EDUARDO BRESCIANI
ANDRÉ DE SOUZA
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-BRASÍLIA-
B ase da operação que tem como alvo o ex-ministro Geddel Vieira Lima, conversas extraídas de um celular de Eduardo Cunha mostram uma relação intensa entre os dois no ano de 2012. O celular, segundo a PF, estava inativo e foi apreendido em dezembro de 2015 na residência oficial da Câmara. Em uma conversa, Geddel brinca com Cunha, quando questionado por ele sobre um negócio relativo à empresa J&F Investimentos, holding que controla a JBS/Friboi.
“Ta resolvido Ta na pauta do CD (Conselho Deliberativo) de terça. Vc tá pensando que eu sou esses Ministros q vc indicou? Abs (sic)”, escreveu Geddel, em 29 de agosto de 2012.
Cunha respondeu a mensagem com “Ok. rsrsrs”
As conversas relativas a esta operação têm um diálogo curioso de Cunha com o doleiro Lúcio Funaro, operador do esquema. Funaro reclamou quando o ex-presidente da Câmara lhe perguntou sobre um repasse para Geddel.
“Jf geddel ta creditando hj nem fui lá esse cara acha que tenho uma impressora (sic)”, reclamou o doleiro em mensagem enviada a Eduardo Cunha em 11 de setembro de 2012.
Cunha, porém, deu razão a Geddel em sua resposta:
“Ja ta creditado. É que tem que rodar meu filho (sic)”.
Segundo a investigação, Geddel cobrava o pagamento de propina por empréstimos feitos pela Caixa à J&F. Em uma das mensagens, enviada para Cunha em 31 de agosto de 2012, Geddel relata que seriam aprovadas na semana seguinte duas operações para a empresa, de R$ 767 milhões e de R$ 194 milhões. Em 4 de setembro, o então vice-presidente da Caixa avisa a Cunha que os recursos foram aprovados e, no dia 11, informa que o dinheiro foi repassado. A J&F disse, em nota, que nunca procurou políticos para pedir que intermediassem suas operações financeiras.
Há também debate pormenorizado de assuntos internos da Caixa. Geddel dá detalhes ao deputado até sobre a taxa de juros de um financiamento em negociação com a empresa BR Vias, do grupo Constantino. Geddel explica que, no início da negociação, a taxa de juros seria de 2,2% porque acreditava-se que a empresa teria uma boa classificação de risco (nível B). Mas a área de análise de risco elevou a taxa para 4,4%. Geddel diz a Cunha que poderia “bancar” uma taxa de 3% a 3,3% e pede para Cunha consultar a empresa.
“Passo-lhe a informação para que converse, mostre seu interesse, etc e tal. Se eles toparem, segunda-feira recursos estarão disponíveis. Duvidas me ligue (sic)”, escreveu Geddel para Cunha, em 17 de maio de 2012.