PF espera Eike no aeroporto

Eduardo Militão

30/01/2017

 

 

CRISE NA REPÚBLICA » Empresário embarcou ontem à noite em Nova York depois de negociação conduzida pelo advogado com a PF. Voo deve chegar por volta das 10h30

 

 

Depois de quatro dias foragido, o empresário Eike Batista, que já foi o oitavo homem mais rico do mundo, é esperado nesta segunda-feira no Brasil. Em uma negociação conduzida pelo advogado Fernando Martins, Eike embarcou ontem à noite em Nova York, às 21h45 do horário local, no voo 973 da American Airlines.

Segundo o programa Fantástico, Eike chegou sozinho ao Aeroporto JFK, em Nova York. O voo está previsto para pousar às 10h30 no Galeão. Na lista da Interpol e alvo de um mandado de prisão expedido pelo juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Eike corria o risco de ser detido até no aeroporto nos EUA, ao embarcar, ou apenas na chegada ao Brasil. Isso dependia dos procedimentos que seriam adotados pela polícia norte-americana. De toda forma, ao desembarcar no Brasil, ele deverá ficar encarcerado, por ser acusado de participar de uma organização criminosa liderada pelo ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB). O peemedebista está preso desde novembro, na Operação Calicute, um dos desdobramentos da Lava-Jato. Os investigadores da PF e do Ministério Público chegaram a Eike ao aprofundar a análise das transações financeiras da família do ex-governador.

Ao voltar ao Brasil, o empresário terá de ficar em prisão preventiva, por ordem do juiz Marcelo Bretas. Deve ser encaminhado ao Presídio Ary Franco, que fica na Zona Norte do Rio e é destinado a pessoas sem curso superior completo, caso de Eike. Mas o empresário ainda pode acabar em uma cela no Complexo Penitenciário de Gericinó, na Zona Oeste. A cadeia tem 25 mil detentos em suas 25 unidades, uma delas para pessoas com curso superior, chamada de Bangu 8, onde está Sérgio Cabral. Apesar de Eike não ter terminado a faculdade, a Secretaria de Administração Penitenciária pode entender que ele está sob risco, por ser uma pessoa pública, e determinar que cumpra pena em uma das “unidades de seguro” de Gericinó. Porém, a assessoria da Secretaria de Administração Penitenciária disse ao Correio que essa decisão só será tomada quando o empresário do ramo de mineração e exploração petrolífera chegar à prisão.

 

Chances baixas

Eike embarcou para Nova York na terça-feira à noite. A mulher e o filho caçula seguiram no dia seguinte. Na quinta-feira pela manhã, policiais federais batiam à sua porta com uma ordem de detenção, mas ele já estava longe. De acordo com a PF, ele saiu com o passaporte alemão, porque também tem cidadania europeia e, por isso, não foi monitorado eficientemente pelos agentes. Voltar ao Brasil é uma das poucas estratégias que sobraram para Eike, segundo especialistas ouvidos pelo reportagem.

Se tentasse ficar nos Estados Unidos, teria poucas chances. Há um mandado de prisão expedido pela Interpol. Como Eike é uma pessoa pública, poderia ser detido a qualquer momento em solo americano. Se tentasse fugir para a Alemanha, teria que tentar não ser detido na hora de embarcar. A única chance seria usar um passaporte ou outro documento falso, como fez o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.

Ainda que conseguisse chegar à Alemanha, poderia ser extraditado. Especialistas entendem que, mesmo sendo alemão, Eike seria deportado para o Brasil por causa dos acordos internacionais de cooperação criminal. Pizzolato era italiano e, mesmo assim, foi extraditado para cumprir pena na Penitenciária da Papuda, em Brasília, por causa de condenação no mensalão.

 

Mina de ouro

Segundo a polícia, em apenas um esquema de corrupção, o empresário remeteu US$ 16,5 milhões para uma conta ligada a Cabral no Uruguai. Para dar aparência de legalidade ao negócio, a transferência de dinheiro foi justificada com a intermediação na compra de uma mina de ouro. Mas os doleiros Renato e Marcelo Chebar buscaram os investigadores para fechar um acordo de colaboração premiada e reduzirem suas futuras punições, quando confessaram que foram procurados por assessores do peemedebista para viabilizar o recebimento do dinheiro de Eike no Uruguai.

Eike ainda depositou R$ 1 milhão na conta do escritório da mulher do ex-governador, a advogada Adriana Ancelmo, também detida. O empresário foi convocado a esclarecer o repasse, mas garantiu que não se tratava de corrupção, e sim de um pagamento orientado pela Caixa Econômica para quitar consultorias e assessorias na criação de um fundo de investimentos. Mas a instituição financeira disse aos investigadores que “não houve indicação” do escritório de Adriana “para qualquer outra operação”. “As alegações do representado Eike Batista caem por terra”, avaliou o juiz Marcelo Bretas, ao ordenar sua prisão. “Eike Batista não disse a verdade em seu depoimento perante o MPF, o que, confirmando as suspeitas iniciais, reforça a tese de seu maior envolvimento com a organização criminosa descrita.”

 

O futuro

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As acusações

»  Eike Batista é suspeito de pagar propinas para Sérgio Cabral e seu grupo em várias ocasiões, em troca de obter contratos com o poder público e facilidades em negócios. Em apenas dois episódios, ele depositou $ 1 milhão na conta do escritório da mulher do ex-governador e S$ 16,5 milhões em outra no Uruguai, controlada pelo peemedebista.

 

Onde vai ficar

»  Ao voltar ao Brasil, terá que cumprir prisão preventiva, por ordem o juiz da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Costa Bretas. esse caso, há duas possibilidades:

 

A) Presídio Ary Franco. Fica na Zona Norte do Rio e é destinado a pessoas sem curso superior completo, caso de Eike.

 

B) Complexo de Gericinó. Fica na Zona Oeste, tem 25 mil detentos em suas 25 unidades, uma delas para pessoas com curso superior (Bangu 8).

 

Eike não terminou a faculdade, mas a Secretaria de Administração Penitenciária pode entender que ele está sob risco, por ser uma essoa pública, e determinar que cumpra pena em uma das unidades de seguro”.

 

E se tentasse fugir?

1) Ficar nos EUA

»  Tinha poucas chances de sucesso. Há um mandado de prisão expedido pela Interpol. É uma pessoa pública e poderia ser preso a qualquer momento.

 

2) Ir para a Alemanha

»  Chances ainda mais reduzidas. Especialistas entendem que, mesmo com a cidadania alemã de Eike, ele poderia ser deportado para o Brasil por causa dos acordos internacionais de cooperação criminal. Além disso, corre o risco de ser detido ao tentar embarcar em um aeroporto nos EUA.

 

Fontes: Justiça Federal, Secretaria de Administração Penitenciária do Rio e juristas

 

 

Correio braziliense, n. 19607, 30/01/2017. Política, p. 3.