Título: Avaliação superficial
Autor: Laboissière, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2011, Cidades, p. 41

O mastologistra Maurício Bezerra Cariello acompanha o tratamento de Fátima e estranha a dificuldade de encaminhamento da servidora à perícia do Detran. Cariello foi também o responsável pelo procedimento cirúrgico ao qual a servidora foi submetida. "Tenho muitas pacientes que já fizeram essa dissecção axilar, passaram pelos médicos do departamento e, assim, compraram o carro adaptado. Me surpreende ela não ter conseguido o reconhecimento, já que operou um câncer de mama e tem a monoparesia", afirma. "Nessa intervenção, você tem a retirada de tecidos e o músculo perde parcialmente a força. Mas é necessário salientar que não se trata de uma paralisia. Embora ela possa executar movimentos, um carro automático ajudaria a evitar possíveis acidentes."

A presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, regional Distrito Federal, Fernanda Cristina Afonso Salum, reforça a fala de Cariello. "A monoparesia pode acontecer em alguns pacientes que tiraram a mama. Trata-se de uma sequela. A partir disso, o médico dá um laudo a paciente, dizendo que ela tem uma incapacidade laborativa permanente naquele membro", explica. Segundo a especialista, a pessoa fica privada de realizar várias tarefas, como carregar muito peso, ter a pressão aferida ou tomar injeção no braço afetado. "Isso tudo para evitar que ela tenha o chamado linfedema, que é a diminuição da drenagem linfática naquele membro", arremata.

Cuidados

Fernanda esclarece, contudo, que não há um exame específico para atestar se a paciente é portadora ou não de monoparesia. "Fazemos alguns testes, como a comparação da força dos braços. De toda forma, se ela passou pela dissecção axilar, um deles está diferente e precisa de cuidados", justifica.

Para o advogado de Fátima, Edson Maraui, especialistas em direito civil e processual civil, os testes realizados pela cliente no Detran foram superficiais. "Tiveram caráter subjetivo. Além disso, disseram que ela não tinha monoparesia, mesmo tendo laudos constatando isso. Então, foi algo meramente visual. O caso dela tinha de ser melhor analisado", explica. "O que ela podia fazer, ela fez. Entrou com uma ação na Justiça e, agora, aguardamos a realização de uma nova perícia pedida pelo juiz", adiantou. (ML)

Colaborou Ariadne Sakkis