Título: Caixa libera R$ 5 bilhões
Autor: Caprioli, Gabriel; Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2011, Economia, p. 10

O governo está usando os bancos públicos para alimentar a concorrência no sistema financeiro e forçar as instituições privadas a reduzir juros e impulsionar o consumo. Ontem, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal acompanharam o movimento de corte na taxa básica de juros (Selic) e diminuíram o custo dos seus financiamentos e empréstimos. Por ordem do Ministério da Fazenda, a Caixa criou ainda um pacote de crédito para turismo, veículos e produtos de linha branca, como geladeiras e fogões. A nova linha terá R$ 5 bilhões em condições especiais.

A exemplo do que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, fez em 2008, a presidente Dilma Rousseff quer que os bancos públicos turbinem o crédito para amenizar os efeitos internos da crise mundial. "A gente percebe que a economia dá claros sinais de desaceleração, e esse tipo de medida é uma reação à possibilidade de recessão lá fora", observou Gilberto Carvalho, professor de economia do Ibmec. "O governo está usando os bancos públicos como indutores desse processo. Está acelerando o corte nos juros e obrigando a concorrência a reagir." O Itaú Unibanco foi uma das primeiras instituições privadas a ceder à pressão e, ontem, baixou as taxas para as famílias e pequenas e médias empresas.

A Caixa não esconde a estratégia do governo de forçar a concorrência e o consumo usando a carteira de crédito da instituição e assume que a nova linha de empréstimos é parte do pacote de estímulos anunciado ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "O governo lançou uma série de medidas e nosso pacote vai ao encontro delas. Temos também acompanhado os cortes na Selic e repassado para nossos produtos", frisou Édilo Ricardo Valadares, diretor do Departamento de Pessoa Física do banco.

Cautela Segundo Valadares, o limite do empréstimo vai variar de acordo com a capacidade de pagamento de cada pessoa. No caso dos produtos da linha branca, os prazos podem chegar a 24 meses. Quem não é cliente da Caixa poderá ter acesso aos recursos nas mais de 4,8 mil lojas conveniadas. O economista Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, observa com cautela o movimento do governo e pondera que é preciso cuidado com as medidas de estímulo. "O problema é quando tiver de revertê-las. Pode haver muita pressão inflacionária", alertou.