O Estado de São Paulo, n.  45022, 22/01/2017. Economia, p. B4

Projeto da Câmara extingue nove tributos

 

Adriana Fernandes

 

Na esteira da promessa do presidente Michel Temer de priorizar em 2017 a aprovação de uma reforma tributária, a Câmara dos Deputados já prepara uma proposta radical de mudança na forma de cobrança de impostos e contribuições sociais pelo governo federal, Estados e municípios.

O projeto prevê a extinção de sete tributos federais (IPI, IOF, CSLL, PIS, Pasep, Cofins e salário-educação), do ICMS (estadual) e do ISS (municipal). Em troca, seriam criados outros três: o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), o Imposto Seletivo e a Contribuição Social sobre Operações e Movimentações Financeiras. Esse último seria uma espécie de CPMF. A nova contribuição seria usada para permitir a redução das alíquotas da contribuição previdenciária paga pelas empresas e trabalhadores. Remédios e alimentos teriam tributação reduzida.

O projeto também prevê a criação de um SuperFisco estadual responsável pelo IVA, que incidiria sobre o consumo de qualquer produto e serviço, semelhante ao modelo europeu. A Receita Federal cobraria o Imposto Seletivo, que incidiria sobre produtos específicos, como combustíveis, energia, telecomunicações e transportes.

Nota técnica emitida pela Comissão Especial de Reforma Tributária com as principais diretrizes da proposta começou a ser discutida com o setor produtivo e tributaristas para que sugestões possam ser incorporadas no projeto. O relator da proposta, deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), quer apresentar o projeto em meados de fevereiro. Hauly diz que tem o apoio de Michel Temer e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para fazer uma ampla mudança no sistema tributário brasileiro, classificado por ele de “manicômio tributário”, com R$ 500 bilhões de renúncia tributária e 23% de sonegação.

“A minha proposta é de reforma mesmo. Falei com o presidente Temer desse desenho e ele falou: toca para frente”, diz o deputado, que foi relator da criação do Simples. Para ele, a tributária é a “mãe de todas as reformas”. “Não adianta ajuste na macroeconomia se não fizer a mãe das reformas”, diz ele, que acredita ser possível aprová-la ainda este ano para entrar em vigor em 2018.

O Ministério da Fazenda tem proposta pronta de reforma do PIS/Cofins que não chegou a ser encaminhada ao Congresso, que foi bastante discutida com o setor produtivo, mas enfrentou resistências do setor de serviços. A construção de consenso para aprovação de unificação da legislação do ICMS, principal tributo dos Estados, também foi tentada, mas as negociações acabaram sendo deixadas de lado em razão da crise fiscal dos Estados.

 

 

PROPOSTA NO CONGRESSO

Tributos que seriam extintos

– IPI, IOF, CSLL, PIS, Pasep, Cofins, Salário Educação (Federais)

- ICMS (Estadual)

- ISS (Municipal)

 

Tributos que seriam criados

- Imposto sobre Valor Agregado (IVA)

- Imposto Seletivo

- Contribuição Social sobre Operações e Movimentações Financeiras (uma espécie de nova CPMF)

 

 

Absorção da CSLL pelo IRPJ

- Alíquota de 33-34%

 

IRPF

- Explorar a cobrança de novas bases isentas ou pouco tributadas - Atacar o incentivo à chamada “pejotização”

 

 

Incidência do Imposto Seletivo

- Produtos de energia elétrica, combustíveis, telecomunicações, cigarros, bebidas, veículos, pneus e autopeças, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, minerais e transporte

 

 

Redução da contribuição previdenciária sobre a folha de pagamentos

- Extinção do salário-educação, o que pode reduzir a cobrança sobre a folha em 2,5 pontos porcentuais, alíquota a ser substituída por uma vinculação em receitas em valor equivalente para a educação básica

 

Criação do SuperFisco

- Órgão que seria de todos os Estados e do Distrito Federal, mas com autonomia em relação aos governos

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Reforma é projeto antigo

 

Ao patrocinar a reforma tributária, o presidente Michel Temer segue o caminho dos seus antecessores. Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff venderam a proposta de reforma tributária durante a passagem pela Presidência da República, mas nenhum deles conseguiu aprovar uma ampla mudança capaz de simplificar o caótico sistema tributário brasileiro, uma demanda do setor produtivo e dos brasileiros que defendem uma maior progressividade do peso dos tributos sobre a população. Ou seja, que quem ganha mais pague proporcionalmente mais. No Brasil, o que ocorre, na prática, é o inverso, com elevada progressividade. Nos três governos, as mudanças foram apenas pontuais. E muitas delas acabaram aumentando a complexidade do sistema, ao contrário do que seria esperado, como ocorreu com a mudança de cobrança cumulativa do PIS/Cofins na década passada. O aumento das desonerações setoriais – liderado por Dilma Rousseff – só piorou o sistema.