O Estado de São Paulo, n. 44970, 01/12/2016. Economia, p. B4

Investimento cairá pelo 3º ano seguido

 

Daniela Amorim
Mariana Durão
 
 

Após o sopro de esperança ventilado pela indústria e pelos investimentos no segundo trimestre, ambos voltaram a decepcionar no terceiro trimestre deste ano. A taxa de investimento ficou em 16,5% no período, a menor para terceiros trimestres desde 2003, quando foi de 16,3%. Os resultados sugerem que a recuperação deve estar mais distante do que a estimada anteriormente, segundo economistas.

O PIB industrial recuou 1,3% no terceiro trimestre ante o segundo, devolvendo toda a alta de 1,2% registrada na leitura anterior.

Já a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, medida dos investimentos no PIB) despencou 3,1%, após a alta de 0,5%.

“No primeiro semestre, houve uma moderação da crise, principalmente na indústria, com aumento nas exportações.

O problema é que foi uma fase muito frágil ainda, muito suscetível a novas deteriorações.

Não tinha um processo de recuperação engrenado ali”, avaliou Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

O investimento terá o terceiro ano seguido de queda. Segundo estimativas da GO Associados, o recuo alcançará 10% em 2016. Se confirmado, a Formação Bruta de Capital Fixo acumulará uma perda de 25,8% entre os anos de 2014 a 2016, calculou Luiz Castelli, economista da Go Associados.

Na indústria de transformação, as perspectivas tampouco são animadoras. Fabricantes de máquinas e equipamentos já contam com um desempenho fraco no último trimestre e corroboram a previsão de Castelli com a expectativa de terminar o ano com um recuo em torno de 25%, de acordo com a projeção anunciada ontem pelo diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Bernardini.

“Não há nada no horizonte que indique uma reversão (desse resultado)”, afirmou Bernardini.

O nível de utilização da capacidade instalada atualmente é baixo, com média de 64%. Em setores como o automotivo, a ociosidade já está na casa dos 50%. No setor siderúrgico, em 60%. “Trabalhar com o nível de ocupação atual não é sustentável”, declarou esta semana Alexandre Lyra, presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil e CEO da Vallourec. As fabricantes de aço estão pessimistas, trabalhando com uma projeção de crescimento de apenas 0,6% do PIB em 2017 e descartando uma recuperação da economia no curto prazo.

Segundo o Iedi, a combinação entre capacidade ociosa, juros altos e falta de perspectiva de elementos que possam dinamizar a atividade são entraves a uma recuperação tanto da indústria quanto dos investimentos.

“Os juros são um elemento importante sim, então seria conveniente que essa taxa baixasse mais rapidamente. Até porque demora um tempo para que se sinta o impacto”, disse Cagnin.

No terceiro trimestre, a indústria de transformação teve recuo de 3,5% ante o mesmo trimestre de 2015, prejudicada pela menor fabricação de bens de capital, como máquinas e equipamentos e veículos, além das perdas em produtos de metal, móveis e vestuário. “Na transformação, a queda está muito relacionada com investimentos”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

A paralisação de unidades da montadora Volkswagen, por conta de uma disputa com o fornecedor de autopeças, também afetou o desempenho da indústria automotiva e da transformação, apontou o IBGE.

A construção amargou uma perda de 4,9%, e a extrativa mineral encolheu 1,3%, sob impacto mais uma vez da redução na extração de minério de ferro, como reflexo do acidente da Samarco em Mariana (MG).

“A extração de minério de ferro vem caindo desde o acidente de Mariana. Antes disso, estava crescendo bastante e ate comentávamos que estava ajudando na economia”, disse Rebeca.

A única atividade a registrar crescimento na indústria foi a produção e distribuição de eletricidade, gás, água e esgoto. O avanço foi de 4,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionado pelo desligamento das usinas térmicas. / Colabou André Ítalo Rocha

 

Efeito

A paralisação de unidades da Volkswagen, por conta de disputa com fornecedor de autopeças, também afetou o desempenho da indústria automotiva e da transformação