Título: Sob acusação, ministro chora durante evento
Autor: Rothenburg, Denise; Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2011, Política, p. 5

Em Salvador, Mário Negromonte diz ser injusta denúncia de ter favorecido opção mais cara de mobilidade urbana em Cuiabá

O ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), chorou ontem em Salvador durante a cerimônia de adesão de prefeituras baianas ao programa Minha Casa, Minha Vida. Depois de receber mensagens de apoio nos discursos do presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, Marcelo Nilo (PDT), e do presidente da União dos Municípios da Bahia, Luiz Caetano (PT), Negromonte se emocionou ao cumprimentar aliados. Ele disse que pode deixar o cargo se sua permanência causar desconforto à presidente Dilma Rousseff. O ministro baiano negou irregularidades e atribuiu as denúncias ao "fogo amigo" de aliados e à discriminação contra nordestinos.

No Planalto, a avaliação é que Dilma está cansada de acusações de corrupção contra seus ministros. Desde que se viu meio que obrigada a afastar Orlando Silva (Esporte), de quem ela se aproximou nos últimos meses e cujo trabalho aprovava, a presidente se comprometeu a não demitir mais nenhum ministro em função do que os palacianos chamam de "pressão da mídia". É assim que ela se refere às últimas notícias envolvendo ministros como Carlos Lupi, do Trabalho; Negromonte; e Afonso Florence, da Reforma Agrária.

O único dos três que ela recebeu até agora para tratar das denúncias foi Lupi. Florence e Negromonte nem sequer foram chamados a dar explicações no gabinete presidencial. A ordem no governo é reduzir a repercussão à oposição.

Na quinta-feira, o jornal O Estado de S.Paulo trouxe reportagem sobre fraude em um parecer a respeito da obra de mobilidade urbana, parte do pacote da Copa de 2014, mais adequada para Mato Grosso: BRT (via expressa de ônibus) ou VLT (veículo leve sobre trilhos). A opção do governo foi pela mais cara, o VLT contrariando o parecer técnico inicial, que, de acordo com a reportagem, foi adulterado. O vice-presidente Michel Temer, segundo o texto, defendeu a obra mais cara. Temer divulgou nota logo pela manhã negando qualquer envolvimento na troca de projetos em Cuiabá.

No Planalto, a notícia foi tratada como parte de uma espécie de competição na imprensa para ver qual jornal ou revista derruba mais ministros. No caso da obra de Cuiabá, a decisão de trocar o BRT pelo VLT, avalia o governo, partiu do governador de Mato Grosso, Silval Barbosa (PMDB), e é ele que terá que se explicar. Ministros que despacham no Planalto também consideram natural que um técnico, no caso Higor Guerra, dar parecer contrário ao VLT por ser mais caro.O que é inaceitável para esses ministros é a existência de dois pareceres com o mesmo número: o de Higor e o novo, feito a pedido do governador, aprovando o VLT. Na avaliação preliminar, esse é o foco do problema.

Dilma pretende esperar. Se puder, só vai tratar do caso em janeiro, quando fará a reforma ministerial. Ela já descartou a ideia de criar o Ministério dos Direitos Humanos e colocar ali a Secretaria de Direito das Mulheres e a da Igualdade Racial. Pretende continuar usando esses cargos para acomodar as diferentes tendências do PT. Mas a presidente pretende acabar com as "igrejinhas", como são chamados os órgãos que ficam sob o comando de um único partido.