O Estado de São Paulo, n. 44980, 11/12/2016. Política, p. A5

Ex-executivo vincula apelidos a Aécio e Kassab
 

Andreza Matais
Beatriz Bulla
Fabio Serapião
Mateus Coutinho

 

Embora não cite valores, no anexo encaminhado pelo exdiretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho aos procuradores da Operação Lava Jato constam referências a pagamentos da empreiteira ao senador Aécio Neves (PSDBMG) e ao ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab (PSD-SP).

De acordo com o delator, Aécio seria identificado no sistema interno de pagamentos indevidos como “Mineirinho” e Kassab como “Kafta”, “segundo informado pela empresa”. Melo Filho, no entanto, diz não ter participado de tratativas com os dois.

As referências a “Mineirinho” e “Kafta” já haviam surgido anteriormente na Lava Jato.

No pedido de busca e apreensão da Polícia Federal na 26.ª fase da operação, a Xepa, “Mineirinho” é apontado como destinatário de R$ 15 milhões entre 7 de outubro e 23 de dezembro de 2014. As entregas, registradas nas planilhas da secretária Maria Lúcia Tavares, do Setor de Operações Estruturadas – conhecido como o “departamento de propina” da Odebrecht – teriam sido feitas em Belo Horizonte, capital de Minas.

A quantia foi solicitada pelo diretor superintendente da Odebrecht Infraestrutura para Minas, Espírito Santo e Região Norte, Sérgio Neves, a Maria Lúcia, que fez delação e admitiu operar a “contabilidade paralela” da empresa a mando de seus superiores.

O pedido foi intermediado por Fernando Migliaccio, ex-executivo da empreiteira que fazia o contato com Maria Lúcia e que foi preso na Suíça.

Segundo Melo Filho, Aécio ainda teria intermediado um pagamento de R$ 1 milhão para o senador José Agripino Maia (DEM-RN), que ganhou os apelidos de “gripado” e “pino”.

 

Ministro. O codinome “Kafta” consta em relatório da PF referente à 23.ª fase da Lava Jato, batizada de Acarajé. Em planilha encontrada nesta fase, há registro de cinco pagamentos ao codinome “Kafta”, de R$ 500 mil cada, dois registrados no mês de outubro de 2014 e três em novembro de 2014.

A assessoria do PSDB mineiro afirmou que R$ 15 milhões foi o total doado pela Odebrecht à campanha do partido em 2014, que o valor foi registrado no TSE e que Aécio “desconhece supostas citações em planilhas da empresa”. A assessoria de Kassab não se manifestou até a conclusão desta edição. Agripino Maia afirmou que a delação não provoca efeitos negativos para ele ou para o partido e que a doação ocorreu de forma voluntária. / COLABOROU LÍGIA FORMENTI

 

Repasses

R$ 15 mi é o valor dado a ‘Mineirinho’, segundo planilhas da Odebrecht

R$ 2,5 mi teriam sido repassados a ‘Kafta

 

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Repasses de R$ 75 mi e 50 políticos no anexo

 

O anexo da delação de Cláudio Melo Filho traz menções, em 82 páginas, a ministros de Estado e parlamentares. No total, cerca de 50 políticos são citados pelo executivo, que é ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht em Brasília. Na lista de nomes mencionados, além do presidente da República, Michel Temer, e dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o executivo cita 3 ministros de Estado, 1 secretário do núcleo duro do governo, ao menos 7 ex-ministros, além de senadores, deputados, ex-parlamentares e assessores.

Todos os pagamentos citados na delação contabilizam pouco mais de R$ 75 milhões de reais em repasses para agentes políticos.

Há relatos de doação oficial para campanha política e outros pagamentos não contabilizados perante a Justiça Eleitoral. Na delação, o executivo detalha pagamentos feitos a partir do Setor de Operações Estruturadas da Empresa, conhecido como departamento de propina.

“O propósito da empresa, assim, era manter uma relação frequente de concessões financeiras e pedidos de apoio com esses políticos, em típica situação de privatização indevida de agentes políticos em favor de interesses empresariais nem sempre republicanos”, afirma o ex-executivo no anexo entregue ao Ministério Público Federal.

O ex-executivo relata pagamentos a parlamentares para aprovação de medidas provisórios e projetos de lei principalmente de temas tributários. Nesse contexto, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) era considerado o patrocinador da agenda legislativa da Odebrecht no Congresso. O delator relaciona ao menos 14 projetos e medidas provisórias de interesse da empresa que foram objeto de discussão com o parlamentar e eventual repasse financeiro para atender interesses da empresa.

As informações de todos os delatores da Odebrecht precisam ser formalmente colhidas em depoimento e depois validadas pelo Supremo Tribunal Federal, em homologação pelo ministro Teori Zavascki.

Além de Melo Filho, outros dois executivos exerciam a função de “relações institucionais”, cargo responsáveis pelo lobby da empresa em Brasília. Apesar disso, ele relatou que cada braço do grupo Odebrecht tinha suas próprias articulações. Na delação, o ex-executivo cita ao menos oito empresas do grupo que mantinham contato com parlamentares separadamente. Entre elas, a petroquímica Braskem.

 

Concessões

“o propósito da empresas, assim, era manter uma relação frequente de concessões financeiras e pedidos de apoio com esses políticos”

Cláudio Melo Filho

EX- EXECUTIVO DA ODEBRECHT