Título: O interior vai às compras
Autor: Ana Carolina Dinardo; Fábio Monteiro
Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2011, Economia, p. 18

Competição intensa e terrenos valorizados nos grandes centros incentivam a abertura de shoppings nas cidades menores. Investimentos criam empregos e mudam a vida da população

Especial para o Correio

O tempo passa, as gerações mudam e os shopping centers continuam sendo a principal opção de compras e de lazer de muitos brasileiros. A facilidade e a variedade de bens e serviços disponíveis em um mesmo local permitem a realização de várias tarefas quase simultaneamente, o que torna os centros atrativos para os consumidores. E os empresários estão apostando alto no setor. Só que, desta vez, o alvo são as cidades do interior do Brasil. Os investimentos que estão sendo realizados giram em torno de R$ 6,78 bilhões e vão inaugurar, até 2013, 20 mil postos de trabalho, segundo as empreendedoras e administradoras de shoppings.

Segundo dados da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shoppings), dos quase 129 projetos em construção no país, 55% estão no interior — uma inversão quase completa da proporção de 20 anos atrás, quando 70% dos empreendimentos estavam em grandes centros urbanos. "Com a intensa competição e os terrenos cada vez mais valorizados nas cidades maiores, o interior do Brasil passa a ser uma opção atrativa para os empresários", avalia o presidente da entidade, Nabil Sahyoun.

Além de interessante para os negócios, a interiorização dos investimentos contribui para aumentar a renda e o emprego nas cidades beneficiadas. Fábio Estevam Gomes, 29 anos, conseguiu há um ano e meio uma vaga de ferramenteiro e já espera ser efetivado na empresa que administra a obra do shopping de Águas Lindas de Goiás, cidade do Entorno de Brasília, e espera ocupar uma vaga de auxiliar de almoxarifado dentro de três meses. "Se for promovido, meu salário vai dobrar", afirma. "Minha vida vai melhorar bastante e, quando a obra terminar, poderei passear lá com meus filhos. E o melhor, não vou precisar sair da minha cidade."

Desenvolvimento Evandro José da Silva, 38 anos, também morador de Águas Lindas, diz que ficou empolgado quando soube que a cidade ganharia um shopping center. "A população vai ser muito beneficiada. Vamos ter oportunidades de emprego e, com dinheiro no bolso, os moradores poderão ir às compras", afirma. Dona de uma lanchonete, Marli Marques Dias, 64 anos, mora próximo à área onde está sendo construído o empreendimento e diz que pretende se exercitar fazendo caminhadas até as lojas. "Estou ansiosa para a inauguração. Quero também levar meus netos para passear e comprar muitos presentes para eles."

Instalado às margens da BR-070, em um terreno de mais de 80 mil metros quadrados, o Águas Lindas Shopping beneficiará mais de 800 mil habitantes da cidade e de outras localidades, como Santo Antônio do Descoberto e Brazlândia. Segundo a Terral Shopping Centers, responsável pela obra, serão investidos R$ 30 milhões até a inauguração, prevista para o primeiro semestre de 2012. A expectativa da Terral é que sejam abertos 1.500 empregos direitos e 4.500 indiretos.

O primeiro shopping de Luziânia, outra cidade goiana próxima a Brasília, deverá ser inaugurado em abril do próximo ano. Situado em uma área de 40 mil metros quadrados e com investimento de R$ 56 milhões, o Luziânia Shopping vai acoplar um residencial com 33 andares e 160 apartamentos. "É o maior empreendimento da cidade. Ele deve movimentar cerca de R$ 9 milhões por mês, além de marcar uma nova fase do desenvolvimento do município", explica Vantuil Guimarães Junior, diretor da Suporte Engenharia, encarregada da obra.

Em Águas Claras, cidade do Distrito Federal, o Vittrinni Shopping, além de dois pavimentos para as lojas, áreas de alimentação e de lazer, terá também três torres residenciais com 750 apartamentos. Ao contrário do que normalmente acontece em empreendimentos desse tipo, as lojas não serão alugadas, mas vendidas, o que, segundo o gerente de operações, Ricardo Cerqueira, permitirá que o lojista possa mudar de produto ou serviço livremente. Ele acrescenta que o comércio local não é suficiente para atender à demanda dos consumidores. "A ideia é trazer o mercado para mais perto dos moradores de Águas Claras." A responsável pela obra, a Emarki Engenharia, está investindo R$ 45 milhões no negócio.