Título: Bombardeio da Otan deflagra crise política
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Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2011, Mundo, p. 26

Quase 30 soldados paquistaneses foram mortos em um ataque na madrugada de ontem

Estudantes protestam contra o ataque. Na faixa, dizem: "Terroristas da Otan e da América, deixem nosso país"

No pior bombardeio aéreo ao Paquistão dos últimos 10 anos, helicópteros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) mataram pelo menos 28 soldados, desencadeando uma crise política entre Islamabad e seus aliados ocidentais. "Esse é um ataque à soberania paquistanesa. Não vamos permitir qualquer estrago do tipo", disse um furioso Yusuf Raza Gliani, o primeiro-ministro, às emissoras de televisão do país. Depois de se reunir com aliados, ele afirmou que poderá cortar relações diplomáticas com os Estados Unidos e a Otan. Um porta-voz da organização afirmou que está "ciente de que há vítimas no Paquistão". "É bastante provável que (as mortes) tenham sido causadas por uma ação da coalizão", admitiu o general americano Carsten Jacbson.

O ataque ocorreu na madrugada de ontem, às 2h (horário local), em uma zona tribal na fronteira entre Paquistão e Afeganistão, um tradicional reduto de talibãs e da rede Al-Qaeda, que realizam ataques constantes contra tropas da Otan em território afegão. Quando os Estados Unidos, que fornecem dois terços das tropas no Afeganistão, bombardeiam regiões como essa com o objetivo de atingir talibãs, Islamabad faz protestos tímidos, mas é enérgico quando fazem vítimas entre civis e oficiais do Exército.

O poderoso chefe das Forças Armadas, general Ashfaq Pervez Kayani, disse em um comunicado que "todos os passos necessários serão dados para responder a esse ato irresponsável. Protestamos veementemente contra a Otan, para que uma ação urgente e forte seja tomada contra os responsáveis por essa agressão", afirmou. O comandante das forças da Otan no Afeganistão, general John R. Allen, disse que oferecia suas condolências às famílias dos soldados paquistaneses, que "podem ter sido mortos ou feridos durante o incidente na fronteira". A Embaixada dos EUA em Islamabad também ofereceu condolências. "Lamento a perda da vida de qualquer oficial paquistanês e prometo que os Estados Unidos vão trabalhar muito próximos ao Paquistão para investigar o incidente", afirmou o embaixador Cameron Munter.

Bloqueio Pouco tempo depois do ataque, o Paquistão ordenou o bloqueio dos comboios de abastecimento da Otan no Afeganistão que passam por seu território. Uma caravana de caminhões que se encontrava perto de cruzar a fronteira em Khyber foi reenviada a Peshawar, principal cidade do nordeste do país, de acordo com Muthair Hussein, responsável pela administração de Khyber, por onde passam as cargas de provisões da Otan. Nos últimos anos, o Paquistão denunciou por diversas vezes a violação do espaço aéreo nacional por parte dos soldados americanos. A última crise ocorreu em setembro, quando Islamabad acusou a força internacional de matar dois soldados paquistaneses. Já nessa oportunidade, o governo ordenou o bloqueio dos comboios de abastecimento da Otan. A fronteira ficou fechada por duas semanas, e só foi reaberta depois que o governo dos Estados Unidos pediu desculpas formalmente.

As relações entre Paquistão e a Casa Branca se deterioraram seriamente depois que um comando americano invadiu o espaço aéreo paquistanês e matou o então líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, na cidade de Abbottabad, no norte do Paquistão, em maio. Os governo americano acusa regularmente o Paquistão de fazer um jogo duplo e de sustentar clandestinamente rebeldes talibãs para defender seus interesses estratégicos no Afeganistão, de onde a Otan pretende retirar todas as suas tropas antes do fim de 2014.

Apesar da promessa de investigar o bombardeio e do oferecimento de condolências, os Estados Unidos estão no alvo político do Paquistão. "Acho que devemos ir ao Conselho de Segurança da ONU contra eles", disse o brigadeiro Mahmood Shah, ex-chefe de segurança das áreas tribais. "Até agora, o Paquistão tem sido culpado por tudo que acontece no Afeganistão. Mas o ponto de vista do nosso país jamais é mostrado pela mídia internacional."

Iraque Pelo menos 15 pessoas morreram e 18 ficaram feridas em atentados a bomba em Bagdá e na cidade de Abu Ghraib, no Iraque, de acordo com a agência de notícias France Press. Fontes da área médica e de segurança afirmaram à AFP que os ataques ocorreram na estrada que une Abu Ghraib a Faluja, a 20km da capital, e em um bairro do centro de Bagdá.