Título: Com cheiro de eleição
Autor: Abreu, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2011, Política, p. 6

Campanha pró e contra a divisão do Pará se parece cada vez mais com uma disputa eleitoral. Vale até showmício para dobrar a população

Os eleitores do Pará irão às urnas no próximo domingo para definir se o estado será ou não dividido em três partes. A menos de uma semana do plebiscito, as pesquisas apontam para a tendência de que os paraenses rejeitem a criação dos estados de Carajás e de Tapajós. Os integrantes das frentes favoráveis e contrárias à divisão do Pará intensificaram nos últimos dias a campanha, que guarda grandes semelhanças com as disputas por cargos eleitorais. O Ministério Público Federal (MPF) identificou no estado as mesmas irregularidades encontradas nos momentos que antecedem as eleições.

O procurador eleitoral do Pará Daniel Azeredo contou ao Correio que o MPF tem atuado em todo o Pará para coibir o uso da máquina das prefeituras, que têm repetido antigas práticas proibidas, como o uso de transporte público para a realização de propaganda irregular e a distribuição de camisetas. "Temos verificado as velhas práticas eleitorais se repetindo. São prefeituras colocando a máquina para apoiar a divisão e também para defender a manutenção do estado único", disse Azeredo.

Segundo ele, o MPF recebeu denúncias de que militantes de uma das frentes estariam divulgando material com adulteração do número de votação nas urnas. Para votar no "Não" a divisão do Pará, o número é o 55, enquanto no "Sim", 77. Ao longo da campanha, o MPF recomendou à Justiça Eleitoral a suspensão de comícios e até de um showmício que seria realizado do outro lado da divisa do Pará, no Amazonas.

Debate pobre O procurador da República Ubiratan Cazetta, que atua no Pará, relata que a propaganda do plebiscito foi contaminada pelo clima de campanha eleitoral. "Na minha opinião, tal como as campanhas políticas não têm discussões sérias sobre as ideais, o plebiscito foi tomado por um debate muito pobre, de slogans", afirma. "Perdeu-se uma grande oportunidade de discutir quais são os problemas do Pará e como resolvê-los", acrescenta Cazetta.

Sob o comando do marqueteiro Duda Mendonça, a campanha favorável à criação de dois estados tem destacado números na tentativa de convencer os eleitores de que o desmembramento do Pará será melhor para todos. Com desvantagem nas pesquisas, o grupo mirou as críticas no governador Simão Jatene (PSDB), que, no mês passado, anunciou sua posição contrária à divisão.

"Estamos debatendo a ideia e mostrando por que o Pará deve ser dividido. O velho Pará tem entrado muito na questão do sentimentalismo, usando símbolos como a Fafá de Belém e o Ganso", destaca o deputado Lira Maia (DEM-PA), da frente pela separação de Tapajós. Para ele, a criação dos estados dividirá os problemas, encurtará as distâncias e aumentará a captação de dinheiro.

Já o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), que lidera a frente contra a divisão, argumenta que o Pará não pode ser transformado em um "Parazinho". Segundo ele, a criação dos estados será financeiramente inviável.