O Estado de São Paulo, n. 44983, 14/12/2016. Política, p. A6

Caiado sugere renúncia do presidente

Senador, líder do DEM, fala em ‘gesto maior’ e afirma que Michel Temer deve ‘ter a sensibilidade que não teve a presidente Dilma’
Por: Isabela Bonfim/ Eduardo Rodrigues / Isadora Peron

 

Isabela Bonfim

Eduardo Rodrigues

Isadora Peron / BRASÍLIA

 

Líder do DEM no Senado, um dos partidos da base aliada, o senador Ronaldo Caiado (GO) insinuou ontem que o presidente Michel Temer deveria renunciar e cogitou a realização de eleições gerais, com disputa também para os cargos do Congresso. No entendimento do senador, é preciso que o Executivo e o Legislativo verifiquem se ainda têm condições de governar e legislar ou se é necessário “um gesto maior”.

Ele se referia às delações da Odebrecht, que envolvem na Lava Jato parlamentares de vários partidos e, mais recentemente, a cúpula do PMDB e o próprio presidente. “Podemos chegar a um último fato para preservar a democracia, um gesto maior, para mostrar que ninguém governa sem apoio popular.

Nesta hora, não podemos ter medo de uma antecipação do processo eleitoral, de maneira alguma”, afirmou Caiado.

O senador negou que estivesse falando diretamente sobre uma possível renúncia de Temer, mas, em seguida, se referiu ao presidente. “Não vou fulanizar, mas acho que Temer saberá balizar este momento. Ele deve ter a sensibilidade que não teve a presidente Dilma (Rousseff).

Não é provocar as ruas e insistir em uma tese que não vai sobreviver.

Ele precisa ter noção do que está sendo feito pelo governo e o que é aceito pela população”, disse o líder.

 

‘Pessoal’. Integrantes do DEM trataram de isolar as declarações de Caiado. Em nota, o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN), afirmou que a manifestação não representa o posicionamento do partido. Líder na Câmara, Pauderney Avelino (AM) disse se tratar de opinião “pessoal” e “isolada”. “Respeito (a posição de Caiado), mas não estamos discutindo isso”, afirmou o ministro da Educação, Mendonça Filho (DEM-PE).

Mesmo após as declarações, Caiado votou a favor da PEC do Teto, aprovada ontem em segunda votação e uma das prioridades do governo. Ele disse que se mantém na base aliada de Temer e não discorda da agenda do governo, mas ponderou que medidas amargas precisam ser pactuadas com a população por meio de eleições.

 

Oposição. Senadores de oposição também pediram, oficialmente, a renúncia de Temer. “Pedimos a renúncia por falta de condições de governar. Não tratamos aqui de antecipação das eleições gerais, com as quais até concordamos. Mas, no momento, queremos focar nas eleições para o cargo de presidente”, disse o líder do PT, Humberto Costa (PE). O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) também defendeu a saída de Temer.

A estratégia da oposição é defender a realização de eleições diretas para presidente. Caso Temer seja afastado, ou renuncie, ainda em 2016, pela Constituição a população teria de ir novamente às urnas para eleger um novo chefe do Executivo federal.

Mas, se Temer for afastado a partir de 2017, a eleição se dará de forma indireta e o novo presidente será escolhido pelos deputados e senadores.

A senadora Fátima Bezerra (PT-RN) afirmou que o Congresso não teria legitimidade para realizar a eleição indireta do presidente, pois muitos parlamentares foram citados ou são alvo da da Lava Jato. “Não podemos permitir que o Congresso eleja novo presidente.”

 

‘Mosca azul’. Aliados de Temer viram a declaração de Caiado como “síndrome da mosca azul” do senador do DEM. O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) defendeu o presidente.

“Não queria intervir nesse quadro nacional, mas, me desculpem, o meu limite acabou.

Entendo que está em curso um processo para derrubar o presidente Michel Temer”, afirmou Jader na tribuna do Senado.

Seu filho, Helder Barbalho, é ministro da Integração Nacional do governo Temer.

Ontem, após evento no Planalto, jornalistas tentaram perguntar sobre uma possível renúncia, mas Temer se retirou do local em silêncio. / COLABORARAM CARLA ARAÚJO e TÂNIA MONTEIRO