Uma ajuda para Eike

Antonio Temóteo

19/01/2017

 

 

CRISE NA REPÚBLICA » Troca de mensagens mostra articulação de Eduardo Cunha para liberar dinheiro à empresa do grupo EBX

 

 

O esquema de liberação de financiamentos da Caixa Econômica Federal e do Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS) para empresas em troca de propina, comandado pelo ex-deputado Eduardo Cunha e pelo ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto, não se limita às 11 empresas citadas na Operação Cui Bono. Documentos exclusivos obtidos pelo Correio apontam que Cunha e Cleto também atuaram para liberar recursos para empresas de Eike Batista.

O relatório dos investigadores da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF) mostram uma troca de mensagens do ex-deputado e do ex-vice-presidente da Caixa em 10 de abril de 2012. Na ocasião, Cunha, então líder do PMDB na Câmara, cobra de Cleto informações sobre uma operação no FI-FGTS que interessaria a Eike (veja fac-símile). “E Eike?”, perguntou o ex-presidente da Câmara dos Deputados, que está preso em Curitiba (PR). “Eike tudo bem, abordado o tema do FI”, respondeu Cleto.

Na troca de mensagens, o ex-vice-presidente da Caixa ainda detalhou que teria conversado com Eike e com o vice-presidente de relações institucionais do grupo EBX, Amaury Pires, que na verdade era diretor da companhia. “Eles entenderam, agradeceram o apoio e fiquei de ligar amanhã para informar se vai ser marcada ou não a reunião do dia 18”, relatou Cleto a Cunha.

Em sua delação premiada, Cleto detalhou que Eike pagou propina a ele e a Eduardo Cunha após o FI-FGTS aprovar a aquisição de R$ 750 milhões em debêntures da empresa LLX, braço de logística do grupo EBX. As mensagens foram extraídas do celular do ex-vice-presidente da Caixa em Brasília, durante busca e apreensão em um hotel luxuoso na capital federal, no qual Cleto morava. O aparelho, um Blackberry assim como o de Cunha, foi confiscado em 15 de dezembro de 2015, durante as investigações da Operação Catilinárias. Todas as mensagens estão em posse dos investigadores e podem servir de base para outras fases da Operação Cui Bono (que significa a quem interessa?).

Cleto também trocou diversas mensagens com Amaury Pires entre 15 de maio e 30 de junho de 2012. Na época, o então diretor do grupo EBX mostrava preocupação com as garantias que a Caixa pedia para a liberação de uma operação de interesse de Eike Batista. Em diversos trechos da conversa, ele se refere ao chefe por meio do apelido “Nº 1”. Pires pede a Cleto atas das reuniões do Comitê de Investimentos do FI-FGTS e também ajuda para que o ex-vice-presidente da Caixa interceda para liberar as operações.

A relação dos dois era de extrema proximidade, segundo as mensagens. Eram comuns os convites para almoços no Rio de Janeiro (RJ) ou em Brasília. Em uma das conversas, Pires solicita que Cleto peça ao então presidente da Caixa, Jorge Hereda, que ajude na liberação dos recursos para o grupo EBX. Pires detalhou, à época, que era necessária a construção de uma solução intermediária para reduzir as garantias exigidas para liberação do crédito.

As mensagens trocadas ainda indicam que o ex-deputado André Vargas, então vice-presidente da Câmara dos Deputados, fazia exigências, por meio do ex-vice-presidente da Caixa Marcos Vasconcelos, para liberação dos recursos. Procurados, os advogados Sergio Bermudes, Ary Bergher e Raphael Mattos, representantes de Eike Batista, não retornaram os contatos feitos pela reportagem. O advogado de Eduardo Cunha, Pedro Ivo Velloso, informou que estava fora do país e não poderia comentar o caso. As defesas de Amaury Pires, André Vargas e Marcos Vasconcelos não foram localizadas para esclarecer os fatos.

 

 

Correio braziliense, n. 19595, 19/01/2017. Política, p. 2.