Vírus H1N1 matou 18 no DF neste ano

Otávio Augusto

06/12/2016

 

 

Depois de um ano sem registros da gripe no Distrito Federal, a doença retomou a escalada em 2016. Até novembro,176 pessoas foram infectadas. Especialistas alertam para os cuidados com a higiene e a necessidade de vacinação

 

Gráficos históricos revelam a escalada da gripe H1N1 na capital federal em 2016. No total, 176 pessoas adoeceram neste ano, após sete anos de queda. O período em que mais houve casos é o de 2009, com 336, quando a pandemia assolou o mundo e ficou conhecida como gripe suína. Desde então, o total de ocorrências diminui a cada ano, à exceção de 2013 — em 2015, os registros zeraram (veja Alerta).Um fato que chama a atenção é a agressividade do vírus que matou 18 pessoas até a primeira semana de novembro de 2016 — em 2009, ocorreram 10 mortes. Especialistas alertam para a circulação do vírus mesmo durante o verão — o micro-organismo é mais frequente no inverno — e ressaltam a necessidade de vacinação. Na campanha deste ano, 40,8% das crianças tomaram apenas uma das duas doses necessárias.

Três cidades do DF concentram 34,6% das infecções. Os maiores números são de Santa Maria, com 22 casos; da Asa Norte, com 22; e do Gama, com 17. Elas somam 61 situações. Não é possível precisar se o local onde o paciente mora é o mesmo em que ele contraiu o vírus. O contato pode ter ocorrido no local de trabalho, no transporte público, entre outras possibilidades. Das mortes registradas até 20 de agosto, segundo os dados mais recentes divulgados pela Secretaria de Saúde, 10 eram mulheres, sendo quatro com mais de 60 anos. Um dos óbitos é de um adolescente de 13 anos.As questões principais do vírus são a alta transmissibilidade e a mortalidade. O paciente mais recente deu entrada no hospital no início de outubro, segundo informações da Diretoria de Vigilância Epidemiológica. Entre os casos confirmados, 126 apresentaram a forma mais grave da doença e precisaram de internação. Os idosos e as crianças são os mais vulneráveis ao mal. O agravo é ligado ao sistema imunológico, como explica o especialista em doenças pulmonares da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo de Melo Martins. “Independentemente da sazonalidade, sempre cabem os cuidados de prevenção. O vírus circula no verão, mesmo em baixo nível”, ressalta (veja Tira-dúvidas).

Um alerta foi publicado no início do ano pela Secretaria de Saúde, e as infecções continuam sendo monitoradas semanalmente. “A rede está mais sensível. Os casos começaram mais cedo, tivemos um pico no começo do ano e percebemos o aumento nos atendimentos por causa da doença”, destaca a diretora de Vigilância Epidemiológica, Rosa Maria Mossri. Até setembro, houve um cenário de aceleração da contaminação. Depois, continuaram em menor escala.Existem outros tipos de vírus que também causam Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). No DF, o Laboratório Central (Lacen) monitora a circulação desses micro-organismos (leia Para Saber Mais). Neste ano, a enfermidade acumula uma alta de 531,9% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2015, 94 pessoas adoeceram e, agora, 594. As mortes também aumentaram. “Temos vários vírus em circulação. Um que aumentou, por exemplo, é o VSR (vírus sincicial respiratório)”, detalha Rosa Maria.

 

Imunização

As crianças menores de 5 anos devem receber duas doses da vacina contra influenza para poderem ser imunizadas contra o H1N1. Na capital federal, apenas 24.678 de 41.661 crianças receberam a segunda dose. “É essencial a vacinação. Sem a segunda dose a criança fica descoberta. Os pais precisam manter o cartão de vacinação atualizado”, frisa Rosa Maria. Em 2017, a campanha deve ocorrer em abril. O Ministério da Saúde confirmará a data na próxima semana. No total, 672 mil pessoas receberam o imunobiológico.O especialista Ricardo de Melo Martins acompanha a evolução do vírus H1N1 desde 2009. Para ele, o essencial é manter as práticas de higiene. “Tem de acompanhar os casos e observar o que está havendo no Hemisfério Norte. Precisamos estar atentos a um possível pico, por exemplo. Se as autoridades sanitárias se mantêm em alerta e não deixarmos cair a vigilância, pode ser um pico que não se reproduza”, explica.

