Odebrecht lucrou 4 vezes valor de propina

Jamil Chade

28/12/2016

 

 

Para cada US$ 1 milhão pago a agentes públicos, empresa obtinha US$ 4 milhões em contratos, afirma Ministério Público do país europeu

 

O Ministério Público da Suíça divulgou ontem documentos que indicam a corrupção como um negócio lucrativo para a Odebrecht. Segundo as investigações, para cada US$ 1 milhão pago em propinas a políticos e a outros agentes públicos, a empresa lucrava US$ 4 milhões com contratos que lhe eram direcionados por aqueles que recebiam os pagamentos.

A mesma investigação aponta ainda que as contas secretas mantidas pela construtora na Suíça financiaram de forma “regular” campanhas políticas, partidos ou políticos no Brasil, inclusive ministros. As revelações fazem parte dos documentos do Ministério Público suíço que foram usados como base para multar a empresa brasileira.

De acordo com as investigações, pelo menos 66,5 milhões de francos suíços (cerca de R$ 210 milhões) foram pagos em propinas a ex-diretores de estatais e outros funcionários públicos no Brasil a partir das contas no país alpino.

Na semana passada, a Suíça anunciou uma multa de US$ 200 milhões contra a Odebrecht, como parte dos acordos de leniência fechados pela construtora no Brasil, que também incluem os Estados Unidos Nos documentos divulgados pelo MP suíço, os nomes dos beneficiários dos repasses feitos pela empresa foram mantidos em sigilo, já que as investigações continuam. Mas o Ministério Público confirma que foram feitos “pagamentos em contas suíças para o financiamento de campanhas políticas no Brasil e em outros lugares”.

Campanhas. Sem citar nomes, os documentos suíços também revelam como os investigadores chegaram à constatação de que os pagamentos estavam relacionados a pessoas que “fizeram seus nomes com a organização de campanhas políticas”.

Na Suíça, contas do marqueteiro João Santana – responsável pelas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014) – estão bloqueadas.

Para os suíços, a direção da Odebrecht tinha “conhecimento do estabelecimento e alocação de fundos de caixa 2, a camuflagem dos fluxos de dinheiro por meio de transações transnacionais desses recursos dentro desse caixa 2, assim como seu objetivo”.

Para o procurador-geral, “isso consiste em direcionar propinas e outros pagamentos ilegais para funcionários públicos no Brasil, Panamá e provavelmente em outros países”.

No total, a Suíça investigou mais de 300 transações bancárias, com o envolvimento de intermediários, funcionários públicos e outros suspeitos. A constatação foi de que aproximadamente 440 milhões de francos suíços das subsidiárias da Odebrecht passaram pelos bancos suíços entre 21 de dezembro de 2005 e junho de 2014. Ao todo, o sistema criado pela Odebrecht em todo o mundo movimentou de forma ilegal US$ 635 milhões.

“Pagamentos de propinas eram direcionados em grande parte para tomadores de decisões nos governos, envolvendo contratos de licitação e contribuições para partidos políticos e políticos”, afirmou o MP.

Além disso, segundo a investigação, houve um “acordo regular para alocar certa parte desses recursos para certos políticos ou partidos políticos”. “Esses pagamentos eram feitos a partir de caixa 2”, disse o MP.

Defesa. Por meio de nota, a empresa disse que não se manifestaria sobre o assunto. “A Odebrecht não se manifesta sobre o tema, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça. A empresa está implantando as melhores práticas de compliance, baseadas na ética, transparência e integridade.”

 

Repasses

R$ 210 mi é o valor que a Odebrecht pagou em propinas a políticos e outros agentes públicos do Brasil a partir de contas mantidas em bancos da Suíça, segundo o Ministério Público do país europeu. Ao todo, o sistema criado pela empresa movimentou de forma ilegal US$ 635 milhões.

 

 

O Estado de São Paulo, n. 44997, 28/12/2016. Política, p. A6.