O Estado de São Paulo, n. 45027, 27/01/2016. Política, p. A8

Dono do ‘império X’ e amigo de políticos

 
Fernanda Nunes
Mariana Durão
Mariana Sallowicz
Mônica Scaramuzzo

 

Símbolo da ascensão da economia brasileira à época em que figurou entre os dez homens mais ricos do mundo, Eike Fuhrken Batista materializava, em 2009, a euforia internacional com o Brasil expressa na capa de The Economist intitulada “O Brasil decola” e ilustrada com um Cristo Redentor disparando como um foguete.

Cortejado por governantes, o empresário, 60 anos completados em novembro, era invejado por seus negócios e contatos de sucesso no poder. Tinha acesso direto aos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, do PT, e a líderes e governadores de partidos como o PMDB e o PSDB.

Um dos amigos era o então governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), a quem Eike costumava emprestar seus jatos particulares. Essas relações garantiram acesso a financiamentos oficiais que ajudaram a turbinar sua fama de gênio dos negócios e que depois implodiria.

Figuram entre os ícones desta época “feliz” as fotos de Eike em solenidades oficiais, ao lado de poderosos. Em um evento da Petrobrás, o empresário, trajando o uniforme laranja da estatal, posou fazendo o V da vitória, com Lula e Dilma. Em 2008, elogiado publicamente pelo ex-ministro Raphael de Almeida Magalhães durante uma solenidade – que virou ato em seu desagravo porque era investigado pela Polícia Federal por supostas irregularidades no processo de concessão de uma ferrovia no Amapá –, Eike chorou.

‘Filho adotivo’. Em 2012, Eike foi chamado de “orgulho do Brasil” pela então presidente Dilma durante visita a uma de suas obras, o Porto do Açu, em São João da Barra, no norte fluminense. Considerado um megaempresário, ele foi personagem em abril daquele ano de um artigo assinado pelo então prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), na revista americana Time. No texto, Paes chama Eike de “filho adotivo” do Rio e o classifica como um dos responsáveis pelo renascimento da capital fluminense.

Forbes. Quando apareceu no ranking da Forbes como o sétimo homem mais rico do mundo, em 2012, com fortuna estimada em US$ 30 bilhões, Eike chegou a prometer que lideraria a lista. O filho de Eliezer Batista, ex-ministro e ex-presidente da Vale, apelidou sua mineradora MMX de “miniVale”.

A Lula, em 2009, apresentou detalhes do Porto do Açu, que deveria ser um dos maiores complexos portuários da América Latina. Eike obteve financiamento de R$ 10,4 bilhões no BNDES, mas nem tudo foi liberado porque muitos projetos foram interrompidos.

A derrocada começou quando as promessas sobre o desempenho das empresas do grupo EBX feitas a investidores não foram cumpridas. As ações das companhias do grupo derreteram e chegaram a ser negociadas por centavos. Quatro das seis empresas fundadas por Eike com ações na Bolsa entraram em recuperação judicial.

‘X’. Nas negociações com credores, ele entregou participações nas companhias e viu três serem rebatizadas sem o “X” que carregavam como marca do supersticioso empresário, por simbolizar multiplicação.

Os problemas de Eike chegaram à esfera criminal em 2014. O ex-bilionário tem pendências na Justiça, entre elas por uso de informação privilegiada e manipulação de mercado. Ainda em 2014, Eike convocou a imprensa para um “desabafo” após um ano e meio calado. Disse ter patrimônio negativo de US$ 1 bilhão.

Pelo menos até o fim do ano passado, Eike dava expediente num prédio comercial na Praia do Flamengo, zona sul do Rio. No ápice, a holding EBX chegou a abrigar 400 funcionários. Hoje, se resume a cerca de 20 pessoas, incluindo o filho Thor, de 25 anos.

Atualmente, uma de suas apostas é o lançamento de um creme dental. Mas a que mais se aproxima de seus antigos projetos é um corredor logístico que prevê o transporte de cargas da Argentina ao Chile, transpondo os Andes.

