Título: O bunker político de Lula
Autor: Campbell, Ullisses
Fonte: Correio Braziliense, 27/11/2011, Política, p. 4

Em repouso pelo tratamento do câncer na laringe, o ex-presidente instrui aliados e articula de casa

São Paulo — A descoberta de um câncer na laringe e os 25 dias subsequentes de molho pelo tratamento não afastaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva das articulações políticas. Se não pode sair de casa e viajar com a mesma frequência, Lula fez do apartamento em que mora seu novo bunker político. Passou a receber os políticos em casa e distribuiu tarefas entre pessoas de confiança. Nos próximos dias, quem baterá ponto no apartamento é o ministro da Educação, Fernando Haddad, o pré-candidato do PT ungido por Lula à prefeitura de São Paulo.

Há quase um mês, o ex-presidente não despacha no Instituto Cidadania. Um motoboy costuma levar documentos importantes que dependem de sua assinatura, à casa. O petista também passa boa parte do dia articulando pelo telefone. Lula também checa e-mails e acompanha os bastidores da crise que acomete o governo Dilma. Ele não dá palpites, mas já comentou com aliados que ela não deveria demitir o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, motivada apenas por "pressão da imprensa".

Um dos aliados que mais bate ponto no apartamento de Lula é o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, virtual candidato ao governo de São Paulo em 2014. Foram quatro visitas em menos de um mês. Na última, Marinho saiu com a incumbência de colar no deputado estadual Carlos Alberto Grana, pré-candidato à prefeitura de Santo André, para que ele tenha mais visibilidade. Lula planeja montar uma espécie de república sindicalista, com todos os candidados petistas a prefeito no Grande ABC saindo dessas fileiras. O ex-presidente ainda se movimenta para influenciar a escolha de candidatos petistas em cinco prefeituras estratégicas para o partido.

Entre os políticos que já deram expediente no bunker caseiro de Lula estão o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP); a ministra do Planejamento, Míriam Belchior; o governador de Roraima, José de Anchieta; o ex-ministro do Esporte Orlando Silva; além da presidente Dilma Rousseff, que o visitou duas vezes. No próximo dia 10, o presidente da Venezuela será o próximo a conversar com Lula. Desde o início da quimioterapia, Hugo Chávez falou três vezes por telefone com o petista.