Título: Delegacias cheias e paciência
Autor: Puljiz, Mara
Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2011, Cidades, p. 35

Operação-padrão e movimento intenso na volta dos policiais civis ao trabalho provocam lentidão no atendimento à população

» O primeiro dia após o fim da greve dos policiais civis do Distrito Federal ficou marcado pelo movimento intenso nas delegacias e pela demora no atendimento. Os agentes registraram as ocorrências, mas muita gente esperou mais de uma hora. A categoria retornou às atividades após determinação da direção-geral e decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que considerou o movimento ilegal. Diante da pressão e da ameaça de terem o ponto cortado, os servidores voltaram ao trabalho, mas seguiram a cartilha da operação-padrão. Com isso, os policiais se sentiram desobrigados a cumprir certas funções, como recolher corpos de morte natural e realizar serviços além das atribuições regimentais. Por exemplo, escoltar presos com menos de três agentes. "O efetivo da Polícia Civil é o mesmo desde 1993. Antes, a gente fazia vários trabalhos além da nossa competência e arriscava as nossas vidas para dar conta de tudo. Essa operação-padrão é uma resposta ao descaso do governo conosco", disse um policial, que preferiu anonimato. Haverá, assim, lentidão no atendimento ao público e nas investigações.

Na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia), pelo menos 10 pessoas aguardavam atendimento por volta das 12h de ontem. Foi o caso da aposentada Maria Lima dos Santos, 68 anos. Ela esperou por cerca de uma hora para registrar um crime sofrido na porta de um banco da QR 408, em Samambaia. "Duas mulheres me enganaram. Uma deixou a carteira cair e, quando eu peguei para devolver, ela me ofereceu uma recompensa de R$ 100. Fui num local que ela disse para eu receber, mas, para entrar, eu tinha que deixar a minha bolsa. Quando eu voltei, elas tinham fugido", contou.

Sem delegado Na 15ª DP (Ceilândia Centro), apenas dois agentes realizaram, no fim do manhã, o atendimento no balcão da unidade policial. O local estava sem delegado. Às 11h15, oito pessoas aguardavam para fazer uma denúncia. A técnica em enfermagem Cleide Ribeiro, 33 anos, chegou às 11h20, acompanhada do primo Guilherme Alves, 26, mas eles só deixaram o local às 13h e sem a ocorrência em mãos. "Falaram para eu voltar na segunda-feira para pegar o registro, porque não tinha delegado para assinar o documento", reclamou.

Cleide teve as rodas do carro furtadas no último dia 21, por volta das 20h30 no centro de Ceilândia. Teve um prejuízo estimado em R$ 1,4 mil. "Tentei registrar pela internet, mas o sistema não estava homologando. O meu carro está na seguradora, mas, para eles resolverem o problema, só mesmo com o boletim de ocorrência na mão", disse.

A técnica em enfermagem não foi a única da família vítima da criminalidade durante a greve dos agentes de polícia. Dois dias após o furto das rodas, o sogro dela teve o estepe furtado, na Guariroba, em Ceilândia. "Os bandidos aproveitaram para roubar mesmo", avaliou. Na 17ª DP (Taguatinga), as pessoas conseguiram registrar ocorrência com mais rapidez.

A greve da categoria durou 37 dias. Eles reivindicam reposição salarial de 13%, reestruturação da carreira, aumento do efetivo e plano de saúde subsidiado. Os servidores cobram o cumprimento de um acordo firmado com o Governo do DF, em abril deste ano.

Manual de operação O Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol) publicou um manual da "Operação Legalidade". Entre as determinações do documento, está a de que os agentes só realizarão investigações por ordem expressa da autoridade policial, mediante ordem de serviço. Eles também não atenderão a telefonemas nos aparelhos particulares para fim de apuração e passarão a cumprir integralmente o horário de expediente.