O Estado de São Paulo, n. 44976, 07/12/2016.  Metrópole, p. A16

Pesquisa internacional põe o Brasil entre os piores do mundo em Educação

Segundo o estudo, que avalia Ciências, Matemática e leitura, a maioria dos estudantes entre 15 e 16 anos ainda não sabe calcular o básico, tem poucas noções de interpretação de texto e capacidade insatisfatória de resolver questões científicas

Por: Luísa Martins

 

O Brasil ocupa as últimas posições entre os 70 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês), cujo resultado foi divulgado ontem pela Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE), com análises em relação ao ensino de leitura, Ciências e Matemática. Segundo o estudo, a maioria dos alunos entre 15 e 16 anos ainda não sabe calcular o básico, tem poucas noções de interpretação de texto e capacidade insatisfatória de resolver questões científicas.

Em relação à edição anterior da pesquisa (2012), o desempenho em Ciências e leitura ficou estagnado e, em Matemática, a nota final foi 11 pontos menor – piora considerada estatisticamente relevante. No ranking que considera todos os países, a melhor posição do País é em leitura – 59.º. Em Ciências, o ensino brasileiro ficou na 63.ª posição.

Mas foi em Matemática o pior resultado, a 65.ª colocação, “ganhando” apenas de Macedônia, Tunísia, Kosovo, Argélia e República Dominicana.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC) e responsável pelas avaliações de ensino no País, até criou uma lista paralela entre 14 países de características socioeconômicas semelhantes.

Por esse ranking, o Brasil fica em penúltimo lugar em Matemática e Ciências – perdendo apenas para a República Dominicana – e alcança seu melhor resultado em leitura, com o antepenúltimo lugar, à frente apenas do Peru e da República Dominicana.

 

Não sabem o básico. Mais de 70% dos alunos brasileiros entre 15 e 16 anos não alcançam nem sequer o nível básico de proficiência em Matemática, isto é, são incapazes de resolver problemas simples envolvendo números. Segundo o relatório, são estudantes que não têm conhecimento suficiente para “exercer plenamente sua cidadania”.

O escore médio do Brasil em Matemática foi de 377, enquanto a média da OCDE ficou em 490. Cerca de 43% dos alunos brasileiros estão abaixo do nível 1 – no qual sequer se especifica habilidades envolvidas, de tão precárias.

Em Ciências, mais de 56% dos brasileiros entre 15 e 16 anos só conseguem resolver questões de baixa exigência cognitiva.

O escore médio nacional é de 401 pontos. A disciplina foi o foco desta edição do Pisa, aprofundando informações sobre motivação, crenças e outras percepções dos jovens no aprendizado.

Os resultados demonstram, por exemplo, que 40% dos estudantes brasileiros gostariam de seguir carreira na área de ciência e tecnologia; que metade se diverte e gosta de aprender tópicos científicos e mais de 41% têm ajuda individual do professor nas aulas.

Entre as três avaliações, a competência de leitura foi a mais satisfatória para o Brasil perante a média da OCDE. A nota média dos países-membros da organização foi de 493, enquanto a média nacional resultou em 407. No entanto, 51% dos estudantes pesquisados estão abaixo do nível considerado aceitável para o exercício da cidadania: não conseguem, por exemplo, reconhecer a ideia principal ou interpretar fatores implícitos do texto.

 

“Tragédia”, diz MEC. O ministro da Educação, Mendonça Filho, definiu como uma “tragédia” os resultados do Brasil. Segundo o ministro, ao longo de 12 anos, o orçamento do MEC mais que triplicou, passando de R$ 43 bilhões para R$ 130 bilhões, sem reflexo direto na melhoria do ensino. “Alguma coisa está errada”, disse.

Também não há indícios de que uma eventual defasagem idade-série tenha contribuído para os maus resultados do Brasil, uma vez que quase 80% dos jovens pesquisados estavam no 1.º ou no 2.º ano do ensino médio, considerados regulares para os 15 anos de idade.

Para reverter esse quadro até a edição de 2018, o ministro anunciou que a pasta trabalhará em quatro eixos principais: o fortalecimento da alfabetização (prioridade para 2017), a formação de professores, a construção da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a reforma do ensino médio.

 

Pisa no País

23.141 alunos brasileiros, a maioria do sexo feminino, participaram da análise, em 841 instituições municipais, estaduais, federais e privadas.

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Particulares superam públicas, mas ficam abaixo dos países ricos

Por: Isabela Palhares e Luiz Fernando Toledo

 

As notas do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) apontam para uma grande diferença entre as redes pública (federal, estadual e municipal) e privada de ensino no País. As escolas particulares brasileiras ainda têm desempenho menor que a média de países ricos em Ciências e Matemática.

Em Ciências, a rede particular obteve 487 pontos(a dos países ricos foi de 493) – 93 pontos a mais do que a rede estadual e 158 na frente da municipal. As duas redes públicas não alcançaram nem mesmo o nível dois, considerado pela OCDE como o básico de proficiência que permite a aprendizagem e a participação plena na vida social, econômica e cívica das sociedades modernas.

Em Matemática, as escolas particulares estão no nível 2 e tiveram média de 463 pontos (a da rede estadual é de 369 e da municipal, 311 – situando-as no nível 1A, quando os alunos não conseguem empregar algoritmos, fórmulas e procedimentos para resolver problemas com números inteiros) e ficaram 27 pontos abaixo da média dos países ricos.

Apenas em leitura a rede particular brasileira alcançou a mesma média dos países desenvolvidos – 493 pontos, alcançando o nível 3 de proficiência (na rede estadual foi de 402 e na municipal, de 325 - localizando-as no nível 1A, quando o aluno consegue apenas reconhecer o assunto principal em um texto).

Para Daniel Cara, coordenador- geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, a diferença de desempenho entre as escolas privadas e públicas é um reflexo da situação brasileira e ressalta que nem os alunos das escolas particulares estão recebendo uma formação adequada, uma vez que têm desempenho abaixo dos países que integram a OCDE. “A rede particular no Brasil: ela é realmente boa ou tem como vantagem receber um aluno com perfil mais homogêneo?” Ainda de acordo com a avaliação, o desempenho da rede federal supera o da particular. Em leitura, as escolas federais tiveram 35 pontos a mais. Em Ciências, foram 30 pontos a mais e em Matemática, 25. “E nos mostram que o segredo é expandir esse modelo e não acreditar apenas que o que dá certo é a escola privada”, afirmou Cara.

 

Comparações. A diferença por rede expõe o abismo de qualidade entre as escolas, tornandoas próximas do desempenho dos membros mais ricos da OCDE.

A média de Ciências da rede federal, por exemplo, é próxima e semelhante às de Hong Kong (523), Nova Zelândia (513) e Austrália (510). Já a média da rede municipal na mesma área só se assemelha à da República Dominicana (332). No caso da rede estadual, a nota é semelhante à de Peru (397), Líbano e Tunísia.