Gravador pode ajudar a explicar acidente

 
André Borges
Erich Decat
Fabio Leite
Wilson Tosta

 

Três investigações foram abertas para apurar as causas da queda do avião que matou o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), e mais quatro pessoas anteontem em Paraty (RJ).

Representantes do Ministério Público Federal, Polícia Federal, Ministério Público e Polícia Civil do Rio, além do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), da Aeronáutica, já estão empenhados em descobrir eventuais responsáveis pelo acidente. A Câmara dos Deputados deve formar uma comissão externa para acompanhar os trabalhos.

De acordo com o MPE do Rio, a Promotoria de Justiça de Paraty acompanhou todo o trabalho das operações de resgate e identificação dos corpos, ao lado da Polícia Civil, da Defesa Civil, do Corpo de Bombeiros, PF e investigadores do Cenipa.

Os promotores pretendem ouvir testemunhas, como barqueiros que relataram ter visto o acidente, e vão aguardar a conclusão da perícia da Aeronáutica para avaliar os próximos passos da investigação.

Ontem, os investigadores localizaram o gravador de voz do bimotor modelo King Air que caiu no mar com cinco passageiros.

O aparelho foi encontrado em meio aos destroços da aeronave e estava em bom estado, segundo o Cenipa. Ele registra todo o áudio dentro do cockpit entre o piloto e controladores de voo em solo e pode ajudar na investigação, apesar de não haver um copiloto e o aeroporto de Paraty não possuir uma torre de controle em terra.

Por ser de pequeno porte, o bimotor não tinha por exigência utilizar uma caixa preta que, além de voz, armazena dados do voo. A instalação desses equipamentos em pequenos aviões, portanto, fica a critério do dono da aeronave, segundo o Cenipa.

O gravador de voz seria encaminhado ainda ontem para Brasília para que seu conteúdo passe por uma perícia. Não há previsão para a conclusão da análise da caixa de voz, que costuma ser instalado na cauda dos aviões porque ela costuma ser a parte menos destruída em casos de queda.

“Se a perícia da Aeronáutica concluir que o acidente foi provocado por imperícia, o caso estará encerrado. Mas, se não for essa a conclusão, as investigações continuarão em busca das causas da queda”, disse o promotor de Justiça Vinicius Ribeiro, titular da Promotoria de Justiça de Paraty.

A Aeronáutica enviou a Paraty uma equipe de militares especializados em investigação de acidentes aeronáuticos. Os dois primeiros chegaram ao local no mesmo dia da queda.

 

Hipóteses. Especialistas ouvidos pelo Estado acreditam que as condições climáticas adversas sejam a principal hipótese para a causa do acidente. “Acidentes semelhantes têm se repetido com certa frequência nessa região, que é montanhosa e não tem apoio de navegação auxiliar. Se há chuva e baixa visibilidade, como estava na hora do acidente, os riscos aumentam muito”, afirma Miguel Angelo Rodeguero, diretor de segurança operacional da Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves.

“A meteorologia mostrou que havia uma nuvem cumulusnimbus, que é verticalmente extensa e provoca rajadas de vento violentas que desestabilizam a aeronave”, relata Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da USP.

 

DÚVIDAS DA QUEDA

 

Aeronave

Se houve alguma falha mecânica, principalmente no motor do avião, que possa explicar a queda brusca da aeronave no mar a poucos quilômetros da cabeceira da pista em Paraty

 

 

 

Clima

O plano de voo antes da decolagem no Campo de Marte não mostrava que as condições climáticas na pista em Paraty, já comprometida pelas montanhas do entorno, eram adversas.

 

Piloto

Por que o piloto do avião Osmar Rodrigues, considerado experiente em voos executivos nessa região do litoral fluminense, insistiu em pousar na pista de Paraty mesmo com as condições climáticas adversas, com chuva e baixa visibilidade.

 

Caixa de voz

Que tipo de informação relevante para as investigações pode ser extraída das gravações da caixa de voz da aeronave se o piloto estava sozinho no cockpit e sem comunicação com torre de controle em terra.

