Chineses querem comprar Belo Monte

Alessandra Azevedo

31/01/2017

 

 

CONJUNTURA » Empresas do país asiático, que já fizeram investimentos bilionários no setor de energia no Brasil, estão interessadas na hidrelétrica em construção no Rio Xingu, no Pará. Usina será a terceira maior do mundo quando as obras forem concluídas

 

 

As empresas chinesas continuam de olho no setor elétrico brasileiro. O novo alvo é a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, terceira maior do mundo, ainda em construção, no Rio Xingu, no sudoeste do Pará. Embora a negociação não tenha sido oficialmente confirmada pelas empresas acionistas consultadas pelo Correio — entre elas, a estatal Eletrobras, que detém 49,98% de participação, a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e a Vale, além dos fundos de pensão Petros, dos funcionários da Petrobras, e Funcef, dos servidores da Caixa Econômica Federal —, a expectativa é que a venda ocorra nos próximos meses.

Empresas como State Grid e China Three Gorges (CTG) são algumas das possíveis interessadas na compra, caso o consórcio Norte Energia, responsável pela coordenação e pela construção da hidrelétrica, decida, de fato, vender a usina. No Brasil há cerca de cinco anos, as chinesas têm feito investimentos intensos no setor elétrico. A CTG, sozinha, investiu mais de R$ 15 bilhões desde que chegou ao país, em 2013. Só nos últimos três anos, a empresa comprou as hidrelétricas de Salto, Garibaldi, Jupiá e Ilha Solteira, além de metade dos projetos de construção das usinas de Santo Antônio do Jari e de Cachoeira Caldeirão. A empresa adquiriu também um terço da Hidrelétrica de São Manoel.

Também interessada no setor elétrico, a chinesa State Grid, no Brasil desde 2011, adquiriu, por R$ 5 bilhões, 51% da participação no consórcio IE Belo Monte. Responsável pela construção da segunda linha de transmissão da usina, a empresa asiática conseguiu, este ano, o controle acionário da CPFL Energia, ao comprar 54,64% de participação nas ações, por R$ 14 bilhões. Sobre a possibilidade de negociação de Belo Monte, a State Grid afirmou “não ter comentários sobre o assunto”. Já a CTG Brasil disse que “não comenta rumores de mercado”.

Segundo a publicação Investimentos Chineses no Brasil 2014-2015, divulgada em novembro pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), os investimentos do país asiático no Brasil cresceram de US$ 2 bilhões (mais de R$ 6 bilhões, em dólares atuais), em 2014, para US$ 9,4 bilhões no ano seguinte, o que equivale a cerca de R$ 30 bilhões. A usina hidrelétrica de Santo Antônio, na Região Norte, também deve ser vendida para uma empresa chinesa nos próximos meses. A SPIC tem competido com a canadense Hydro Quebec pela usina.

O interesse dos chineses pode coincidir com a necessidade dos fundos de pensão de fazerem caixa (veja matéria abaixo). Detentora de 10% das ações de Belo Monte, a Funcef negou a existência de diálogo ou decisão sobre venda da usina. A Petros, que detém outros 10%, também não confirmou a negociação. “A Petros não comenta operações de investimentos, por se tratar de uma questão estratégica. Cabe destacar que oportunidades de investimentos e desinvestimentos são sempre avaliadas em busca de segurança e da melhor rentabilidade para o patrimônio dos participantes”, disse a fundação, em nota. Procurada pelo Correio, a Norte Energia, concessionária da usina, preferiu não se manifestar.

 

Histórico

Em janeiro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a hidrelétrica de Belo Monte a iniciar a operação comercial da décima unidade geradora. Atualmente com 10 turbinas em funcionamento e 2.677 megawatts de capacidade instalada, a usina, prevista para ter as obras finalizadas nos próximos dois anos, tem orçamento estimado em R$ 25,9 bilhões, dos quais R$ 22,5 bilhões foram financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ela foi responsável por 21% do aumento da capacidade instalada para geração de energia elétrica no Brasil em 2016, segundo a Aneel.

Leiloada em 2010, por R$ 25,8 bilhões, e inaugurada em 2015, Belo Monte deve ser concluída em 2019. A capacidade final instalada será de 11.233 megawatts, suficiente para atender 60 milhões de pessoas em 17 estados, o que representa cerca de 40% do consumo residencial de todo o país.

 

 

Correio braziliense, n. 19608, 31/01/2017. Economia, p. 7.