Sinal de alerta para a febre amarela em MG

10/01/2017

 

 

SAÚDE » Ministério notificou a Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre 14 mortes que estão sendo investigadas no Estado, de um total de 23 casos suspeitos em 10 municípios mineiros; desse total 16 são apontados como prováveis e sete estão sendo apurados

 

O aumento de casos suspeitos de febre amarela em Minas Gerais fez com que o Ministério da Saúde notificasse a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já são 14 mortes sob investigação de um total de 23 casos sob suspeita em dez municípios. Desse total de casos sob suspeita, 16 são apontados como prováveis e sete estão sob investigação.

O ministério apura a possibilidade dos casos estarem associados a outras doenças que apresentem febre hemorrágica, como dengue, leptospirose, hepatite viral, entre outras. Em nota, o Ministério da Saúde informa que disponibilizou técnicos para acompanhar e auxiliar o estado e os municípios na investigação dos casos. E que será iniciada a vacinação casa a casa nos locais onde há registros, preferencialmente na área rural.

Pedro Tauil, doutor em medicina tropical e professor da UnB, lembra que “a doença não tem tratamento e é uma infecção gravíssima”. Ele comenta ainda que “a preocupação das autoridades sanitárias é evitar o retorno da forma urbana da doença, feita por meio da transmissão do Aedes aegypti”. O professor considera essa hipótese mais remota porque “registramos poucos casos de febre amarela, se considerarmos casos de dengue, chikungunhya e zika”. Mas adverte que “é possível, sim, uma reurbanização da doença, mas acredito que seja difícil acontecer atualmente no país”. O último caso registrado de febre amarela urbana no Brasil ocorreu no Acre, em 1942, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

A infecção se instala quando uma pessoa que nunca tenha contraído a febre amarela ou tomado a vacina contra a doença é picada por um mosquito infectado. Ao contrair a doença, a pessoa pode se tornar fonte de infecção para o Aedes aegypti no meio urbano. Ou seja, o mosquito infectado pica uma pessoa sã. Além do homem, a infecção pelo vírus também pode acometer outros animais. Entre eles, macacos — que podem ter a doença sem sintomas, mas com quantidade de vírus suficiente para infectar mosquitos. Uma pessoa não transmite a doença diretamente para outra.

 

Histórico

Ano passado, foram registrados seis casos de febre amarela no país, com cinco mortes. Os óbitos ocorreram nas cidades goianas de Senador Canedo, São Luiz de Montes Belos, Goiânia, e nas cidades paulistas Bady Bassit e Ribeirão Preto, e em Manacapuru, no Amazonas. A confirmação mais recente foi do caso de Ribeirão Preto. O ciclo silvestre de transmissão do vírus de febre amarela se estabelece com primatas não humanos e mosquitos. “Quando a ocorrência em animais é identificada, há um alerta para se reforçar as medidas de proteção entre humanos, por meio da vacinação. E desenvolvemos um estudo com o primata que morreu, para identificar a causa do falecimento”, comenta o professor Pedro Tauil.

No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde informou que não há registros da doença desde 2015. A cobertura de vacinação para menores de um ano, até outubro de 2016, atingiu 81,9% das crianças nessa faixa etária. A vacina está disponível em todas as Unidades Básicas de Saúde e é aplicada a partir dos nove meses.

 

Duas doses

A OMS recomenda a aplicação de uma dose contra a febre amarela durante a vida. No Brasil, no entanto, a indicação é de que sejam duas doses aplicadas com intervalo de dez anos. A vacina é ofertada no Calendário Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) mensalmente, para todo o país. Em 2016, foram repassados aos estados mais de 16 milhões de doses. Para Minas, foram mais de 3 milhões. O ministério irá encaminhar outras 285 mil doses ao estado, que possui estoque de 280 mil doses.

Cerca de 20 a 50% das pessoas com a forma grave da doença podem morrer. A febre amarela provoca calafrios, dor de cabeça, dores nas costas e no corpo, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Em casos graves, causa insuficiência hepática e renal, coloração amarelada da pele e do branco dos olhos, hemorragia e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos.

 

Últimos registros no Brasil

2015

6 casos, com 5 mortes em GO, SP E AM

 

2016

23 casos suspeitos em MG, com 14 mortes sob investigação

 

Norte paulista em alerta

As mortes de duas pessoas e de macacos contaminados pela febre amarela puseram em alerta as regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, no norte do estado de São Paulo. Os estoques de vacina foram reforçados e, nos postos dos dois municípios, a vacinação foi antecipada para crianças dos nove para os seis meses. Em Ribeirão Preto, um homem de 52 anos morreu, no dia 26 de dezembro, com sintomas da doença e, na semana passada, o Instituto Adolfo Lutz confirmou o óbito causado pela virose. Em abril de 2016, outro paciente de 38 anos morreu em Bady Bassit, região de Rio Preto, também contaminado pelo vírus. Nos dois casos, as vítimas estiveram em áreas de matas com presença de macacos e pegaram a forma silvestre da doença. Em 11 cidades dessas regiões, desde o ano passado, foram recolhidos 17 primatas mortos e os exames confirmaram a contaminação pela febre amarela na maioria deles.

 

 

Correio braziliense, n. 19587, 10/01/2017. Brasil, p. 5.