Título: Coro pela punição
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 26/11/2011, Política, p. 3
Parlamentares governistas e de oposição fizeram coro ontem por uma punição ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Reincidente na prática de utilizar a tribuna da Câmara dos Deputados para discursos recheados de intolerância, o pepista pediu, na quinta-feira, que a presidente Dilma Rousseff assumisse "se gosta de homossexual". A reação à fala uniu políticos situados em campos distintos do parlamento. O senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, pediu que o Conselho de Ética apure com rigor a postura do deputado. Já o líder governista na Casa, Romero Jucá (PMDB-RR), pressionou a Câmara para uma censura pública à fala do deputado.
Durante discurso em que criticava, pela enésima vez, o que chama de "kit gay" do Ministério da Educação, na verdade uma cartilha contra a homofobia, Bolsonaro insinuou que Dilma deveria assumir a orientação sexual. "O kit gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff, pare de mentir. Se gosta de homossexual, assuma. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas do primeiro grau", disse o parlamentar fluminense. Mais tarde, o deputado justificou que havia se referido à "causa homossexual" e não insinuado a orientação sexual da presidente.
A fala provocou indignação não apenas na Câmara, mas também no Senado. O líder do DEM defendeu abertura de processo por quebra de decoro parlamentar. "Todo mundo tem o direito de defender sua opinião e o que pensa, mas na medida em que isso acaba sendo uma discriminação contra determinada pessoa ou determinado segmento, isso pode ensejar sim na abertura de procedimento dentro do Conselho de Ética tanto na Câmara quanto no Senado", afirmou Torres. O líder governista no Senado também ecoou as críticas. "Considero lamentável a declaração do deputado Bolsonaro, que foi preconceituosa, mal-educada e não precisaria ter acontecido. Ele fez colocações dúbias, dando a entender outras questões, portanto é lamentável e eu espero que a Câmara tome as providências", pediu Jucá.
Nota Em protesto pelo excesso da declaração, o PT, partido de Dilma, emitiu nota condenado a fala. "O PT reafirma com orgulho suas bandeiras históricas contra qualquer tipo de discriminação e preconceito. Esta deve ser uma luta permanente de toda a sociedade que se queira democrática, tolerante e que respeite as diferenças, como, aliás, é da tradição cultural brasileira", diz a nota assinada pelo presidente da legenda, Rui Falcão. O partido condenou, ainda, a postura homofóbica do deputado "não condizente com a dignidade e a responsabilidade que se espera dos homens públicos".