Título: Itália capta recursos com juros recordes
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2011, Economia, p. 18

País aceita pagar taxa de 7% ao ano. Esse custo é insustentável, dizem especialistas

A Itália conquistou ontem um alívio aparente ao captar 10 bilhões de euros com emissões de títulos. A transação, porém, só foi possível graças aos juros ofertados. As letras de curto prazo (seis meses) foram emitidas a 6,5%, contra 3,5% na última emissão similar, em 26 de outubro. As de dois anos terão rendimento de 7,8%, contra 4,6%. Ou seja: um recorde do qual os italianos não se orgulharão.

Com a alta dos rendimentos, a demanda dos títulos da dívida italiana foi mantida e o Tesouro pôde cumprir com suas metas. Porém, o custo do financiamento é considerado insustentável para a terceira maior economia da Eurozona, encurralada por uma dívida pública de 1,9 trilhão de euros (120% do PIB). "As dificuldades de equilíbrio da dívida alimentaram as dúvidas sobre a solvência do país", disse o governador do Banco da Itália, Ignazio Visco.

Asfixia Uma asfixia financeira da Itália, que deverá emitir em 2012 mais de 400 bilhões de euros em títulos da dívida, teria consequências fatais para toda a Eurozona. A possibilidade de falência do euro foi admitida, inclusive, pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy. Na quinta-feira passada, os dois líderes se encontram com o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, mas os resultados da reunião foram considerados decepcionantes, sobretudo em função da intransigência alemã em ampliar as competências do Banco Central Europeu (BCE).

Nesse contexto tenso, a Itália recebeu ontem a visita do comissário europeu de assuntos econômicos e monetários, Olli Rehn, que assegurou em Roma que "decididamente" não vê um fim do euro e que a participação da Itália é crucial para a moeda única e para a União Europeia. Apesar do clima de instabilidade, as principais bolsas europeias fecharam a sessão de ontem com ganhos.

Só com reforma Medidas de curto prazo para reduzir o deficit orçamentário da Itália não serão suficientes para resolver os problemas econômicos do país e somente reformas estruturais vão gerar crescimento, disse nesta sexta-feira o novo presidente do Banco da Itália, Ignazio Visco. "Os problemas financeiros de hoje refletem as políticas públicas orçamentárias dos últimos anos. Não podemos ser iludidos e pensar que medidas macroeconômicas sozinhas resolvem falhas", disse Visco em Catania, Sicília, durante seu primeiro discurso público como presidente do banco. "Apenas ao resolver nossa fraqueza estrutural é que podemos regenerar a economia italiana", afirmou Visco, que é membro do conselho de governança do Banco Central Europeu.