Eunício leva Senado com aval do PT

Paulo de Tarso Lyra, Natalia Lambert e Rosana Hessel

02/02/2017

 

 

LEGISLATIVO » Depois de receber o apoio de parte dos petistas, novo presidente da Casa defende reformas propostas por Temer e criticadas pelo partido de Lula. Citado na Lava-Jato, peemedebista prometeu combate à corrupção e firmeza na guerra entre poderes

 

 

Com parte do apoio da bancada do PT, Eunício Oliveira (PMDB-CE) foi eleito ontem presidente do Senado, com 61 votos favoráveis, 10 em branco e 10 votos em José Medeiros (PSD-MT). Tanto no discurso como candidato quanto no proferido após a vitória, Eunício deixou claro que vai facilitar a tramitação das reformas — previdenciária, tributária e trabalhista — que serão encaminhadas pelo presidente Michel Temer ao Congresso. Todas criticadas pelo PT.

Apesar do voto secreto, a estimativa entre os próprios petistas é de que Eunício tenha tido o apoio de cinco senadores do partido. Outros cinco teriam votado em branco, já que o adversário de Eunício, José Medeiros, foi mais ácido do que o peemedebista no processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Eunício defendeu o diálogo. “É hora de unir, não de dividir. Neste momento em que o país atravessa uma grave crise política e institucional, é preciso reaproximar o governo e o Congresso da sociedade brasileira”, afirmou. Para o novo presidente da Casa, chegou o momento de o Senado assumir uma posição de protagonismo na retomada econômica do país. E citou a reforma da Previdência nesse processo como uma das pautas urgentes e prioritárias que precisam ser apreciadas pelos senadores ao longo dos próximos meses. “Essa matéria será alvo de um debate intenso entre os senadores”, prometeu.

 

Cumprimentos

Logo após a votação, o porta-voz do Planalto, Alexandre de Parola, cumprimentou o peemedebista pela vitória. “Em parceria com o Senado e com os senadores e senadoras que integram a base de apoio do governo, o presidente Michel Temer pretende avançar nas reformas que, dia a dia, vão recolocando o Brasil de volta nos trilhos do crescimento e da prosperidade.” Citado na delação do ex-diretor da Odebrecht Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, como beneficiário de R$ 2,1 milhões pagos pela construtora, Eunício — que no documento é apelidado de “Índio” — garantiu que vai combater a corrupção, mas que é preciso ser firme quando um poder se levanta contra o outro.

Ele, no entanto, foi reticente na defesa, feita pelo novo líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), de que os sigilos das delações sejam levantados de uma vez. A presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, homologou as delações, mas transferiu para o futuro relator da Lava-Jato — que deve ser anunciado hoje — a missão de abrir os documentos. “Esta é uma questão que ainda precisamos analisar com o conjunto dos líderes”, desconversou o peemedebista.

Outra questão crucial que precisa ser tratada pela Nova Mesa Diretora do Senado eleita ontem é a composição da Comissão de Constituição e Justiça da Casa. O Planalto acompanha com interesse esse debate, porque é lá que o futuro ministro do STF, indicado por Temer, será sabatinado.

O presidente não quer anunciar o nome escolhido antes da composição da comissão para evitar que o indicado “fique muito tempo na chuva, sob críticas”, antes de ter o nome apreciado pelos senadores. A bancada do PMDB deve se reunir para tratar hoje desse tema. Como maior partido na Casa, eles têm direito à presidência da CCJ. Três senadores disputam a vaga: Edison Lobão (MA), Raimundo Lira (PB) e Marta Suplicy (SP).

A eleição de Eunício Oliveira como presidente do Senado deixou cicatrizes no PT. A bancada praticamente dividiu-se entre apoiar o peemedebista ou se recusar a votar em dois candidatos considerados “golpistas” pelos petistas. Em uma reunião tensa na noite de segunda-feira, seis dos 10 senadores resistiam a apoiar qualquer um dos dois candidatos. Ontem pela manhã, a cúpula da bancada defendeu o critério da proporcionalidade — que garantiu a indicação do senador José Pimentel (CE) para a primeira-secretaria do Senado — mas liberou os parlamentares para votar de acordo com a própria consciência.

Tão logo a reunião foi encerrada, os senadores Lindbergh Farias (RJ), Gleisi Hoffman (PR) e Fátima Cleide (RN) divulgaram um documento extremamente duro. “Superestimando a luta institucional e insensível ao apelo da militância, a maioria da bancada preferiu não tomar uma posição clara. É realmente lamentável, um equívoco político que cobrará seu preço.” O líder da bancada, Humberto Costa (PE), rebateu. “Defendemos a proporcionalidade, não fechamos apoio à pauta ou votações”.

 

Placar

Eunício 61

 

JOSÉ MEDEIROS 10

BRANCOs 10

 

 

Correio braziliense, n. 19610, 02/02/2017. Política, p. 2.