Título: Último romântico de horas contadas
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Amado, Guilherme
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2011, Política, p. 3

Dilma ironiza "eu te amo" de Lupi e diz que resolverá situação do ministro, depois de analisar explicações, na segunda-feira

As declarações de amor de Carlos Lupi direcionadas à presidente Dilma Rousseff não serão suficientes para que ele permaneça no Ministério do Trabalho. Os dois devem se reunir na próxima segunda-feira para selar a demissão de Lupi. Durante entrevista em Caracas, Dilma confessou que não se comoveu com o emblemático "Dilma, eu te amo", lançado durante audiência do ministro na Câmara. "Eu tenho 63 anos de idade, uma filha com 34 anos, um neto de um ano e dois meses. Eu não sou propriamente uma adolescente e eu diria também [que não sou propriamente] uma romântica", ironizou. Ela retorna ao Brasil no sábado à noite.

Objetiva, a presidente Dilma mostrou que em determinados assuntos não existem espaços para sentimentalismos. "A vida ensina a gente. Acho que a gente tem de respeitar as pessoas, mas eu faço análises muito objetivas", afirmou. Ela demonstrou também que não pretende mais alongar-se nesse debate, que se arrasta há mais de um mês. A demissão de Lupi era esperada na quinta-feira, após a recomendação da Comissão de Ética Pública da Presidência para que o ministro fosse exonerado. "Qualquer situação referente ao Brasil vocês podem ter certeza de que eu resolvo a partir de segunda-feira."

Segundo o presidente interino do PDT, deputado André Figueiredo (CE), Lupi passará o fim de semana refletindo o que fará daqui por diante. Segundo interlocutores do ministro, ele apresenta comportamento "ciclotímico": alterna momentos de certeza de que pedirá demissão com instantes nos quais acredita ser melhor ficar e resistir à enxurrada de denúncias que pesam contra ele.

Dilma já havia avisado a Lupi, antes de embarcar para Venezuela — ela retorna ao Brasil hoje à noite — que ele precisaria dar justificativas convincentes para as novas denúncias de acúmulo de salários na Câmara dos Deputados e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A presidente também levará em conta a recomendação feita pela Comissão de Ética para exonerar o ministro. Só não agiu dessa forma na quinta-feira porque considerou "intempestiva e surpreendentemente rápida" a decisão da comissão.

Recomendação Ontem, o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Sepúlveda Pertence, defendeu o colegiado no encerramento de um seminário sobre ética. O conselheiro disse que pretende enviar na próxima segunda-feira as explicações pedidas pela presidente Dilma Rousseff sobre a recomendação de exoneração do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. "Ações como esse seminário vêm marcando desde o início da fundação dessa comissão de mentirinha, como já dizem uns, (para se referir à) Comissão de Ética da Presidência da República", afirmou durante o discurso, referindo às críticas feitas pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS).

A relatora do processo, professora Marília Muricy, reafirmou seu relatório "palavra por palavra, vírgula por vírgula, ponto e vírgula por ponto e vírgula". "Ele tem todo direito de pedir reconsideração. Agora, daqui para saber se ele trará fatos que determinem a mudança de nosso ponto de vista, só o futuro e só o profeta podem saber. Até o presente momento, os fatos apontam o acerto de nossa decisão", defendeu.