Título: Espanha já negocia socorro
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Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2011, Economia, p. 17

Governo eleito vem pavimentando apoio político para obter empréstimos do FMI e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira

Madri — O governo eleito de centro-direita da Espanha, que deve ser empossado em meados de dezembro, já considera a possibilidade de pedir ajuda internacional para sair do atoleiro em que o país se encontra. Com uma dívida monstruosa, beirando os 70% do Produto Interno Bruto (PIB), estagnação da atividade e desemprego recorde de 22%, a quarta maior economia da Zona do Euro dificilmente superará os entraves sem contar com recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia, seguindo os passos de Portugal, Irlanda e Grécia. Para os analistas de mercado, o resgate da Espanha é questão de tempo.

Mariano Rajoy, eleito primeiro ministro espanhol pelo Partido Popular (PP) no último domingo, já se deu conta da herança que lhe será entregue e da pressão que enfrentará dos mercados — no primeiro dia após a sua vitória, o país teve de arcar com juros recordes para se financiar. Não à toa, começou, ainda que discretamente, a negociar apoio político para construir uma ponte que resulte em um socorro que permita ao país cumprir uma difícil meta de déficit público, lidar com um setor bancário abalado por operações podres e uma recessão que pode ser duradoura.

"Eu não acredito que a decisão (de buscar ajuda) tenha sido tomada. Mas essa é uma das opções em jogo, porque eu fui questionado sobre isso. Mas nós precisamos de mais tempo e mais informação sobre a situação atual das coisas", disse uma fonte muito próxima de Rajoy à Reuters. Segundo esse aliado, se a ajuda vier do FMI ou do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), bancado pela União Europeia, será melhor, do ponto de vista político para o governo, tomar a decisão de forma independente e rápida, em vez de ser obrigado pelas forças do mercado mais tarde a implorar por socorro. "Se nós tivermos de fazê-lo, temos de fazer agora", disse a fonte.

Força dos bancos Um dos economistas do PP disse que fazer um pedido por empréstimos ao FMI é uma das opções mais cogitadas no entorno de Rajoy. "De qualquer forma, isso seria insuficiente e considerado uma medida transitória", afirmou. "Tudo está sendo discutido por um grupo restrito", acrescentou. Ele lembrou que o primeiro-ministro eleito não faz uma aparição oficial desde o eu discurso da vitória e deu poucos detalhes sobre seus planos econômicos durante a campanha.

Nesta semana, o premiê manteve uma série de reuniões com os chefes dos maiores bancos da Espanha para fazer uma avaliação mais completa sobre a saúde econômica do país e decidir quais devem ser suas primeiras medidas. Os problemas da economia espanhola poderiam ser resolvidos se o Banco Central Europeu (BCE) adotasse uma política de estímulo quantitativo — o que, na prática, significa imprimir dinheiro para comprar títulos da dívida do país. Mas há forte oposição a isso na Alemanha e dentro da autoridade monetária. "A Espanha optaria por isso (a solução do BCE) primeiro, mas, se isso não acontecer, nós teremos de obter financiamento externo", disse o economista.

Advertência Em visita a Porto Alegre ontem, o prefeito de Barcelona, Xavier Trias, elogiou o bom momento de crescimento econômico do Brasil, mas avisou para o país ficar atento porque a bonança pode acabar rapidamente. Ele lembrou que foi assim que aconteceu com a Espanha, que passa por um momento de estagnação. "Na década de 1990, vivemos na Espanha uma época de expansão muito importante, um pouco como vocês vivem no Brasil agora. Hoje, estamos em um situação muito complicada", disse. Para ele, é preciso prever que pode vir o momento em que não se cresce mais, e é isso que estamos aprendendo agora", advertiu.