Sindical, central que divide espaço com a CUT, mandou um recado à presidente ao chegar à sede do PDT para a reunião que decidiria os próximos passos do partido. "Depende da Dilma para ver se a gente fica. Vou defender que o partido fique no governo. Ela é quem tem que medir as consequências", ameaçou o deputado. Ele acusou o PT de ter influenciado a relatora do processo contra Lupi na Comissão de Ética do Planalto, Marília Muricy, sem o conhecimento de Dilma. Marília foi secretária de Justiça da Bahia na primeira gestão de Jaques Wagner (PT) à frente do estado. "Tem gente do PT que ajudou a organizar essa saída do ministro Lupi", garantiu.

A briga seria por conta das centrais sindicais. Os dois partidos são ligados a CUT e Força Sindical, e a legenda que controlar a pasta terá mais poder para atrair a filiação de novos sindicatos. Paulinho nega que o PDT tenha usado a influência para favorecer a Força. Já o deputado Vicentinho (PT-SP), ligado a CUT, reclama da atuação do PDT. "O presidente Lula confiou e o PDT transformou o Trabalho numa pasta com influência exclusiva da central sindical", critica.

Lista Mesmo com acusações desse calibre, a orientação do Planalto é não agravar o desgaste com o PDT. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, foi escalado para contornar as críticas de Paulinho da Força, que já está em rota de colisão com o PT desde o início do ano. "Eu conheço o Paulinho, ele é amigo e da base do governo, não mandaria recado para a presidente", defendeu. "Só foi infeliz com essa acusação de influência do PT na queda do Lupi", pondera.

Nos bastidores, já se fala que a presidente Dilma teria pedido uma lista tríplice ao PDT com indicações de substitutos, mas a versão não é confirmada pelo Planalto. O discurso oficial da Executiva do partido é de que essa conversa não existiu, e que a legenda ainda nem discute nomes. "Nem discutimos nomes até por conta de que não sabemos se a presidenta Dilma vai definir se o PDT continua no Ministério do Trabalho ou se continua em outro ministério. Por isso, resolvemos não discutir nomes", afirmou o presidente do PDT, André Figueiredo. O deputado Reguffe voltou ontem a defender a independência da legenda e a recusa a cargos em ministérios durante discurso no plenário da Câmara dos Deputados. "Só de não terem convidado os parlamentares que têm defendido que o PDT não tenha ministérios, já mostra que eles estão articulando para manter a pasta", avalia.

Para aumentar as chances de emplacar um nome, o PDT criou uma comissão, da qual Lupi, que sempre tratou desses assuntos com o governo, não fará parte. "Temos que reativar a interlocução com o governo. Não dá para manter uma interlocução que foi falha", sustentou Brizola Neto. A comissão será formada pelos líderes do partido na Câmara e Senado, Giovanni Queiroz (PA) e Acir Gurgacz (TO), respectivamente, além do presidente e vice do partido, André Figueiredo e Brizola Neto, e do secretário executivo da legenda, Manoel Dias.

Alguns nomes já são cogitados para a lista, sendo que três deles fazem parte da comissão montada para conversar com o governo. Manoel Dias, André Figueiredo e Brizola Neto estão de olho no cargo — o último topa indicar alguém que seja ligado a ele. Além dos três, o deputado Vieira da Cunha (RS) está na fila.

MP investiga uso de jatinho O Ministério Público Federal (MPF) do DF abriu uma investigação na esfera cível para apurar os voos de Carlos Lupi, quando era ministro do Trabalho, em avião patrocinado pela Fundação Pró-Cerrado, a entidade que mais recebeu recursos da pasta — R$ 14,5 milhões. Lupi fez um périplo pelo interior do Maranhão em dezembro de 2009 a bordo de King Air providenciado pelo dono da fundação, Adair Meira. A revelação dos voos contribuiu para a demissão do ministro. Até hoje, não ficou claro quem efetivamente fez o pagamento pelo aluguel do avião. O procurador da República Paulo Roberto Galvão apura se o ex-ministro cometeu um ato de improbidade administrativa. O membro do MPF solicitou informações sobre os percursos e a utilização da aeronave ao 6º Comando Aéreo Regional (Conar).