O Estado de São Paulo, n. 45030, 30/01/2017. Política, p. A5

Pressionado, PT desiste de Maia e Eunício

 
Vera Rosa
Isadora Peron

 

Sob pressão dos militantes, o PT deverá desistir de apoiar as candidaturas de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara e de Eunício Oliveira (PMDB-CE) ao comando do Senado. O aval a nomes que foram a favor do impeachment da então presidente Dilma Rousseff e hoje contam com a simpatia do Planalto provocou revolta na base petista, rachou as bancadas do partido no Congresso e obrigou os defensores dessa negociação a recuarem.

Na Câmara, a tendência do PT, agora, é avalizar a candidatura de André Figueiredo (PDT-CE). Há deputados, porém, que pregam o lançamento de chapa própria, com Paulo Teixeira (SP). A disputa no Senado ocorrerá na quarta-feira e na Câmara, na quinta. A posição oficial do PT, no entanto, somente será anunciada amanhã.

A ala pragmática acha que a sigla deveria endossar Maia à reeleição, além de Eunício, para assegurar cargos na Mesa. O apoio ao deputado Jovair Arantes (PTBGO) também está descartado.

Em artigo divulgado ontem, o presidente do PT, Rui Falcão, admitiu “divergências” a respeito da decisão do Diretório Nacional, que no dia 20 autorizou acordos com candidatos da base do governo Michel Temer.

A exemplo de Falcão, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva também chegou a defender a abertura de negociações com Maia e Eunício. Nas redes sociais, porém, o grupo Muda PT – que abriga correntes de esquerda – disse não ser possível aceitar o voto em “golpistas”.

“O fato é que o protesto tem audiência, repercussão e deve ser ouvido pelos parlamentares”, escreveu Falcão. “Minha opinião pessoal é que nos unamos aos parlamentares da oposição (PDT, PC do B, Rede e PSOL) num bloco a ser encabeçado por alguém deste campo.”

 

‘Avulsos’. O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) vai lançar hoje candidatura avulsa, já que seu partido fechou com Maia. O PSOL também deve entrar no páreo. Com 58 deputados, o PT está de olho na Segunda Secretaria. “A bancada está muito dividida, mas não abrimos mão de lutar por espaço na Mesa”, diz o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).

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PTB fala em racha na base após eleição

 

Isadora Peron

 

A preferência do Palácio do Planalto pela reeleição do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), provocou malestar no grupo ligado ao deputado Jovair Arantes (PTB-GO), que também está na disputa.

Aliados do líder do PTB não descartam que a vitória de Maia possa causar um racha na base aliada e trazer problemas para o presidente Michel Temer.

A estratégia do atual presidente da Casa para pavimentar a sua recondução ao cargo contou com o apoio do Planalto e teve como um dos pilares fechar alianças com partidos que faziam parte do chamado Centrão, grupo de 13 partidos que ganhou força durante a presidência do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Nas últimas semanas, cinco partidos do grupo – PSD, PP, PR, PRB e PSL – declararam que vão apoiar a reeleição de Maia.

Sem o aval da sua legenda, o deputado Rogério Rosso (PSDDF) decidiu suspender a sua candidatura na semana passada.

Diante da debandada dos partidos do Centrão, Jovair pediu uma reunião com Temer para reclamar da atuação de ministros a favor de Maia. No encontro, disse ao presidente que não estava “satisfeito” com o tratamento que estava recebendo do Planalto.

Aliados de Jovair também disseram a Temer que ele deveria pensar “lá na frente”, no “day after” da eleição, quando o governo iria precisar do apoio de todos os integrantes da base para aprovar medidas importantes na Câmara, como a reforma da Previdência.

O presidente do PTB, Roberto Jefferson, que ficou conhecido como delator do esquema do mensalão no governo do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, também se queixou da situação ao Estado. “Você perder uma eleição disputando com justiça, tudo bem. Você perder uma eleição quando o governo opera contra você, aí complica, aí te fere, aí te magoa”, afirmou.

Apesar dos recados do grupo de Jovair, assessores palacianos descartam a possibilidade de haver uma racha na base. Pelas contas do governo, o líder do PTB não terá mais que 100 votos na disputa, e tanto o PTB quanto as outras legendas que o apoiaram poderão ser “recompensadas” de outras maneiras.

Há ainda quem acredite que, diante da derrota iminente, Jovair reavalie o cenário e abra mão da disputa. O deputado goiano, porém, afirma que irá manter a sua candidatura até o fim.

A eleição está marcada para a próxima quinta-feira, 2. / I.P.

 

 

Queixa

“Você perder uma eleição disputando com justiça, tudo bem. Você perder uma eleição quando o governo opera contra você, aí complica, aí te fere, aí te magoa.”

Roberto Jefferson

EX-DEPUTADO DELATOR DO MENSALÃO E PRESIDENTE DO PTB