Em busca de saídas para se afastar da Lava-Jato

Julia Chaib

12/12/2016

 

 

Atingido em cheio por depoimentos do acordo de delação premiada da Odebrecht, o presidente Michel Temer traça uma agenda positiva para minimizar o estrago após as denúncias da Lava-Jato e garantir a aprovação de medidas importantes na última semana do ano de funcionamento do Congresso Nacional. O presidente quer lançar, nesta semana, um pacote de medidas econômicas para reverter o pessimismo do mercado, que deve abrir hoje com bolsas em queda e dólar em alta. Ontem, Temer recebeu governistas no Palácio do Jaburu e participou, à noite, de jantar com deputados da base aliada na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com a presença do ministro da Educação, Mendonça Filho.

Entre os objetivos, estão a aprovação da admissibilidade da PEC da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara (leia a coluna Nas Entrelinhas na página 4) e a aprovação da PEC 55, do teto dos gastos, no Senado, amanhã, nesta que deve ser a última semana de trabalho do Congresso em 2016. Para recuperar a confiança dos investidores, o Planalto quer divulgar um pacote de medidas econômicas de curto prazo, para dar estímulos ao setor produtivo, liberar créditos para micro e pequenas empresas e facilitar a renegociação da dívida de grandes companhias.

Em outra frente, alguns aliados querem anular a delação do  ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebretch Carlos Melo Filho, alegando que o processo foi corrompido pelo vazamento. No sábado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, anunciou que pedirá a abertura de investigações sobre o caso.

Enquanto isso, Temer quer resolver também o imbróglio em torno da sucessão do ex-ministro Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo, escalando um nome do PSDB para a pasta. Entre os aliados que estiveram com Temer no Palácio do Jaburu neste domingo, está o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA). O tucano chegou a ser sondado para a pasta, mas o centrão, que reúne cerca de 13 partidos pequenos e médios, se opôs e ameaçou travar votações importantes. Temer segue com a ideia de colocar um integrante do PSDB.

A sucessão de Geddel foi discutida ontem no jantar na casa de Maia, juntamente com a aprovação das medidas.

O nome deverá ser anunciado nesta semana. Antes de ir à casa do presidente da Câmara, Temer reuniu-se com o o secretário-executivo do Programa de Parceria de Investimentos, Moreira Franco, também alvo de denúncias na Lava-Jato.

O governo tenta sair das cordas após o vazamento do depoimento de Carlos Melo Filho, que diz que Temer pediu R$ 10 milhões à companhia, entregues a aliados próximos, inclusive o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, para financiar campanhas do PMDB. E ainda amarga mais um má notícia: reprovação de 51% na mais recente pesquisa Datafolha.

 

Líderes

O termo do acordo da delação também envolve os principais líderes do PMDB no Senado, que teriam recebido recursos para campanhas eleitorais e em troca da aprovação de medidas de interesse da empreiteira. Um deles é o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), com o codinome de “Índio”, candidato à Presidência do Senado em 2017. O líder teria recebido pelo menos R$ 2,1 milhões para garantir a aprovação de matérias importantes. Outro seria o líder do governo na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), apelidado de “Caju”.

O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), que também esteve com Temer, afirmou que ele deverá se reunir com a equipe econômica até hoje para fechar o pacote. Rosso disse que o presidente estava sereno. “A prioridade é a retomada da economia. O presidente disse que confia nas instituições e na independência dos Poderes, principalmente do Judiciário”, disse o deputado.

A crise com a citação de Temer deve provocar hoje uma forte volatilidade dos mercados. Segundo o analista de investimentos Hugo Monteiro, da BullMark Financial Group, a bolsa deverá cair e o dólar, subir. “Piora muito a credibilidade do governo”, analisa. Colaborou Rodolfo Costa

 

As acusações de Cláudio Filho

Político: Michel Temer

Cargo: presidente da República

Codinome: —

Acusação: pedido de R$ 10 milhões de doações eleitorais para campanhas do PMDB

 

Político: Romero Jucá (PMDB-RR)

Cargo: senador, líder do governo no Congresso

Codinome: Caju

Acusação: Receber R$ 22 milhões para doações. Em troca, ajudou na aprovação de matérias de interesse da construtora no Congresso

 

Político: Renan Calheiros (PMDB-AL)

Cargo: presidente do Senado

Codinome: Justiça

Acusação: doações eleitorais no valor de R$ 6 milhões em troca de ajuda na aprovaçao de matérias no Congresso

 

