O Estado de São Paulo, n. 44970, 01/12/2016. Economia, p. B3

Volta do crescimento fica mais distante

 

Vinicius Neder
Daniela Amorim
Mariana Durão

 

A economia brasileira registrou no terceiro trimestre uma queda de 0,8% em relação ao trimestre anterior. Foi a sétima queda consecutiva do Produto Interno Bruto (PIB, o valor gerado por todas as atividades econômicas no País) nessa comparação.

Apesar de o resultado vir dentro das estimativas do mercado, confirmou que a recuperação da economia ainda está distante, e fez com que analistas revisassem para baixo suas projeções para o ano que vem – já há até quem fale em mais um ano de recessão.

O Bradesco cortou sua projeção para a alta do PIB no ano que em vem de 1% para 0,3%. Na média das projeções, o crescimento econômico de 2017 ficará em 0,7%, conforme pesquisa feita pelo Projeções Broadcast com 25 instituições financeiras.

Quando, no fim de agosto, o IBGE informou que o PIB havia encolhido 0,4% no segundo trimestre, pesquisa semelhante apontou para crescimento de 1,5% ano que vem.

“A recuperação da economia, que em julho parecia bem consolidada, sofreu revés em agosto, com os dados muito ruins da indústria”, disse o economistachefe da MB Associados, Sérgio Vale. A consultoria cortou a projeção de crescimento para 2017 de 2% para 1%.

O economista do banco Goldman Sachs responsável pela América Latina, Alberto Ramos, escreveu em relatório que a economia deverá permanecer fraca no quarto trimestre. A estabilização viria na primeira metade do ano que vem, para mostrar “sinais claros” de recuperação no segundo semestre.

O otimismo de agosto cresceu quando o IBGE informou que o PIB industrial subira 1,2% no segundo trimestre e os investimentos, 0,5%, sempre na comparação com os três primeiros meses do ano. Só que, no terceiro trimestre, veio a ducha de água fria: o PIB da indústria encolheu 1,3%, enquanto os investimentos despencaram 3,1%. A taxa de investimento ficou em 16,5% do PIB, a menor para terceiros trimestres desde 2003, quando foi de 16,3%.

Responsável por 70% da atividade econômica, o setor de serviços recuou pelo sétimo trimestre seguido, caindo 0,6% em relação ao segundo trimestre.

Sobre o terceiro trimestre de 2015, a queda foi de 2,2%. Já o PIB agropecuário foi derrubado pela quebra da safra nacional de grãos, prejudicada pelo clima em ano El Niño. A queda de 6,0% ante o terceiro trimestre do ano passado foi a terceira seguida nessa comparação.

 

Força. Segundo o IBGE, porém, a retração da economia perdeu força no terceiro trimestre, pois, no acumulado em quatro trimestres até setembro, o PIB encolheu 4,4% ante igual período do ano anterior. A mesma taxa estava em 4,8% no segundo trimestre. Foi o primeiro trimestre em que esse indicador melhorou, desde o primeiro trimestre de 2014.

Ainda assim, segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, é cedo para dizer se chegamos ao fundo do poço. Sazonalmente, o PIB agropecuário e a indústria perdem força no fim ano – as atividades mais intensas estão no PIB de serviços, com destaque para o comércio, especialmente o varejista. “O quarto trimestre vai depender muito do comércio. Vamos ver”, disse a pesquisadora. / COLABORARAM MARIA REGINA SILVA E THAÍS BARCELLOS

 

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“A recuperação da economia, que em julho parecia bem consolidada, sofreu revés em agosto, com os dados muito ruins da indústria.”

Sérgio Vale

ECONOMISTA-CHEFE DA MB ASSOCIADOS