 

APURAÇÃO

● Investigações apuram causas do acidente que matou o ministro Teori Zavascki e mais quatro pessoas

 

Investigação

 

Gravador de voz

● O Cenipa encontrou um aparelho de gravação de voz do avião que será enviado a Brasília, onde seu conteúdo será analisado

 

Coleta e análise de dados

● Equipe da Aeronáutica em Paraty coleta dados e materiais no local do acidente; destroços são recolhidos para análise

 

Relatório

● O resultado da investigação será divulgado somente após a conclusão do relatório final, que será apresentado pelo Cenipa

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Família decide por enterro de ministro em Porto Alegre

 

Ricardo Galhardo

 

O corpo do ministro Teori Zavascki será velado hoje no Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4), no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre. O velório será aberto ao público a partir das 11 horas. Teori será sepultado ainda hoje, às 18 horas, no Cemitério Jardim da Paz, também na capital gaúcha. A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, e o presidente Michel Temer vão acompanhar o funeral.

“Havia uma dúvida se o velório seria no Supremo Tribunal Federal, como é de praxe. A decisão foi da família”, disse o presidente em exercício do TRF-4, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz.

“Cármen Lúcia disse que chegaria (ontem) à noite, pois gostaria de esperar a chegada do corpo ao lado da família”, disse Thompson. Além da ministra e Temer, são esperados os ministros José Serra (Relações Exte- riores) e Alexandre de Moraes (Justiça). O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também deve comparecer.

A direção do TRF-4 espera um grande público no velório. O plenário do tribunal, cujo prédio foi inaugurado quando Teori presidia a corte, será usado para o velório. Ele atuou por mais de 14 anos no TRF-4, que também é a segunda instância da Operação Lava Jato, da qual o ministro era relator no STF.

 

Preparativos. Funcionários da corte que chegaram a trabalhar com o ministro destacaram o fato de que os carpetes e as poltronas do plenário são vermelhos, cor do uniforme do Internacional, arquirrival do Grêmio, time do qual Teori era diretor e chegou a ser conselheiro.Ontem, um grupo de funcionários da prefeitura de Porto Alegre aparava a grama das ruas e calçadas próximas à sede do tribunal para preparar o local para o velório.

O clima no TRF-4 era de tristeza. “Quero deixar registrado o vazio que a morte do ministro Teori deixa no meio jurídico em geral e em especial aqui no TRF-4”, afirmou o presidente em exercício do tribunal.

Em princípio a família pretendia que o sepultamento fosse em Faxinal dos Guedes, no interior de Santa Catarina, terra natal do ministro, mas Porto Alegre prevaleceu por ser a cidade onde vivem os três filhos de Teori. A cerimônia será fechada apenas para a família e convidados. Será realizada uma missa de corpo presente celebrada pelo arcebispo metropolitano d. Jaime Spengler. O local não foi definido, mas deverá ser ou no TRF-4 ou durante o sepultamento.

 

Respeito. Ao desembarcar ontem em Brasília, após chegar de viagem na Suíça, o procurador-geral da República se recusou a conceder entrevistas: “Luto. Respeito aos mortos”, limitouse a dizer Janot. Ele apressou sua volta da Europa ao receber a notícia da morte de Teori, na queda do avião anteontem em Paraty, litoral sul do Rio.

O ministro Luiz Fux, do STF, também lamentou ontem a morte do colega com “profundo sentimento de pesar aos parentes e entes queridos do ministro”. Em nota, ele destacou o “convívio pessoal e profissional” ao longo dos anos, no Supremo e no Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde Zavascki e Fux também atuaram.

“O ministro Teori foi e será daquelas pessoas das quais não só nos lembraremos sempre, mas, antes, jamais o esqueceremos pelo bem que realizou em prol do País e da Justiça”, disse Fux.

O ministro Dias Toffoli, que estava de férias fora do Brasil, afirmou ontem que retornaria ao País e esperava chegar neste sábado em Porto Alegre para acompanhar o velório do ministro. Os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Edson Fachin também prestarão a última homenagem ao colega.

De férias, o ministro Marco Aurélio Mello optou por não viajar a Porto Alegre. “Minha homenagem será perpétua ao ministro Teori e estará centrada na fala. A pior morte não é física, é a da fala. É o esquecimento”.

O corpo de Teori seria transportado por um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e a previsão é de que chegasse na madrugada de hoje na capital gaúcha./Colanorador Breno Pires, Isadora Peron e Lìgia Formenti