Título: Brasileiros vivem cada vez mais
Autor: Mariz, Renata; Gama, Júnia
Fonte: Correio Braziliense, 02/12/2011, Brasil, p. 7

Segundo o IBGE, de 2009 para 2010, a expectativa de vida no país cresceu quase quatro meses. O estudo indica também que as mulheres vivem em média oito anos além dos homens. O envelhecimento rápido torna urgente investimento em ações voltadas aos idosos

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Em apenas um ano, entre 2009 e 2010, a expectativa de vida do brasileiro subiu de 73,17 para 73,48 — um acréscimo de três meses e 22 dias. Dentro do país, entretanto, as disparidades são enormes. Enquanto Alagoas amarga uma média de esperança de viver de 68 anos, pouco superior ao índice nacional em 1991, o Distrito Federal se mantém no topo do ranking do envelhecimento, com 76 anos. A marca coloca a capital federal no mesmo nível de nações reconhecidamente longevas, como o Uruguai e a Albânia. A boa-nova, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), deve ser compreendida como um alerta para as necessidades da terceira idade, que hoje já representa cerca de 10% da população, segundo especialistas.

"Temos que comemorar, mas também nos preparar para essa realidade. Mesmo porque, além do envelhecimento veloz, a baixa fecundidade atual levará a famílias menores, idosos sem filhos. Então, o autocuidado tem que ser trabalhado desde já", alerta Maria Luciana Carneiro de Barros Leite, assistente social especialista em gerontologia e vice-presidente do Conselho em Defesa dos Direitos dos Idosos no DF. Segundo ela, a falta de política pública pode transformar o acréscimo de anos vividos, para a parcela mais carente da população, em verdadeiro martírio. "As políticas precisam ser orientadas para toda a família. E não só, mas também, na área da saúde. O idoso de hoje e o de amanhã necessitam, igualmente, de ações em segurança pública, educação, sexualidade, de incentivo ao convívio intergeracional", defende.

A expectativa de vida das mulheres (77,3 anos) é consideravelmente mais elevada que a dos homens (69,7). Os óbitos violentos — como homicídios, acidentes de trânsito e afogamentos — cujas vítimas quando jovens e adultos são homens em mais de 90% dos casos, explicam o principal fator para a longevidade feminina. No Rio de Janeiro, estado cujos índices de violência se destacam, as mulheres vivem nove anos mais. Para o geriatra e professor da Universidade de Brasília Renato Maia, a displicência com a própria saúde também contribui para os índices deles serem mais modestos. "Você não vê um homem desacompanhado em uma consulta. Ele vai empurrado pela filha, pela esposa. Já a mulher se cuida, quase sempre está sozinha no médico", ressalta Maia.

A aposentada Neuza Soares, 76 anos, é um exemplo de longevidade derivada de cuidados com o bem-estar. Moradora de Brasília desde 1964, a mineira conta que seu segredo é a prática de exercícios diários, com caminhadas e exercícios no Parque Olhos D"Água, e a alimentação balanceada, "meio vegetariana". Neuza, que é mãe de uma filha e tem uma neta, conta que não toma remédios controlados e que vai ao médico periodicamente para fazer exames. As atividades físicas são apontadas como o principal fator para manter a saúde. "Se tiver algum distúrbio, o exercício conserta", conta Neuza, confessando que a vaidade ajuda: "A gente não pode se abandonar, tem que ter uma dose de vaidade".

Outra novidade trazida pelo IBGE é a redução da mortalidade infantil. A taxa no Brasil, em 2010, foi estimada em 21,64 óbitos por mil nascidos vivos, indicando redução de 28,03% ao longo da década. Mas, segundo o órgão, ainda não há detalhamento por unidade da Federação ou região.