O Estado de São Paulo, n. 44970, 01/12/2016. Economia, p. B7

BC volta a reduzir Selic em 0,25 pontos

 

Fabrício de Castro
Eduardo Rodrigues

 

O Banco Central decidiu cortar os juros básicos da economia em 0,25 ponto porcentual, de 14% para 13,75% ao ano. O anúncio era esperado, embora analistas considerassem que um corte maior poderia ser mais adequado, dado o quadro de recessão e desemprego no País. Mas, com o foco no controle da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição decidiu que ainda não era hora de promover uma redução de meio ponto porcentual da taxa Selic, embora tenha reconhecido que a atividade econômica está pior que o esperado.

Foi a segunda reunião consecutiva em que o colegiado reduziu a Selic em 0,25 ponto. No encontro anterior, em outubro, o BC havia condicionado cortes maiores à continuidade do avanço dos ajustes fiscais e a uma inflação menor na área de serviços.

Desta vez, além de citar esses dois fatores, a instituição justificou a cautela na política monetária alertando que o cenário externo “apresenta-se especialmente incerto”.

Para o Copom, a volatilidade dos preços dos ativos aumentou, o que indica possível fim do ambiente externo favorável para economias emergentes como o Brasil. Além disso, o colegiado afirma que há elevada probabilidade de alta de juros nos EUA no curto prazo e que existem incertezas quanto ao rumo de suas políticas econômicas.

Esta leitura surge após a vitória de Donald Trump, no início de novembro, que ampliou em todo o mundo a desconfiança quanto aos rumos do país.

O corte de ontem da Selic ficou dentro do que projetava a maior parte dos economistas do mercado financeiro. De um total de 70 profissionais consultados pelo Projeções Broadcast, 60 esperavam redução de 0,25 ponto porcentual e 10 aguardavam por 0,50 ponto.

Um dos argumentos usados pelo segundo grupo era de que, com a economia fragilizada e a inflação já em patamares mais baixos, haveria espaço para acelerar a queda dos juros.

 

Riscos. De acordo com o comunicado que acompanhou a decisão do Copom, um aumento do ritmo de redução da Selic mais à frente dependerá das expectativas para os preços e dos “riscos” para a inflação: o cenário externo, a inflação de serviços e o processo de ajuste fiscal – que segundo o BC “é longo e envolve incertezas”.

Ao mesmo tempo, os diretores da instituição reconheceram que há dificuldades na recuperação da economia, o que pode contribuir para que a inflação seja mais baixa. Na prática, a visão é de que, com a recessão e o desemprego em alta, não sobrará espaço para reajuste de preços em vários setores. Assim, será possível reduzir a Selic em ritmo mais acelerado.

Os dados mais recentes do IBGE mostraram que o PIB recuou 0,8% no terceiro trimestre, ante os três meses anteriores, e recuou 2,9% ante o terceiro trimestre do ano passado. O País enfrenta a recessão há sete trimestres, desde o início de 2015. E o desemprego chegou a 11,8% da população ativa.

“O ritmo de desinflação nas suas projeções pode se intensificar caso a recuperação da atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada”, defendeu o Copom no comunicado que acompanhou a decisão de ontem.

Para o diretor de pesquisas para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, o BC “indica que a recuperação mais lenta da economia pode colaborar no processo de desinflação do País, o que ajuda a ampliar o movimento de redução de juros logo”. Ele também avalia que a reunião do Copom de janeiro já terá como resultado a redução de 0,50 ponto porcentual da Selic, para 13,25% ao ano.

O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, diz que o BC está sinalizando que “vai acelerar o ritmo de corte” da Selic. Mas ele também acredita que essa redução está condicionada à situação no exterior. / COLABORARAM RICARDO LEOPOLDO E ANDRÉ ÍTALO ROCHA

 

PRESTE ATENÇÃO

1.O Comitê de política Monetária (Copom), com o foco no controle da inflação, decidiu que ainda não era hora de um corte de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros.

2. Além da inflação em serviços ainda mais alta do que o BC gostaria e de poucos avanços no ajuste fiscal– condições apontadas na última reunião do Copom para um corte maior na taxa de juros –, o comunicado da reunião apontou incertezas no cenário externo para não reduzir ainda mais a Selic.

3. A maioria dos profissionais do mercado não esperavam um corte maior do que 0,25 ponto. Pesquisa da Projeções Broadcast com 70 profissionais apontou que 60 esperavam redução de 0,25 ponto.

4. Os diretores do BC consideram, no entanto, que o nível de atividade econômica em queda manterá a inflação mais baixa e pode abrir espaço para cortes maiores na Selic.

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Tesouro Direto atrelado à inflação deve levar vantagem

 
Douglas Gavras
Jéssica Alves

 

Os títulos do Tesouro Direto atrelados à inflação devem levar vantagem em relação aos demais investimentos, considerando a redução de ontem de 0,25 ponto porcentual da Selic, a taxa básica de juros, segundo analistas de corretoras. Os fundos de renda fixa, em geral, continuam mais atrativos que a caderneta de poupança e devem seguir assim no ano que vem.

Para Carlos Acquisti, economista da gestora Infinity, a expectativa é que a Selic fique em 11% ao ano no fim do ano que vem e que a inflação feche 2017 ainda fora do centro da meta, de 4,5%. “A tendência é que o IPCA fique próximo de 6%, o que ainda daria bons retornos para os títulos atrelados à inflação.” Como o cenário internacional a partir do ano que vem é nebuloso, a perspectiva é que o Banco Central aja com cautela na manutenção da Selic, considerando as indicações do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de mudanças de juros nos Estados Unidos.

“Caso o Fed suba os juros no fim deste ano e no começo de 2017, isso certamente irá impactar no câmbio e nos preços. Investir em um título atrelado à inflação pode dar uma maior capacidade de defesa”, diz Mauro Mattes, da Concórdia.

“Todos os movimentos internacionais ainda são especulações.

Só com o início do governo de Donald Trump, em janeiro, as políticas reativas do Banco Central poderão ser tomadas baseadas em medidas concretas, menos no escuro”, pondera Raymundo Magliano Neto, da Magliano Corretora.

Também no contexto interno, o Banco Central não tem espaço para fazer quedas acentuadas, por conta da instabilidade política com a Lava Jato e a implantação do ajuste fiscal, diz Miguel de Oliveira, da Anefac.

 

Poupança. Quem procura aplicações mais conservadoras e de baixo risco terá retorno melhor se buscar produtos com taxa de administração de até 2,5%. A poupança só leva vantagem sobre aplicações com resgate em até um ano que têm taxas de administração a partir de 3%.

A taxa de juros precisaria retornar aos 8% para a poupança se tornar mais atrativa. A remuneração da aplicação é formada por uma taxa fixa de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR)– o cálculo vale para a Selic acima de 8,5% ao ano.

Em 2015, quem aplicou na poupança perdeu 2,35% do seu poder de compra. A rentabilidade do investimento foi de 8,07%, ante inflação de 10,67%.

 

Dinheiro. Renda fixa em geral é mais atrativa que poupança