Correio braziliense, n. 19563, 17/12/2016. Política, p. 2

Da agenda positiva à mediação entre poderes

JULIA CHAIB

Depois de dias turbulentos na política e na economia, o presidente Michel Temer concluiu a semana de forma mais amena do que o esperado. O peemedebista Temer passou os últimos dias no esforço para emplacar uma agenda positiva e estancar os efeitos do mal-estar criado entre os Poderes Legislativo e Judiciário. Como resposta, Temer atuou junto à base e lançou medidas econômicas para mostrar uma reação frente ao mercado. Ontem, em uma agenda repleta de compromissos, com quatro eventos públicos, Temer subiu o tom contra o PT.
Os termos do depoimento do ex-diretor da Odebrecht Claudio Mello Filho atingiram em cheio o núcleo duro do governo. Apesar de críticas, algumas de integrantes da própria base governista, o Congresso aprovou as medidas de maior importância para o Palácio do Planalto: a PEC do teto dos gastos e a admissibilidade da PEC da reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. O presidente ainda lançou um pacote de medidas econômicas. Com as ações, Temer passa credibilidade ao mercado e mostra o discurso que prega desde o último fim de semana, de que o governo não ficará paralisado.Ontem, no almoço, participou de uma cerimônia de natal no Planalto e entregou presentes a crianças, acompanhado da mulher, Marcela Temer. Depois, recebeu afagos de militares em um almoço. Mais tarde, condecorou integrantes dos Exércitos brasileiro e colombianos que ajudaram no resgate a vítimas do acidente com a delegação da chapecoense, que caiu em Medellín.
Durante almoço com militares, Temer reforçou que as medidas econômicas de ajuste são necessárias para fazer o Brasil crescer e criticou o PT. “Não há mais espaço, meus senhores, minhas senhoras, para feitiçarias. Imprimir dinheiro, maquiar contas, controlar preços. Estamos tratando de resolver nossos problemas de frente”, disse. “Os mais prejudicados com os arremedos e solução adotados no passado, são os mais pobres, os trabalhadores”, continuou.Ontem, pesquisa do Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostrou aumento na avaliação negativa do governo de 39% em outubro para 46%. A avaliação positiva variou de 14% para 13%. O resultado foi considerado “esperado” por interlocutores do Palácio, diante das notícias negativas que dominaram as últimas semanas.

 

Linha sucessória
Em outra frente, tentou agir para estancar a crise entre o Legislativo e o Judiciário, com a liminar do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, que mandou voltar ao plenário da Câmara o pacote de 10 medidas contra a corrupção no Senado, na última quinta-feira. Internamente, o Planalto avaliou a decisão de Fux como um tanto “exagerada”, mas uma crise entre os Poderes não é benéfica, por isso, o presidente buscou “mediar” o conflito e atuou para colocar panos quentes.Na quinta-feira, Temer conversou com Fux, Renan e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O procurador reiterou ontem ao Supremo o pedido para afastar Renan da Presidência do Senado, mesmo após decisão da Corte de mantê-lo no cargo, mas fora da linha sucessória do Planalto. No pedido, Janot lembrou a atitude do senador, que chegou a descumprir uma ordem anterior do ministro Marco Aurelio Mello de afastá-lo da Presidência. Interlocutores do Planalto avaliam que, no próximo ano, a crise entre Legislativo e Judiciário deverá ser naturalmente amenizada, porque Renan não será mais o comandante da Casa. O Senado entrou de recesso nesta semana e retornará em fevereiro, quando haverá eleições da Mesa Diretora. O líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), deverá ser o presidente.O presidente deixará decisões que podem promover embate dentro da base somente após as eleições da Câmara dos Deputados, alvo de polêmica. A nomeação do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA) para a Secretaria de Governo no lugar de Geddel Vieira Lima deverá ser feita somente após o pleito, para que se observe o cenário. “Deixa a roda rodar para ver onde vai dar”, disse um interlocutor do presidente.A escolha de Imbassahy para a pasta, no intuito de contemplar o PSDB, fiel da balança, gerou disputa na base, que viu o nome como uma interferência do governo na disputa pelo comando da Casa. Imbassahy seria um pré-candidato e a atitude acabou interpretada inicialmente como apoio ao presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tentará a reeleição, mesmo sendo proibido pela Constituição.O Centrão, grupo de 13 partidos pequenos e médios, terá candidatos e faz oposição a Maia. Três cotados do grupo são o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), o líder do PSB, Jovair Arantes (GO), e o líder do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB). Temer ainda poderá promover uma minirreforma ministerial para contemplar a base. Em uma eventual mudança no Ministério da Saúde, no lugar de Ricardo Barros (PP) pode entrar Ribeiro. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, também pode ter a situação avaliada. Temer ainda terá de preencher a vaga do assessor especial José Yunes, que deixou a função na última semana, alvejado pela delação da Odebrecht.

Encontro confirmado
O Palácio do Planalto confirmou que o presidente Michel Temer se encontrou em 2010 no seu escritório político em São Paulo com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acompanhado de um “empresário” que estava interessado em ajudar campanhas do PMDB. A manifestação do governo foi em resposta a reportagens publicadas que afirmam que Márcio Faria, ex-presidente da Odebrecht Engenharia Industrial, relatou em delação premiada que Temer e Cunha pediram recursos para a campanha eleitoral daquele ano em troca de beneficiar a empreiteira em contratos com a Petrobras. O governo afirmou que não teve acesso à delação. O Planalto informou que não sabe o que o ex-presidente da Câmara conversou com o executivo. “Se Eduardo Cunha teve algum tipo de acerto ou acordo, o presidente não participou disso”, disse um assessor de Temer.