Título: Incentivo ao crédito
Autor: Caprioli, Gabriel; Batista, Vera
Fonte: Correio Braziliense, 01/12/2011, Economia, p. 12

Para garantir um Natal gordo e o crescimento do país, a Fazenda vai rever limitações ao consumo. A redução do IOF é uma hipótese

» » Às vésperas das comemorações de fim de ano, o governo vai afrouxar as medidas de contenção de crédito e consumo, adotadas em 2011, na tentativa de incentivar a economia e garantir algum crescimento no primeiro trimestre de 2012. Ontem, o ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, Fernando Pimentel, reforçou que a equipe econômica de Dilma Rousseff anunciará, "no máximo até a semana que vem", o desmonte de parte do aparato usado para segurar a concessão de financiamentos e a inflação. Apesar de não dar detalhes, Pimentel destacou que as discussões na Fazenda têm mais a ver com crédito. "Vamos levantar um pouco as restrições que tinham sido feitas no início do ano, as tais medidas macroprudenciais", sinalizou.

O governo não tem muitas alternativas. Os instrumentos que podem ser usados, na avaliação dos economistas, são a redução da exigência de depósitos compulsórios dos bancos e o corte na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para o financiamento de pessoas físicas, de 3% para 1,5%. A primeira opção liberará mais fundos para que as instituições financeiras emprestem dinheiro a seus clientes. A segunda medida tornará os empréstimos mais baratos.

Para o mercado, o afrouxamento do crédito é necessário porque, sozinha, a queda da taxa básica de juros (Selic) tem impacto mínimo nas taxas ao consumidor. "A verdade é que o controle de demanda só pelos juros é coisa do passado. É muito mais eficaz liberar os compulsórios para incentivar o consumo", ponderou Carlos Henrique de Oliveira, consultor de investimentos da Corretora Gradual em Brasília. Cálculo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que a queda de 0,50 ponto percentual para 11% ao ano tem um efeito quase imperceptível. Os juros no comércio, por exemplo, caem de 5,44% para 5,40% ao mês, enquanto a tarifa do cheque especial passa de 8,21% para 8,17% ao mês (veja quadro).

Esfriamento Os depósitos compulsórios em poder do Banco Central acumulavam, até outubro, mais de R$ 440 bilhões, quase o dobro do que existia em 2008, após o estouro da crise financeira internacional. Mesmo que não devolva parte desses recursos aos bancos, a simples redução do percentual de depósitos deixa mais dinheiro à disposição da economia. Outras medidas que podem ser revistas, segundo as indicações de Pimentel, são o alongamento de prazos e a reclassificação de consumidores por categoria de crédito.

O possível recuo nas medidas restritivas animou empresários. Para Ingo Plöger, presidente do Instituto de Desenvolvimento Empresarial (IP) e da Companhia Melhoramentos, o governo está no caminho certo. "Quando a liquidação se torna inevitável, o comércio deixa de repor o estoque", disse. Josué Christiano Gomes, presidente da Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), também elogiou a "demonstração de capacidade de gerenciamento do governo" e criticou o comportamento do mercado financeiro, que, a seu ver, não soube avaliar as medidas iniciais de contenção do consumo.

Vamos levantar um pouco as restrições que tinham sido feitas no início do ano, as tais medidas macroprudenciais"

Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior

Efeito mínimo

A redução da taxa Selic em 0,5 ponto percentual tem efeito pequeno sobre os encargos cobrados dos consumidores nas operações de crédito

Linhas de Crédito Selic de 11,50% ao ano Selic de 11% ao ano Juros do comércio 5,44% ao mês 5,40% ao mês Cartão de crédito 10,69% ao mês 10,65% ao mês Cheque especial 8,21% ao mês 8,17% ao mês CDC veículos 2,16% ao mês 2,12% ao mês CBC consumo 4,31% ao mês 4,27% ao mês

Fonte: Anefac