Desemprego no País bate novo recorde e atinge 12,1 milhões de pessoas

Daniela Amorim

30/12/2016

 

 

Trabalho. Taxa de desocupação chegou a 11,9% no trimestre encerrado em novembro, um período em que, tradicionalmente, o nível de emprego cresce, por conta das contratações de fim de ano; projeções são de que desemprego continue subindo em 2017

 

O mercado de trabalho no País voltou a dar sinais de deterioração na reta final do ano, período em que historicamente o desemprego dá uma trégua. O País alcançou um contingente recorde de 12,132 milhões de desempregados no trimestre encerrado em novembro, e a taxa de desemprego avançou a 11,9%, também a mais alta da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Projetamos que essa tendência continue à frente, uma vez que a contração da atividade econômica ainda não teve seu impacto completo no mercado de trabalho. Este quadro reforça o encolhimento no consumo das famílias em 2016”, avaliou Thales Caramella, analista do Departamento de Pesquisa Macroeconômica do Itaú Unibanco.

Há 3,018 milhões de pessoas a mais em busca de uma vaga, um salto de 33,1% em relação a um ano antes. Ao mesmo tempo, foram fechados 1,941 milhão de postos de trabalho. A taxa de desemprego só não foi mais elevada porque 967 mil brasileiros migraram para a inatividade no período, parte deles por desalento, após tentativa frustrada de se inserir no mercado de trabalho.

Daiane Borges, de 22 anos, é gerente de uma loja de bijuterias no centro de São Paulo e vê diariamente o retrato do desemprego.

Ela conta que, além do número de currículos deixados na loja ter aumentado consideravelmente em 2016, se tornou comum ver pessoas com qualificações mais altas buscarem trabalho no comércio. “Há uns dois meses recebi currículos de uma dentista e de uma esteticista já formadas. Universitários também têm deixado muito. Aí a gente vê que está difícil mesmo”, afirma.

Há três meses, João Furtado, de 58 anos, é um dos brasileiros que está à procura de um emprego.

O marceneiro conta que nos últimos três anos trabalhou como autônomo, mas a crise fez a demanda por serviços diminuir. Vivendo de favor nos fundos da tapeçaria de um amigo, Furtado procura um trabalho fixo para conseguir também uma moradia, mas diz que a busca não está fácil.

 

Renda. A renda média de quem permaneceu empregado e a massa de salários paga aos trabalhadores mantiveram a tendência de queda, o que estimula novos cortes de vagas em áreas como a construção, comércio e serviços domésticos.

A construção extinguiu 702 mil postos de trabalho em um ano, e o comércio dispensou 178 mil empregados.

“Com o cenário de recessão no País e a política econômica no sentido de reduzir o poder de compra da população, as pessoas não vão investir na construção. Não é só comprar apartamento, é fazer uma obra, reformar a casa, pintar a parede, consertar uma porta. As pessoas não vão fazer isso”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Nos serviços domésticos, 194 mil empregados foram dispensados.

“Se a população tem o poder de compra menor, com essa perda de renda efetiva, uma das primeiras coisas que ela vai fazer é abrir mão do empregado doméstico”, explicou o coordenador do IBGE.

Em meio à persistência da crise na produção, a indústria permanece na liderança dos cortes, com 1,026 milhão de ocupados a menos no período de um ano. As demissões atingem não apenas os trabalhadores diretos, mas também os indiretos e terceirizados. O setor de informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas – que inclui alguns serviços prestados à indústria – registrou um corte de 256 mil vagas.

Faltando apenas o mês de dezembro para ser incorporado aos números do IBGE, a taxa de desemprego média no ano está em torno de 11%, ante os 8,5% registrados em 2015.

Descontado o efeito sazonal, a população ocupada subiu 0,07% em novembro ante outubro, elevação que não ocorria desde fevereiro, calculou Cosmo Donato, economista da consultoria LCA. “Isso mostra algum alento na busca de emprego, que pode estar ocorrendo por causa de uma avaliação geral de que as condições do nível de atividade não estão tão negativas quanto no passado recente”, opinou Donato.

No entanto, o avanço não pode ser considerado tendência, dado que o movimento de recuperação da economia é lento e demora a gerar efeitos positivos no mercado de trabalho. A LCA prevê que o Produto Interno Bruto avance 0,9% no próximo ano, depois de recuar 3,5% em 2016. “Neste contexto, a taxa de desemprego deve fechar 2016 perto de 11,9% e aumentará em 2017, quando encerrará o ano em 12,9%”, estimou. / COLABOROU NATHÁLIA LARGHI

 

Projeção

“Neste contexto, a taxa de desemprego deve fechar 2016 perto de 11,9% e aumentará em 2017,

quando encerrará o ano em 12,9%.”

Cosmo Donato

ECONOMISTA DA LCA

 

 

O Estado de São Paulo, n. 44999, 30/12/2016. Economia&Negócios, p. B1.