 

Sazonalidade

O ciclo de transmissão do vírus H1N1 começa no Hemisfério Norte, pois enquanto no Hemisfério Sul é verão, lá é inverno. Por isso, as vacinas são formuladas, sobretudo, nos Estados Unidos. As cepas do micro-organismo sofrem mutações anualmente, e os imunobiológicos são atualizados de forma que sejam eficazes contra o vírus.

 

Para saber mais

Novos vírus em circulação

Grandes cidades são ambientes propícios ao desenvolvimento de doenças, principalmente as respiratórias. Na capital federal, pelo menos 13 vírus que provocam gripes estão em circulação. Em algumas situações, podem ocorrer quadros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), internações e mortes. Além disso, as vacinas não protegem contra os novos germes. Os vírus influenza A/H1N1, B, parainflueza 2, adenovírus e o vírus sincicial respiratório (VSR) lideram as contaminações. Eles representam 38% do painel virológico de 13 micro-organismos de infecções respiratórias. Metapneumovírus, rinovírus e bocavírus, em 2016, tiveram pela primeira vez a presença confirmada — contabilizam 23% da apuração do painel virológico.

 

Tira-dúvidas

O que fazer para diminuir o risco de contaminação?

A primeira coisa a ser feita é a prevenção higiênica, ou seja, lavar as mãos sempre, evitar tocar nariz, olhos e boca, usar lenços descartáveis para espirrar e tossir, evitar locais aglomerados, manter boa alimentação e ingerir muito líquido. Assim que os sintomas aparecerem, é preciso procurar o médico. E não deixar de se vacinar, sobretudo os grupos assistidos pelo SUS.

 

O uso de máscaras ajuda?

Só para quem está doente. A máscara faz uma proteção mecânica, que evita a disseminação do vírus a partir de uma pessoa que tosse e espirra. É importante também para diminuir o contato com outros micro-organismos e agravar a situação.

 

Quando procurar o médico?

O paciente que tiver sintomas de gripe e febre alta deve procurar assistência médica nas primeiras 24 horas. Os antivirais são recomendados somente nas primeiras 48 horas. É importante detectar a gripe H1N1 precocemente para evitar casos agudos e internações. O médico prescreverá a medicação para evitar agravos. A indicação é muito específica do caso e das complicações do momento.

 

Qual é a diferença da gripe comum para a H1N1?

A influenza é comumente conhecida como gripe. Trata-se de uma doença viral febril, aguda, geralmente benigna e autolimitada. O influenza A/H1N1 é responsável por epidemias sazonais e pelas grandes pandemias. O vírus H1N1 causa doença respiratória nos porcos e leva a desdobramentos graves.

 

Quais são os sintomas do H1N1?

São similares aos da gripe comum. Eles incluem febre, tosse, garganta inflamada, dores no corpo, dor de cabeça, calafrios e fadiga. Algumas pessoas relatam diarreia e vômitos, além de pneumonia e falência respiratória. Pode haver também uma piora de doenças crônicas existentes.

 

Como é a transmissão?

O H1N1 é transmitido da mesma maneira da gripe comum. Os vírus se disseminam, especialmente por meio de tosse ou espirros. Algumas vezes, as pessoas podem se infectar tocando objetos contaminados com os vírus da influenza e, depois, tocando a boca ou o nariz.

 

Há grupos de risco?

Idosos, crianças, gestantes e pessoas com alguma comorbidade têm risco maior de desenvolver complicações. A melhor maneira de se prevenir contra a influenza sazonal é se vacinar todo ano.

 

Como é o tratamento?

Quando não há complicações, é realizado com medicação sintomática, hidratação, antitérmico, alimentação leve e repouso. Nos casos com gravidade, são necessárias medidas de suporte intensivo. Uma das principais complicações são as infecções bacterianas secundárias, principalmente as pneumonias.

 

 

Correio braziliense, n. 19552, 06/12/2016. Cidades, p. 21.