Título: Jogo duro com o FMI
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2011, Economia, p. 11
SÍLVIO RIBAS
O governo brasileiro condicionou qualquer transferência de dinheiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para cooperar no socorro a países atingidos pela crise da Zona do Euro a uma ação equivalente e prévia dos próprios europeus, seguindo critérios acertados com outros grandes emergentes. "Não colocaremos recursos no resgate de europeus sem que eles próprios coloquem os deles", disse ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, logo após se reunir com a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde.
Mantega adiantou que não há previsão da quantia a ser destinada ao FMI, questão que será avaliada com os demais membros do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul). Uma definição deve sair em fevereiro de 2012, no México, no encontro dos ministros de Finanças do G-20, grupo das 20 maiores economias do planeta. "Até lá, esperamos avanços, além da colaboração de mais países, como os Estados Unidos e os da Europa, nesse reforço de caixa ao FMI, além de progressos na reforma das quotas do Fundo iniciada em 2009", acrescentou.
O ministro avaliou que o FMI está mais preparado hoje para enfrentar a crise mundial do que estava em 2008, "mas ainda precisa se fortalecer mais para enfrentar o atual cenário". Na sua opinião, o quadro da Zona do Euro piora dia após dia, complicação que se tornou mais clara com a escassez de crédito internacional já verificada em lugares como o Reino Unido e com a fuga de capitais de países emergentes.
"A União Europeia tem instrumentos para evitar o pior, como os do Banco Central Europeu (BCE) para resgatar títulos da Itália e da Espanha. Mas a região está demorando muito a agir", lamentou.
Em visita oficial à América Latina, Lagarde ressaltou que está confiante num aporte brasileiro, até porque o país não está imune à crise global, apesar de ter uma economia "robusta", em suas palavras. "À medida que se altera o equilíbrio do poder econômico, os emergentes passam a desempenhar papel de destaque na solução dos problemas mundiais", declarou. Ela também reconheceu a legitimidade da cobrança do Palácio do Planalto por reformas na estrutura de poder da instituição. "Trata-se de contribuição inestimável do Brasil para tornar o FMI mais representativo e eficaz."
Antes da reunião com o ministro, Lagarde se encontrou por cerca de uma hora com a presidente Dilma Rousseff. Elas também trataram dos efeitos da crise econômica internacional.