O Estado de São Paulo, n. 45031, 31/01/2017. Política, p. A8

Empresário é levado a Bangu por segurança

 

Constança Rezende
Fernanda Nunes
Mariana Sallowicz

 

O empresário Eike Batista passou menos de duas horas na “masmorra”, como é conhecido o Presídio Ary Franco, carceragem da Polícia Federal no Rio, por causa das suas condições insalubres e da superlotação. Foi transferido para o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste, “a fim de que seja resguardada sua integridade física”.

O pedido para a transferência partiu do secretário de Administração Penitenciária (Seap), coronel Erir Ribeiro Costa Filho.

“Tal medida se faz necessária uma vez que o Presídio Ary Franco também custodia presos ligados a facções criminosas”, afirmou o secretário em ofício ao juiz Marcelo Bretas.

O Ary Franco é considerado um dos piores presídios do sistema carcerário fluminense. Tem celas subterrâneas, infestadas de ratos, baratas e morcegos.

No ano passado, o então juiz da Vara de Execuções Penais Eduardo Oberg passou 20 dias em UTI depois de contrair doença transmitida pelo fungo presente nas fezes de morcegos, após uma vistoria ao presídio.

O local tem 968 vagas e abriga 2.129 presos. A Organização das Nações Unidas e a Defensoria Pública já recomendaram o fechamento da unidade.

Eike chegou ao Ary Franco por volta das 11h40, após passar por exames no Instituto Médico- Legal. A chegada do empresário interrompeu temporariamente as visitas aos detentos.

Dois ex-detentos, que deixavam o presídio no momento em que Eike chegou, disseram que o ex-bilionário foi encaminhado a uma cela especial, sem vaso sanitário, com apenas um buraco no chão. “Não tem comida.

A gente dá duas colheradas e a comida acaba. Não tem lanche e o jantar é servido às quatro da tarde. Depois a gente passa fome”, disse Maicon Arraes, libertado após 16 dias de prisão.

 

Unidade. Eike deixou o local duas horas depois, com os cabelos raspados. Continuava abraçado ao travesseiro branco com que viajou dos Estados Unidos. De lá, seguiu para o Cadeia Pública Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9, na zona oeste.

O local havia sido esvaziado em janeiro para receber milicianos e ex-policiais militares ameaçados por traficantes no presídio Bangu 6. É das poucas unidades que não enfrentam superlotação: são 547 vagas para 424 presos. Eike ficará numa cela coletiva de 15 metros quadrados, equipada por três beliches.

A transferência contrariou o promotor André Guilherme Freitas, da Vara de Execuções Penais.

Ele disse que o Ary Franco tem galeria para presos federais, que não estaria superlotada.

A defesa de Eike pediu à Justiça que o empresário cumpra prisão domiciliar ou seja encaminhado à Superintendência da Polícia Federal, na região portuária do Rio. Os advogados alegam que o “sistema carcerário no Brasil está falido” e citam “iminente ameaça a sua vida”.

O empresário será ouvido na tarde de hoje pela PF.

 

TRANSFERÊNCIA

● Por questão de segurança, o empresário Eike Batista foi levado ontem do presídio Ary Franco, na zona norte do Rio, para a Cadeia Pública Bandeira Stampa, na zona oeste, conhecida como Bangu 9

 

PRESÍDIO

Bandeira Stampa (Bangu 9)

 

LOCALIZAÇÃO

Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste da capital fliminense

 

CAPACIDADE

547

 

LOTAÇÃO

424

123 vagas em aberto (77,5% de ocupação)

 

PRESOS

Predominantemente, ex-policiais e milicianos

 

 

PRESÍDIO

Ary Franco (Água Santa)

 

LOCALIZAÇÃO

Água Santa, na zona norte da capital fluminense

 

CAPACIDADE

968

 

LOTAÇÃO

2.129

1.161 presos além da capacidade máxima (220% de ocupação)

 

PRESOS

Criminosos comuns, ligados à facção criminosa Comando Vermelho