O Estado de São Paulo, n. 44973, 04/12/2016. Política, p. A5

Atos terão como foco defesa do Judiciário

Principais grupos que mobilizaram população pelo impeachment de Dilma voltam às ruas hoje com pauta difusa e parlamentares como alvo
Por: Valmar Hupsel Filho

 

Valmar Hupsel Filho

 

Protagonistas no processo de impeachment de Dilma Rousseff, manifestantes ligados aos grupos que organizaram atos de rua pela deposição da petista estarão novamente reunidos hoje em mais de 200 cidades.

Desta vez, no entanto, o protesto não focará o Executivo, mas a defesa do Judiciário.

A exemplo das manifestações anteriores, o maior ato deve ocorrer na Avenida Paulista, em São Paulo. Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre, Nas Ruas e Intervencionistas – grupo que em novembro ocupou o plenário da Câmara dos Deputados para pedir a intervenção militar – prometem espalhar seus carros de som ao longo da avenida, que fica fechada para veículos aos domingos. Em Brasília, o ato deverá se concentrar na frente do Congresso.

Políticos, que chegaram a participar dos atos e até subir nos carros de som antes do impeachment, não são esperados hoje e poderão ser alvo das críticas.

As principais delas serão contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que se tornou réu por peculato na semana passada.

No protesto de hoje, um dos motes é o “Fora, Renan”. O grupo Nas Ruas vai levar um boneco inflável gigante, apelidado de “Renan Canalheiros”. “Com essas coisas que aconteceram durante a semana a gente acredita que terá mais adesão”, afirmou a porta-voz do Nas Ruas, Carla Zambelli.

Ela se refere à tentativa de colocar em votação no Senado o pacote anticorrupção aprovado na Câmara, cujo texto original foi alterado para constar a possibilidade de juízes e membros do Ministério Público serem enquadrados em casos considerados abuso de autoridade.

A tentativa, porém, fracassou.

 

Juízes e procuradores. A aprovação de um texto desfigurado das dez medidas contra a corrupção na Câmara foi vista como retaliação por membros do Judiciário e do MP, que realizaram atos na quinta-feira passada em diversas capitais, incluindo São Paulo e Brasília. Hoje, promotores, procuradores e juízes devem engrossar o coro do protesto na Paulista, em ato convocado pela Associação Paulista do Ministério Público (Apamagis) com o mote “Não vão nos calar”.

 

Pauta. Apesar de não haver uma pauta uniformizada de reivindicações, o ato tem como mote comum a defesa da Operação Lava Jato e da independência funcional de juízes e membros do Ministério Público.

A intenção dos organizadores é pressionar os senadores e o presidente Michel Temer a derrubarem o texto do pacote anticorrupção aprovado nesta semana na Câmara, que suprimiu itens inicialmente propostos pelo MP, respaldado por mais de 2 milhões de assinaturas de apoiadores.

O Vem Pra Rua também vai pedir a celeridade dos processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal em que políticos são réus e o fim de prerrogativas de agentes públicos, como foro privilegiado, aposentadorias diferenciadas e salários acima do teto.

 

PROTESTOS

220 é o número de cidades em que foram convocadas manifestações de rua hoje; em São Paulo, a Avenida Paulista será dividida em cinco blocos, com pelo menos seis caminhões de som de grupos que levaram milhares às ruas contra Dilma

 

AS ONDAS NAS RUAS

Fora tudo, Fora PT e Fora Dilma

Jornadas de Junho

Em junho de 2013, passeatas contra o aumento da tarifa dos transportes públicos lideradas pelo Movimento Passe Livre (MPL) tomam conta das ruas. Ali começa uma onda de protestos que acabou aglutinando outras pautas, como combate à corrupção e posição contrária à PEC 37 (que restringia o poder de investigação do Ministério Público), reunindo milhares de manifestantes. Como resposta, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), recuaram no reajuste de 20 centavos no preço da passagem. No plano federal, a então presidente Dilma Rousseff, já com a popularidade abalada, propõe cinco pactos, em áreas como saúde, educação e reforma política

 

Mobilização

Organizado nas redes sociais, convocado por grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), no dia 13 de março de 2015 ocorre uma grande mobilização pelo País contra o governo Dilma Rousseff. Os manifestantes pediam o fim da corrupção, reclamavam da situação econômica e defendiam o impeachment da então presidente. Outros três protestos também reuniram milhares de pessoas – em 12 de abril, 16 de agosto e 13 de dezembro (este logo após o pedido de impeachment ter sido aceito na Câmara, no dia 2).

 

Impeachment

No dia 13 de março deste ano, o País registra a maior manifestação contra Dilma, seu governo e seu partido, o PT, reunindo ao menos 3 milhões de pessoas nas ruas, de acordo com estimativas da Polícia Militar. Houve também elogios à Operação Lava Jato. Partidos da oposição aderiram abertamente ao protesto, mas suas lideranças, como os tucanos Geraldo Alckmin e Aécio Neves, chegaram a ser hostilizados. Já no dia 31 de julho, no primeiro ato após o afastamento de Dilma e pela primeira vez com uma manifestação simultânea a favor da petista, a adesão diminuiu.