Título: Duas medidas para a miséria
Autor: Leite, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2011, Brasil, p. 14

O Unicef errou ao contabilizar 3,7 milhões de adolescentes em extrema pobreza no país, aponta a titular do MDS

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) distorceu os dados sobre extrema pobreza no Brasil, garante o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Na quarta-feira passada, o Unicef divulgou um relatório dando conta que, em 2009, havia 3,7 milhões de adolescentes miseráveis no país. Em outras palavras, 17,6% da população entre 12 e 17 anos integrava famílias com renda inferior a 1/4 de salário mínimo.

Ontem, a ministra do MDS, Teresa Campello, rebateu os números e criticou: "Foi feita uma conta inadequada, que mostra uma tendência incorreta. No Brasil, a tendência é de redução da população extremamente pobre em todas as faixas de renda, em especial entre adolescentes e crianças. Houve um erro metodológico". Uma reunião entre a agência internacional e a pasta de governo está marcada para o dia 8, quando os dados serão ser revistos.

O MDS, porém, se antecipou e já divulgou as supostas correções. Segundo a pasta, em 2009 existia 1,5 milhão de pessoas entre 12 e 17 anos na extrema pobreza. Já em 2004, o número era de 2,3 milhões, ou seja, quase 800 mil indivíduos deixaram de receber o enquadramento. A diminuição percentual também é defendida pelo ministério: a participação de adolescentes extremamente pobres teria caído de 11,5% para 7,6%. "A população extremamente pobre caiu bastante, portanto tivemos uma melhora muito importante no perfil de renda dos adolescentes e das crianças", reiterou Campello.

As avaliações do Unicef e do MDS contam com diferentes referenciais. Para o fundo, a população extremamente pobre se encaixa em famílias com renda mensal per capita abaixo de 1/4 do salário mínimo — em valores relativos a 2011, cerca de R$ 128,50. Por outro lado, a extrema pobreza definida pelo governo atinge aqueles que recebem uma renda per capita mensal de até R$ 70.

No entanto, de acordo o ministério, a discrepância não é resultado apenas dessa diferença, mas principalmente da metodologia de cálculo usada pelo Unicef na evolução dos índices. Isso porque a referência utilizada pelo fundo, de 1/4 do salário mínimo, variou em função do próprio mínimo, que subiu de R$ 260, em 2004, para R$ 465, em 2009. "O mínimo aumentou além do INPC (índice nacional de preços ao consumidor), ou seja, ele não poderia ser utilizado como indexador para uma comparação", explicou Rômulo Paes, secretário executivo do MDS. Para o cálculo de evolução da população adolescente extremamente pobre, o ministério fez uma "harmonização da série histórica".