Correio braziliense, n. 19574, 28/12/2016. Política, p. 2

Devassa nas gráficas da campanha presidencial

Com autorização do TSE, Polícia Federal cumpre mandados em três estados para verificar a capacidade operacional de três empresas que prestaram serviço à chapa Dilma-Temer durante a disputa eleitoral de 2014. Defesa da petista critica a operação policial

Por: Julia Chaib

 

Prestes a terminar o ano, o ministro-relator da ação que pede a cassação da chapa presidencial eleita em 2014 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Herman Benjamin, autorizou diligências em três gráficas que trabalharam para aliança PT-PMDB. A Polícia Federal cumpriu os mandados nas empresas Red Seg Gráfica, Focal e Gráfica VTPB. Todas prestaram serviço à campanha da ex-presidente Dilma Rousseff, que rebateu ontem a operação. A ação traz preocupação ao Palácio do Planalto, que atua para separar as contas e se desvincular do processo. A expectativa é que o julgamento ocorra no primeiro semestre do ano que vem.

Os mandados foram cumpridos em cerca de 20 locais de três estados: Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. Corregedor do TSE, Benjamin decretou ainda a quebra do sigilo fiscal de 15 pessoas físicas e jurídicas. As diligências, feitas para verificar a capacidade operacional das empresas, haviam sido pedidas com base em um relatório produzido por analistas do TSE, com a participação de integrantes da Receita Federal, da Polícia Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), segundo divulgou o tribunal com informações da quebra do sigilo das gráficas. A perícia elaborada pelos técnicos do TSE, concluída em agosto, aponta que houve “desvios de finalidade dos gastos eleitorais” durante a campanha.

Em Maceió, o presidente Michel Temer disse considerar “natural” a operação. “Faz parte da investigação. Isso é natural, não há nenhuma irregularidade nisso. A investigação segue adiante com depoimentos, perícias, enfim, fatos como este que visam exatamente a instruir o processo que está no Tribunal Superior Eleitoral. Nenhuma preocupação”, afirmou. Temer tenta separar as contas da campanha, alegando que cada um teve seu comitê. Em entrevista na semana passada, o peemedebista afirmou que, caso o TSE decida pela cassação, ele tentará todos os recursos possíveis, mas cumprirá a decisão final. Se Temer for afastado, o Congresso deverá fazer eleições indiretas para a Presidência da República.

Já a campanha de Dilma, por meio de nota do advogado Flávio Caetano, mostrou “perplexidade” com a operação em pleno recesso do Judiciário, “sem qualquer fundamento de urgência”. Afirmou ainda que as gráficas haviam prestado serviço a outras campanhas, como a do senador Aécio Neves e a do ministro José Serra. “Da mesma forma, gera indignação que tal decisão permita que sejam colhidos depoimentos pelo juiz auxiliar sem o indispensável acompanhamento pelos advogados das partes, e que também seja produzida prova pericial sem o acompanhamento pelos respectivos assistentes técnicos”, disse.

O PSDB ingressou em 2015 com quatro ações alegando gastos na campanha Dilma-Temer acima do limite informado. A legenda também sustenta que parcela significativa dos gastos do período eleitoral não foi comprovada, além de ter sido financiada com dinheiro de propina recebido pelo esquema de corrupção na Petrobras.

 

Recado aos nordestinos

Na segunda viagem ao Nordeste em sete meses de governo, Michel Temer disse que espera ser reconhecido como o maior “presidente nordestino” que o país já teve. O discurso ocorreu ontem, em Maceió (AL), durante anúncio de investimentos contra a seca na região. Temer fez o anúncio do repasse de R$ 755 milhões para obras contra a seca ao lado de correligionários e aliados. “Meu objetivo, meu sonho, é que, no fim do meu mandato, vocês possam dizer que, embora sendo eu de São Paulo, vocês possam dizer: ‘Esse foi o maior presidente nordestino que passou pelo Brasil’”, afirmou.

Além de ter buscado um discurso de aproximação com os nordestinos, Temer lançou uma crítica indireta ao governo de Dilma Rousseff. “A União nunca apreciou dividir recurso. Eu, diferentemente, desde os primeiros momentos, disse: ‘A União somente será forte se fortes forem os estados e os municípios’”, ressaltou. A primeira viagem de Temer ao Nordeste, considerado reduto eleitoral petista e onde o peemedebista tem baixa popularidade, foi no início de dezembro. (JC)

 

Licitação cancelada

O presidente Michel Temer cancelou uma licitação que previa a compra de alimentos para a aeronave presidencial no valor de R$ 1,75 milhão. O pregão previa a compra de R$ 17 mil em sorvetes, sendo 500 potes de Häagen-Dazs, estipulados em R$ 7,5 mil. Havia também a encomenda de 1.500 kg de torta de chocolate a R$ 96,9 mil, além de R$ 42 mil em três tipos de gelo: em cubo, em cubinhos e seco. Os valores individuais dos produtos também estavam elevados. A licitação previa a compra de latas de guaraná Antártica a R$ 4,12, por exemplo. Em nota, Temer disse que determinou o cancelamento do pregão e “de que também este serviço tenha seu preço reduzido em relação ao que vinha sendo praticado anteriormente”.