Centrão em risco na eleição da Câmara

Denise Rothenburg

26/12/2016

 

 

LEGISLATIVO »O bloco formado por 12 partidos que davam sustentação a Eduardo Cunha entrará dividido na disputa pela sucessão de Rodrigo Maia. Até agora, dois nomes sinalizam a intenção de concorrer ao comando da Casa, mas a lista deve aumentar

 

A campanha para presidente da Câmara que entra em cena daqui a uma semana promete decretar o fim do Centrão enquanto um bloco coeso capaz de jogar unido contra ou a favor de qualquer governo. A morte do grupo está praticamente selada com o lançamento de vários candidatos para o comando da Casa. Esses movimentos, somados às ações separadas que os partidos têm adotado na hora de apreciar as propostas do governo, indicam que o Centrão não deverá se manter em 2017.
O bloco foi criado no início de 2015 com 12 partidos, como uma forma de dar sustentabilidade ao então candidato a presidente da Câmara pelo PMDB, Eduardo Cunha. PP, PR, PSD, PTB, PSC, Pros, PTN, SD, PRB, PEN, PHS e PSL somavam, à época, mais de 200 deputados, o que terminou por garantir uma vitória folgada de Cunha.
Depois do impeachment de Dilma Rousseff, Cunha ainda utilizou essa força para fazer frente à influência do DEM e do PSDB junto ao governo do presidente Michel Temer. Sob o comando do deputado cassado, o bloco forçou inclusive a indicação do líder do governo. Temer era ainda interino no Planalto. O escolhido foi André Moura (PSC-SE), que permanece no cargo até hoje.
Com a derrocada de Eduardo Cunha, o Centrão virou um grupo de 12 generais sem condições de manter a tropa unida em torno de um único objetivo. O primeiro teste ocorreu na eleição para presidente da Casa, assim que Cunha foi afastado do cargo e do mandato parlamentar. Com a derrota de Rogério Rosso, a sopa de letrinhas que sustentou Cunha virou um caldo ralo e sem gosto.
O PR, com Maurício Quintella no Ministério dos Transportes, foi um dos primeiros a se desgarrar do grupo e se manter em linha direta com o Planalto. O mesmo aconteceu com o PSD, do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações, Gilberto Kassab, e, depois, com o PP, do deputado Aguinaldo Ribeiro.
A última tentativa de unidade ocorreu nas primeiras semanas de dezembro, quando os pré-candidatos a presidente da Câmara promoveram um festival gastronômico de almoços e jantares, nos quais sobraram comida e faltaram acordos. Na última quinta-feira, às vésperas do Natal, Jovair Arantes, o líder do PTB, avisou que não era candidato do “Centrão, do direitão nem do esquerdão”. “O Centrão pode até se manter como bloco, mas um candidato a presidente deve ser de toda a Câmara”, disse ele, ao se lançar como candidato avulso.
O PSD também está hoje em carreira solo com a candidatura de Rogério Rosso. E, para completar, ainda tem o PP, com Aguinaldo Ribeiro, da Paraíba. Dos três, só Rosso e Jovair já se lançaram. Aguinaldo ainda aguarda. A tendência, segundo integrantes do PP, é o partido se fechar em torno da candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), deixando o antigo Centrão mais enfraquecido.
Alguns partidos do bloco, entretanto, devem se manter juntos de forma a conseguir angariar um espaço de poder na Mesa Diretora. Especialmente, os menores, como PEN, PHS e PSL. A reunião dos 12 que faziam parte da formação inicial está praticamente descartada.

Esquerda
O fato de alguns partidos do antigo Centrão cogitarem apoiar Rodrigo Maia compensará os votos que o deputado do DEM perderá no PT, no PDT e no PSB. O PDT, com 20 deputados, já lançou a candidatura do deputado André Figueiredo (CE). O partido apoiou Maia em julho, mas discorda da reeleição. A ideia do pedetista é ser uma opção aos partidos de esquerda e àqueles hoje governistas que se mostram desconfortáveis pelo fato de ele buscar uma reeleição baseado numa interpretação do regimento ainda inédita na disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. O regimento diz que um deputado eleito para um mandato de dois anos não pode ser candidato para o período subsequente dentro da mesma legislatura. O grupo aliado a Rodrigo Maia considera que ele foi eleito para um mandato de seis meses, portanto não se enquadraria nesse caso.
O PSB é outro partido desconfortável com a reeleição de Maia. Em julho, o partido apoiou a eleição do atual presidente da Câmara na reta final. Agora, está dividido. Um grupo liderado por Júlio Delgado (MG) investe na candidatura própria. Outro, no qual estão Heráclito Fortes e Danilo Forte, tende a defender o apoio a Maia. E um terceiro, em que está a deputada Janete Capiberibe, não vê a hora de se reaproximar do PT. Com tanta divisão, os socialistas deixaram sua decisão para o fim de janeiro. Até lá, ficarão como o antigo Centrão passou o mês de dezembro: em busca de um consenso que dificilmente virá.

 

Os pré-candidatos

Confira os nomes que, até agora, sinalizam que vão concorrer à Presidência da Câmara

Jovair Arantes (PTB-GO)
Líder da bancada no Câmara, foi o relator da comissão especial do impeachment de Dilma Rousseff. Era um dos principais aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e não compareceu à sessão que cassou o mandato do deputado. É um dos nomes do Centrão, bloco informal de 12 partidos pequenos e médios

André Figueiredo (PDT-CE)
Ex-ministro das Comunicações do governo da ex-presidente Dilma Rousseff, André Figueiredo (PDT-CE) busca apoio de deputados do PT e do PCdoB. Deputado de terceiro mandato, o parlamentar foi líder do partido em 2015. Naquele ano, liderou a bancada contra as medidas de ajuste fiscal propostas por Dilma.


Rogério Rosso (PSD-DF)
Deputado federal pela primeira vez, Rosso presidiu a comissão especial do impeachment. Ficou em segundo lugar na eleição para ocupar o lugar de Eduardo Cunha no comando da Casa. Recebeu 170 votos. Em 2010, foi governador do Distrito Federal por pouco mais de oito meses, eleito indiretamente para o cargo, após a prisão de José Roberto Arruda na Operação Caixa de Pandora.


Rodrigo Maia (DEM-RJ)
Eleito em julho com 285 votos para ocupar a Presidência da Câmara, Maia busca assegurar a reeleição por meio de argumentos jurídicos. Genro do secretário do Programa de Parceria do Investimento, Wellington Moreira Franco, tem o apoio do Planalto na disputa. Oficialmente, interlocutores negam o amparo.

 

 

Correio braziliense, n. 19572, 26/12/2016. Política, p. 2.