O Estado de São Paulo, n. 45022, 22/01/2017. Política, p. A8

Diálogo com a sociedade é desafio para Temer
 


Pedro Venceslau

 

No momento que o governo acerta os detalhes finais para fechar um contrato de publicidade de R$ 200 milhões, válido por cinco anos, conselheiros e aliados próximos do presidente Michel Temer atribuem a falhas de comunicação do Palácio do Planalto um fator fundamental para a baixa popularidade da administração do peemedebista.

A avaliação é de que o presidente dialoga bem com sua base aliada no Congresso, mas não consegue se comunicar com a sociedade. Os erros listados por aliados de Temer vão de campanhas institucionais consideradas “desastradas” e pronunciamentos “superficiais” feitos pelo peemedebista até movimentos “erráticos” de ministros “voluntariosos”.

O diagnóstico é feito por integrantes do grupo de comunicação que prestava assessoria regular a Temer logo após o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, mas que se desfez após os primeiros meses de gestão do peemedebista.

“Após meia dúzia de reuniões, deu para perceber que aquilo que se discutia ali, ali mesmo morria, tragado pela autossuficiência dos comunicadores oficiais. Simplesmente desliguei-me do grupo”, afirmou ao Estado o publicitário Chico Santa Rita, que foi um dos conselheiros de Temer.

Para o publicitário, o governo está tomando medidas estruturais importantes em pouco tempo, como as reformas trabalhista e da Previdência e o saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), mas as avaliações públicas do governo seguem “ladeira abaixo” por causa comunicação, segundo ele, deficiente.

“Começou no momento em que o Temer foi confirmado (presidente) pelo Congresso e, simplesmente, fez um pronunciamento chocho à Nação. Era hora de ter feito um grande balanço, mostrando o tamanho da verdadeira herança maldita que herdava após os desgovernos do PT”, afirmou Santa Rita.

Campanhas. No caso da reforma da Previdência, na avaliação do publicitário, a campanha oficial foi feita a partir de uma negação e uma ameaça. O slogan oficial é “Reformar para não acabar”. “A situação pode ser verdadeira, mas o slogan traduz uma preocupação do status quo, não das pessoas”, disse o ex-conselheiro do presidente.

Um dos casos mais lembrados por aliados do Planalto para ilustrar a falta de estratégia de comunicação foi a campanha “Gente boa também mata”. Lançada pelo Ministério dos Transportes, a ação tentou mostrar que qualquer cidadão pode causar acidentes e até mortes se não respeitar as leis de trânsito.

A peça acabou suspensa por causa da repercussão negativa, principalmente nas redes sociais. “A ideia é boa, mas (a propaganda) foi mal feita”, disse o marqueteiro Nelson Biondi.

Em caráter reservado, aliados e interlocutores de Temer também reclamam do “excesso de liberdade” na comunicação dos ministérios. Um dos casos mencionados envolve o atual ministro da Justiça, Alexandre de Moraes.

Além de ser apontado como o responsável pela demora do Planalto em se manifestar no caso das rebeliões em presídios, o ministro já causou diversos constrangimentos ao governo.

Antes mesmo do impeachment de Dilma, por exemplo, Moraes causou desconforto ao confirmar que havia sido sondado para integrar o governo Temer. O episódio de maior desgaste, no entanto, ocorreu em setembro, quando Moraes “antecipou” a integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), em Ribeirão Preto (SP), uma nova etapa da Operação Lava Jato.

“Quando vocês virem (a operação) esta semana, vão se lembrar de mim”, afirmou o titular da Justiça, na ocasião. No dia seguinte, a Polícia Federal prendeu o ex-ministro Antonio Palocci. À época, Temer chegou a chamá-lo para explicações no Planalto e Moraes disse que foi mal interpretado. Procurado novamente pela reportagem, o ministro não se manifestou.

Jornada. Outro ministro que causou problemas foi Ronaldo Nogueira, titular do Trabalho. Depois de dizer que os trabalhadores teriam até 12 horas de jornada por dia, ele foi repreendido por Temer. O ministério teve de divulgar uma nota dizendo que a reforma trabalhista não elevaria a jornada semanal do trabalhador, mas ajustaria sua forma de cumprimento. “Um ponto fraco do governo é a comunicação com a sociedade. O governo ainda não conseguiu falar ao conjunto da sociedade a situação do País. Não conseguiu mostrar seu projeto”, disse o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB).

