Empresas descobrem que a diversidade dá lucro

Rosana Hessel, Hamilton Ferrari e Marlla Sabino

24/12/2016

 

 

Cresce o número de companhias que apostam em equipes com mais mulheres, negros,gays e pessoas com deficiência. Estudo mostra o número de patentes pode subir 8% se profissionais se sentem protegidos

 


Apesar do conservadorismo estar de volta à política, no meio corporativo a diferença tem sido muito bem-vinda. Nas melhores empresas globais, incluindo algumas brasileiras, ser homem, branco e heterossexual está deixando de representar um passaporte para a ascensão profissional. Isso não só melhora a imagem das empresas: se traduz em dividendos significativos. É o que o Correio mostra hoje e amanhã na série de reportagens A diferença que faz a diferença.
A diversidade — seja por cor, por raça, por gênero, por orientação sexual ou pelo fato de a pessoa ter deficiência — é uma vantagem competitiva e um diferencial no mercado. Estudo feito por dois professores asiáticos, publicado pela revista Management Science, mostra que as empresas se tornam mais inovadoras em países que adotaram leis que protegem profissionais. Huasheng Gao, da Nanyang Business School, em Cingapura, e Wei Zhang, da Universidade de Finanças e Economia de Xangai, na China, observaram dados de quase cinco mil empresas americanas que fizeram registros de patentes entre 1976 e 2008. Eles notaram aumento de 8% na comparação com companhias de nações sem essas leis.

Ranking
O Brasil como um todo não está bem nessa foto. Em igualdade de gênero, por exemplo, o país está em 79° lugar em um ranking de 144 países levantado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), atrás de nações como Uganda (61º lugar), Cazaquistão (51º), Colômbia (39º), Bolívia (23º) e Burundi (12º). A Islândia está em primeiro lugar.
Pesquisa feita pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em parceria com o Instituto Ethos, junto às 500 maiores empresas brasileiras concluiu que apenas 13,6% dos quadros executivos são compostos por mulheres e 4,7% por negros. Nos Conselhos de Administração, as mulheres têm presença em 11%, e os afrodescendentes, em apenas 4,9%.
A assessora da Divisão de Gênero e Diversidade do BID, Judith Morrison, conta que ficou chocada com outro dado constatado pela pesquisa: a baixa participação das mulheres nas empresas é vista como algo natural. “Dos executivos ouvidos, 62,2%, acham que a presença da mulher é adequada. Mas a mulher é muito mais preparada e muito menos representada. Isso é extremamente preocupante”, avalia. A instituição pretende fazer um estudo comparativo das que apostam em diversidade.
O coordenador do núcleo de desenvolvimento de liderança da Fundação Dom Cabral, Anderson Sant’Anna, afirma que tem percebido crescimento da importância para as empresas das vantagens de ampliar a diversidade. “Isso ocorre de maneira significativa no Brasil”, afirma. “Em alguns setores mais competitivos, e que vivenciam uma concorrência maior, visa-se sempre priorizar a diversidade. Quando um grupo é homogêneo, ele pensa muito similar, porque vem da mesma classe social e tem a mesma formação. A diversidade é importante porque oxigena o pensamento e permite visões diferentes”, compara.

Setores
Sant’Anna destaca que as perspectivas diferentes entre os funcionários são importantes para o processo de desenvolvimento de produtos e soluções. “Os setores mais conservadores e mais tradicionais da economia, em que a concorrência não chegou em um nível mais elevado, ainda têm muita dificuldade de mensurar a relação custo-benefício da diversidade”, afirma. Não à toa, o professor da Dom Cabral destaca que as empresas inovadoras estão na vanguarda desse processo.
Algumas companhias estão investindo na montagem de times de colaboradores diversificados. Desde o processo da criação de um perfil para a vaga que se pretende preencher, a exclusão de critérios de religião, idade, cor ou sexo busca evitar possíveis exclusão de qualquer candidato por algum desses motivos. O objetivo é olhar para a pessoa como o profissional que é e criar um grupo de pessoas com características diferentes, por meio de um processo de cultura organizacional que saiba receber e incentivar a produtividade de todos eles.

 

 

Correio braziliense, n. 19570, 24/12/2016. Política, p. 6.