Político: Geddel Vieira Lima

Cargo: ex-ministro da Secretaria de Governo

Codinome: Babel

Acusação: recebimento de doações eleitorais de R$ 5,88 milhões

 

Político: Eliseu Padilha

Cargo: chefe da Casa Civil

Codinome: Primo

Acusação: recebimento de

R$ 4 milhões em doações eleitorais, de um total de R$ 10 milhões que seriam repassados para o PMDB

 

Político: Wellington Moreira Franco

Cargo: secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI)

Codinome: Angorá

Acusação: ajuda em processos de concessão de aeroportos, em troca de doações eleitorais

 

Político: Eduardo Cunha

Cargo: ex-presidente da Câmara

Codinome: Caranguejo

Acusação: R$ 11,5 milhões em doações eleitorais, em troca de apoio em processos licitatórios de usinas hidrelétricas

 

Político: Jaques Wagner

Cargo: ex-chefe da Casa Civil governo Dilma

Codinome: Polo

Acusação: doações eleitorais de R$ 20,5 milhões, somadas as campanhas de 2006 e 2010, além de um relógio de presente, em troca de apoio de projetos e MPs que tramitavam no Congresso

 

Político: Delcídio do Amaral

Cargo: ex-senador

Codinome: Ferrari

Acusação: R$ 500  mil em doações eleitorais em troca de apoio a projetos de interesse da Odebrecht no Congresso

 

Político: Eunício Oliveira

Cargo: líder do PMDB no Senado

Codinome: Índio

Acusação:  doações eleitorais de proximadamente R$ 2,1 milhões

 

Político: Rodrigo Maia

Cargo: presidente da Câmara

Codinome: Botafogo

Acusação:doações eleitorais de R$ 600 mil em troca de projetos que interessavam à empresa

 

Político: Francisco Dornelles

Cargo: vice-governador do Rio

Codinome: Velhinho

Acusação:  R$ 200 mil em doações eleitorais em troca de apoio à tramitação de propostas econômicas no Congresso

 

Político: Gim Argello

Cargo: ex-senador

Codinome: Campari

Acusação: Doações eleitorais de R$ 2,8 milhões em troca de emendas em MP de interessa da Odebrecht

 

Político: Ciro Nogueira

Cargo: senador e presidente nacional do PP

Codinome: Cerrado e Pequi

Acusação: Doações eleitorais no valor de R$ 1,6 milhão

 

Político: José Agripino

Cargo: senador e presidente nacional do DEM

Codinome: Pino e Gripado

Acusação: doação eleitoral no valor de R$ 1 milhão

 

Político: Duarte Nogueira

Cargo: prefeito eleito de Ribeirão Preto

Codinome: Corredor

Acusação: R$ 750 mil em doações eleitorais

 

Político: Marco Maia

Cargo: deputado

Codinome: Gremista

Acusação: doaçõeseleitorais na ordem de R$ 1,3 milhão

 

Outros nomes citados:

José Yunes (assessor especial da Presidência); Adolfo Viana (PSDB-BA); Anderson Dornelles, ex-assessor de Dilma; Antônio Brito (PSD-BA); Antonio Imbassahy (PSDB-BA); Artur Maia (SD-BA); Arthur Virgílio (PSDB-AM); Benito Gama (PTB-BA); Carlinhos Almeida (PT-SP); Cláudio Cajado (DEM-BA); Colbert Martins (PMDB-BA); Daniel Almeida (PCdoB-BA); Edvaldo Brito (PSD-BA); Flávio Dolabella; Heráclito Fortes (DEM-PI); Hugo Napoleão (DEM-PI); Inaldo Leitão (PR-PI); Iracema Portela (PP-PI); João Almeida (PSDB-BA); José Carlos Aleluia (DEM-BA); Jutahy Magalhães (PSDB-BA); Kátia Abreu (PMDB-TO); Leur Lomanto Júnior (PMDB-BA); Lídice da Mata (PSB-BA); Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA); Orlando Silva (PCdoB-SP); Paes Landin (PTB-PI); Paulo Henrique Lustosa (PMDB-CE); Paulo Magalhães Júnior (DEM-BA); Paulo Skaff (PMDB-SP); Robério Negreiros (PMDB-DF).

 

Nomes que aparecem como beneficários de Cláudio Filho quando, na verdade, teriam recebido recursos de outros executivos da Odebrecht

Antônio Palocci, ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda (Codinome Aço ou Italiano); Gilberto Kassab, ministro das Comunicações (codinome Kafta) e Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB (codinome Mineirinho)

 

 

Correio braziliense, n. 19558, 12/12/2016. Política, p. 2.