O Estado de São Paulo, n. 44970, 01/12/2016. Economia, p. B5

Consumo das famílias tem queda menor

 

Vinicius Neder

 

O ritmo de queda do consumo das famílias diminuiu no terceiro trimestre, mas esse componente da demanda está longe de retomar o posto de motor da economia. A queda de 3,4% de julho a setembro ante igual período de 2015 foi a sétima seguida, mas ficou abaixo das registradas no segundo e no primeiro trimestres, de 4,8% e 5,8%, respectivamente.

Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Quando começou a cair, o consumo das famílias terminou uma sequência de 45 trimestres de alta nesse tipo de comparação – desde o quarto trimestre de 2003. Nos sete trimestres de queda, perdeu 9,8%. Período tão negativo só foi visto entre o fim de 1997 e o fim de 1999.

Essa redução é explicada por alta do desemprego, queda da renda, inflação pressionada e crédito escasso e caro, segundo o IBGE. “As operações de crédito, que estavam crescendo muito, estão com crescimento nominal bem baixo. Se a gente descontar a inflação, vai dar número negativo”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Esses elementos vinham piorando desde o início do ano passado, mas a inflação arrefeceu nos últimos meses. Segundo Rebeca, foi um dos motivos para segurar o ritmo de queda do consumo das famílias. O mesmo ocorreu no mercado de trabalho, que passou a piorar de forma mais moderada. “O desemprego aumentou, mas a renda de quem está empregado não está caindo tanto.” Para o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, o consumo das famílias vem caindo porque o desemprego subiu e “os bancos não querem emprestar”. Como as famílias já estão endividadas e a taxa básica de juros (Selic, reduzida ontem para 13,75% ao ano) está elevada, o setor financeiro teme que novas dívidas levem a mais inadimplência.

“Um juro menor levaria a uma alta do crédito”, explicou Freitas, ex-diretor do Banco Central (BC). Ele criticou a decisão do BC, de cortar os juros básicos em apenas 0,25 ponto porcentual. “Não há necessidade desse rigor do BC, já que a inflação corrente e as expectativas estão caindo”, completou.

Juros básicos menores permitiriam às famílias renegociar dívidas, trocando taxas elevadas por outras mais baixas, explicou Freitas. Mesmo assim, não bastaria para recuperar o consumo como motor da economia.

“Para voltar a ser motor, depende do crédito. E para o crédito avançar, as pessoas têm de ter confiança. A taxa de juros está tão elevada, que cortar 0,25 ou 0,50 é pouco”, disse o professor João Sabóia, do Instituto de Economia da UFRJ.

Segundo ele, a redução no ritmo de queda da renda de quem está empregado, contribuindo para o consumo das famílias não encolher tanto quanto no início do ano, é insuficiente. Para as pessoas voltarem às compras, é preciso que cresça a chamada “massa de rendimentos”, a soma da renda de todos que trabalham. “O número de pessoas empregadas teria de subir, mas não parece que isso vai acontecer”, disse Sabóia.

Empresários do setor de supermercados apostam que a queda no consumo das famílias está chegando ao limite. “O que o consumidor poderia fazer, já fez, mudou para marcas mais baratas e fez substituições de produtos”, afirmou João Sanzovo Neto, presidente eleito da Associação Brasileira de Supermercados. / COLABOROU DAYANNE SOUSA

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Indústria influencia resultado negativo dos serviços

 

Mariana Durão

 

Responsável por 70% da atividade econômica, o setor de serviços foi protagonista de mais um trimestre consecutivo de retração do Produto Interno Bruto (PIB). Assim como o País, a atividade do setor recuou pela sétima vez seguida, ficando negativa em 0,6% no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre do ano. Na comparação com o mesmo trimestre de 2015, a queda foi de 2,2%.

“Os serviços continuaram puxando o PIB para baixo, até por seu peso na economia. Aqueles que são muito correlacionados com a indústria tiveram as maiores quedas”, disse a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

Dependentes da demanda da indústria de transformação, que viu seu PIB encolher 2,1% no trimestre, as atividades de transporte, armazenagem e correio (-2,6%), outros serviços (- 1,0%), intermediação financeira e seguros (-0,6%) e comércio (-0,5%) foram as que derrubaram o setor no período de julho a setembro.

O desempenho negativo da agropecuária (-1,4%), agravou o quadro, em especial de transporte e comércio. Além disso, a retração do consumo das famílias brasileiras resvala no setor.

Com o desemprego em alta e as famílias mais endividadas, cai a demanda por serviços como alimentação fora de casa.

Rebeca destaca que, com o PIB agropecuário pesando pouco no fim do ano, quando há pouca safra, e o tradicional arrefecimento da produção da indústria no período, o desempenho dos serviços, em especial do comércio, será crucial para o próximo PIB. “O quarto trimestre vai depender muito do comércio”, disse. O Índice de Confiança de Serviços (ICS), entretanto, caiu nas sondagens da pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em outubro e novembro.

 

Recuo

2,2% foi a queda no PIB do setor de serviços no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2015. Atividades dependentes da indústria tiveram maiores quedas