O esquema Eike-Cabral
Antonio Temóteo, Renato Souza e Fernando Caixeta
27/01/2017
O patrimônio da organização criminosa chefiada pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral é um “oceano que ainda precisa ser mapeado”, afirmam integrantes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que deflagraram ontem a Operação Eficiência, desdobramento da Calicute, com o pedido de prisão de nove pessoas, sendo que duas ainda não foram encontradas. Os investigadores já repatriaram mais de US$ 100 milhões, encontraram diamantes que valem mais de 1 milhão de euros e identificaram gastos de R$ 40 milhões realizados pelos integrantes do esquema. Somente o empresário Eike Batista, que está foragido e teve um pedido de prisão preventiva decretado pela Justiça, é acusado de desembolsar US$ 16,5 milhões em propinas ao grupo.
O trabalho dos investigadores se concentrará em descobrir quais empresas repassaram dinheiro aos operadores de Cabral. Segundo o procurador Sérgio Pinel, o esquema foi descoberto depois da delação de irmãos Renato e Marcelo Chebar, operadores do ex-governador do Rio de Janeiro desde o início dos anos 2000. O político, que à época era deputado estadual, os procurou para que transferissem US$ 2 milhões do Israel Discount Bank of New York. Os recursos seguiram para outras duas outras contas, “Siver Fleet” e “Alpine Grey”, em nome de Renato.
Os delatores detalharam que o esquema decolou a partir de 2007, quando Cabral chegou a Palácio Guanabara. O propinoduto passou a ser administrado por Carlos Miranda, pelo ex-secretário de governo Wilson Carlos Carvalho e por Sergio de Castro Oliveira, todos com prisão preventiva decretada pela Justiça. Além deles, Francisco de Assis Neto, que está foragido, é apontado como operador de Cabral e usava empresas para lavar o dinheiro.
Os irmãos Chebar ainda relataram uma operação fraudulenta realizada por Eike e orquestrada por Flávio Godinho, vice-presidente de futebol do Flamengo e do Grupo EBX. Por meio da conta Golden Rock no TAG Bank, no Panamá, o empresário simulou a compra de uma mina por US$ 16,5 milhões. O contrato de fachada foi realizado entre empresa Centennial Asset Mining Fuind Llc, holding de Batista, e a Arcadia Associados, em uma conta no Uruguai. Os recursos estavam no nome de terceiros, mas à disposição de Cabral. Godinho também acabou preso ontem.
Interpol
O advogado de Eike Batista, Fernando Martins, afirmou que o empresário — que chegou a ser o oitavo mais rico do mundo, segundo a revista Forbes — participa de reuniões de negócios em Nova York, para onde embarcou na noite de terça-feira. Segundo ele, Eike pretende se entregar à Justiça o mais breve possível, mas não descreveu quando nem como será feito isso. A Interpol, no entanto, atendeu pedido da Polícia Federal e colocou o empresário na lista mundial de foragidos. Há a suspeita de que Eike utilizou o passaporte alemão para deixar o Brasil.
Por meio de nota, o Flamengo informou que o clube tem administração executiva profissional em todas as suas diretorias e segue com seu planejamento e atividades inalterados. O presidente Eduardo Bandeira de Mello passa a acumular a vice-presidência da pasta.
US$ 16,5 milhões
Valor que o empresário Eike Batista é suspeito de repassar para o grupo criminoso encabeçado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, segundo a Polícia Federal
Correio braziliense, n. 19604, 27/01/2017. Política, p. 2.