Na avaliação do governador, o diálogo do governo com a Câmara dos Deputados e com o Senado está “fluindo”, mas com a sociedade há um déficit. “Tem muito chão para caminhar e mostrar para a sociedade o tamanho da crise em que estamos”, afirmou Hartung.

 

‘FALHAS’

- ‘Gente boa também mata’

A campanha do Ministério dos Transportes tentou mostrar que, dependendo da conduta, qualquer cidadão pode causar acidentes e até mortes no trânsito. A peça publicitária teve repercussão negativa – sobretudo nas redes sociais – e teve de ser suspensa pela pasta.

 

- Lava Jato

A falta de uma estratégia de comunicação dos ministérios do governo é apontada como um dos problemas do Planalto. No ano passado, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, foi repreendido por “antecipar” uma fase da Lava Jato.

 

- Trabalho

Já Ronaldo Nogueira (foto), do Trabalho, disse que os trabalhadores teriam até 12 horas de jornada por dia e teve de se explicar.

 

- Previdência

No caso da reforma da Previdência proposta pelo presidente Michel Temer, o slogan da campanha institucional do governo – “Reformar para não acabar” – tem sido alvo de críticas por causa do tom de “ameaça” contido na mensagem.

 

- Pronunciamentos

A avaliação é de que os pronunciamentos de Temer são superficiais. Marqueteiros afirmam ainda que o governo perdeu a chance de, no início da gestão, fazer um “balanço” da situação do País para a sociedade.

 

- ‘Bora, Temer’

Em reação a protestos e ao movimento “Fora, Temer”, marqueteiro ligado ao presidente criou a campanha “Bora, Temer”.A ideia, no entanto, virou motivo de piada nas redes sociais

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Marcela Temer inicia viagens para divulgar Criança Feliz

 
Rafael Moraes Moura

 

Mais de cem dias após o lançamento, o Palácio do Planalto começou a definir o roteiro de viagens da primeira-dama Marcela Temer para divulgar o Criança Feliz, programa do governo federal voltado para a primeira infância.

Auxiliares do presidente Michel Temer querem que a primeira- dama inicie o giro pelo País já em fevereiro, cumprindo pelo menos dois eventos públicos por mês.

O foco do Criança Feliz são gestantes, crianças de até 3 anos de famílias beneficiárias do Bolsa Família e famílias de crianças de até 6 anos que recebem o Benefício de Prestação Continuada – pagamento de um salário mínimo mensal a pessoas com 65 anos de idade ou mais.

A ideia é que Marcela seja uma espécie de “embaixadora itinerante” do programa, realizando uma série de viagens para conhecer in loco as experiências que estão sendo executadas por municípios na área, além de inaugurar centros de acolhimento para crianças com microcefalia. Amanhã, a primeira- dama vai participar em Brasília de oficina técnica com gestores estaduais do Criança Feliz no Ministério do Planejamento.

Exposição. O programa foi lançado em 5 de outubro do ano passado, com a participação da primeira-dama em uma cerimônia no Planalto marcada por um tom maternal. “O momento mais importante para o desenvolvimento de habilidades e competências humanas são os primeiros anos de vida. É nesse período que nossos filhos percebem que são amados e aprendem a amar. Esse sentimento os guiará por toda vida”, discursou Marcela na ocasião.

Auxiliares do presidente alegam que a demora na exposição pública da primeira-dama se deveu à montagem da parceria com os Estados, à definição de um cronograma e à reestruturação interna pela qual passou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, pasta que cuida do programa.

O governo, que desde seu início enfrenta um cenário de crises política e econômica, quer consolidar marcas próprias – o Criança Feliz é considerado uma das principais apostas da agenda social de Temer.

Verba. Neste ano, o orçamento do programa é de R$ 350 milhões, ante R$ 21 milhões investidos no ano passado. O Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário prevê que até o fim do ano 2 mil municípios tenham aderido ao Criança Feliz.

Em fevereiro, a primeira-dama convidará para um almoço, em Brasília, as mulheres de governadores e de prefeitos que comandam capitais e municípios de grande porte. O roteiro palaciano prevê que Marcela inicie a série de viagens pelo Brasil pelas regiões Norte ou Nordeste. Dentro do Palácio do Planalto, a primeira-dama é vista como uma personalidade nova, leve e que passa credibilidade à gestão Temer.

 

 

Orçamento

- R$ 350 mi é o orçamento do programa Criança Feliz para 2017.

- R$ 21 mi foram investidos no ano passado.