 

FORTUNA

Em 2012, o empresário Eike Batista apareceu em 7º lugar no ranking dos mais ricos do mundo da revista Forbes

HOJE, A FORTUNA DE EIKE É ESTIMADA ENTRE R$ 200 MILHÕES E R$ 400 MILHÕES

 

 

ALTOS E BAIXOS

- ‘O marido da Luma’

Em 1998, a então rainha de bateria da Tradição, Luma de Oliveira usou um adorno durante o desfile da escola de samba no Rio que chamou a atenção: uma gargantilha com o nome Eike escrito. O empresário passou então a ser conhecido como “o marido da Luma”. O casal se separou em 2004.

- Museu

Em 2008, Aécio Neves (PSDB), então governador de Minas Gerais, lançou o projeto do Museu das Minas e do Metal, em Belo Horizonte. A obra, orçada em R$ 20 milhões, foi financiada pelo Grupo EBX, do empresário Eike Batista, que participa da solenidade de lançamento do projeto, em março daquele ano.

- Porto do Açú

O megaprojeto da LLX, que prevê a construção de um mineroduto para transportar minério de ferro de Minas até o Porto do Açu, em São João da Barra, no Rio, começou a sair do papel em 2008. “Avisei ao governador Sérgio Cabral para marcar data para o presidente Lula e a ministra Dilma virem inaugurar o porto”, disse.

- Governos petistas

A Lula, em 2009, apresentou detalhes do Porto do Açu, que deveria ser um dos maiores complexos portuários da América Latina. Eike obteve financiamento de R$ 10,4 bilhões no BNDES. Em 2012, o empresário foi chamado de “orgulho do Brasil” pela então presidente Dilma durante visita à obra do Porto do Açu.

- Derrocada

Três anos após a derrocada do Grupo X, o antigo império integrado de infraestrutura e commodities de Eike Batista foi loteado. Uma parte dos ativos, em 2016, acabou nas mãos de investidores estrangeiros.

- Lava Jato

Alvo da Operação Arquivo X, 34ª etapa da Lava Jato, deflagrada no ano passado, Eike Batista declarou que recebeu pedido do ex-ministro e ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobrás Guido Mantega para que fizesse um pagamento de R$ 5 milhões, no interesse do PT. Mantega foi preso logo depois.

- Operação Eficiência

Ontem, Eike Batista teve a prisão decretada sob suspeita de ter pago propina ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB). O empresário teria repassado US$ 16,5 milhões ao peemedebista a título de propina, segundo os investigadores. Fora do País, Eike é considerado como foragido.

 

REPERCUSSÃO INTERNACIONAL

- The New York Times

O jornal americano destaca que o empresário Eike Batista, que já foi “o homem mais rico do Brasil”, está envolvido em uma investigação de corrupção. A reportagem diz que o pedido de prisão é uma nova fase na ruína de Eike.

- The Guardian

A publicação britânica salienta que, em 2011, Eike Batista foi listado pela revista Forbes como uma das oito pessoas mais ricas do mundo, e, dois anos depois, sua fortuna se desintegrou devido a dividas de suas empresas.

- Clarín

O jornal argentino cita que Eike Batista, chamado na reportagem de “magnata brasileiro”, é acusado de ter pago propina de US$ 16,5 milhões do ex-governador do Rio Sérgio Cabral por uma obra que nunca foi feita.

- El País

A publicação espanhola aponta que Eike e Cabral mantinham uma “relação estreita”, citando os contratos do empresário com o governo do Rio e os voos do ex-governador e sua mulher em aeronaves do empresário.

- The Wall Street Journal

O jornal americano especializado na área de negócios informa que o empresário Eike Batista seria considerado formalmente um fugitivo pelas autoridades brasileiras caso ele não retornasse ao País até o fim do dia.

- Financial Times

A publicação britânica, focada em notícias econômicas, destaca que, pela falta de diploma universitário, o ex-bilionário corre o risco de ficar preso ao lado de criminosos comuns no “violento sistema prisional do Brasil”.