Título: Mais seguro, Complexo do Alemão espera UPP
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2011, Brasil, p. 10

Índices de segurança melhoram em área há um ano ocupada, mas a falta de policiais atrasará a retirada do Exército das rua

Um ano depois que a bandeira do Brasil foi fincada no alto do Complexo do Alemão, simbolizando a retomada pela polícia do território antes dominado pelo tráfico de drogas, todos os índices de violência caíram no local. Os crimes letais (homicídios, latrocínios, autos de resistência e lesão corporal seguida de morte) decresceram 9%, enquanto os de roubo na rua diminuíram 29%. Apesar de satisfeita com os resultados, a população de quase 100 mil pessoas continua a se perguntar quando, de fato, a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) será implantada. A previsão, de acordo com as autoridades fluminenses, é junho de 2012 — um ano de atraso em relação ao que foi prometido pelo governador Sérgio Cabral (PMDB). Além da retirada do Exército das ruas, responsável pelo policiamento desde a ocupação, os moradores querem as melhorias sociais anunciadas.

"Entendemos que as forças de segurança fizeram sua parte ao retirar os bandidos, mas cadê os serviços sociais? Há becos que ficam sem água dois ou três dias. Tem locais onde a queda de luz é frequente. Isso também é uma violência contra o cidadão", protesta Wagner Nicácio, presidente da Associação de Moradores da Grota, uma das favelas que compõem o Complexo do Alemão. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Rio, a falta de policiais levou ao atraso na implantação da UPP. Será preciso um contingente de 2,2 mil PMs, que ainda estão sendo treinados. Quanto aos serviços sociais, o governo fluminense destacou as obras concluídas dentro do PAC 2 — todas iniciadas antes mesmo da ocupação. As benfeitorias em drenagem, iluminação, água, entre outras questões estruturais, ainda não começaram, apesar de estarem previstas com orçamento de R$ 215 milhões.

"O processo é muito complexo, há um passivo muito grande. Então, é preciso agilizar a entrada do Estado por meio de esporte, lazer, educação, saúde. Mas não podemos negar que a política está no rumo certo", diz o policial civil Roberto Chaves, que é especialista em segurança pública e participou da ocupação do local.

Só promessa Muitos anúncios feitos até pela iniciativa privada na esteira da ocupação, que completa um ano na próxima segunda, ficaram só na promessa, segundo Nicácio. "O único banco que atua aqui dentro, no coração do Complexo do Alemão, é o Santander, que já existia antes da pacificação. Os outros, como Itaú e Bradesco, ficam à margem, fora da favela. Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal também estão fora", diz o líder comunitário. Sobre problemas entre a população e os soldados do Exército, ele destaca que o principal é a lei do silêncio, a partir das 2h. "Qualquer jovem ou adulto, aqui ou no asfalto, sai para curtir depois de meia-noite. Então, ter que parar as festas às 2h gera muito atrito", afirma. O major Leonardo Watson, da Força de Pacificação que cuida da área, minimiza o problema. "Temos mesmo essa regra, não pode ultrapassar os decibéis mínimos. Mas tem gente que exagera."

Um tiroteio ocorrido na quinta-feira, por volta das 22h, que deixou ferido um soldado no antebraço, também traz de volta um medo de retrocesso na pacificação, que já rende queda na criminalidade. Moradores ouvidos pela reportagem são unânimes em elogiar as mudanças — motoboys agora são legalizados; a Rua Joaquim de Queiroz, uma das principais vias, foi urbanizada e tem uma feira aos sábados; e há cinema. Mas fazem um pedido que revela a desconfiança ainda existente sobre o retorno do tráfico: pedem o anonimato para falar da ocupação. "O futuro é muito incerto para a gente. Por enquanto, está tudo bem, mas não sabemos o que vai acontecer amanhã", explica um dos moradores.

Colaborou Paula Filizola