Título: A casa caiu, de novo
Autor: Augusto, Leonardo; Camargos, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2011, Política, p. 2

Marcos Valério é preso, agora por grilagem de terras na Bahia. Apontado como o operador do mensalão, ele teria participado de esquema para dar uma propriedade inexistente como garantia de uma dívida de R$ 180 milNotíciaGráfico

Belo Horizonte — O empresário Marcos Valério, apontado pelo Ministério Público Federal como operador do mensalão, foi preso ontem em Belo Horizonte por grilagem de terras na Bahia, na operação Terra do Nunca, deflagrada pela Polícia Civil baiana e o MP do estado. Três sócios do empresário na extinta agência de publicidade e propaganda DNA, Ramon Hollerbach, Francisco Marcos Castilho Santos e Margareth Maria de Queiroz Freitas também foram detidos. Os quatro são investigados por formação de quadrilha, falsidade ideológica e corrupção ativa e podem ser condenados a até 20 anos de prisão.

A fraude consistia na utilização de propriedades fictícias como garantia de operações financeiras, conforme relato do promotor Carlos André Milton Pereira, do MP baiano. Os terrenos ficavam em São Desidério, a 874km de Salvador. Segundo as investigações, funcionários do cartório da cidade emitiam registros de imóveis falsos. Na casa de um dos notários, foram encontrados 250 documentos suspeitos de irregularidades.Marcos Valério e os ex-sócios foram levados no início da tarde de avião para Salvador. O delegado Carlos Ferro, responsável pelas investigações, disse que os ex-sócios da DNA ficariam detidos na sede da Polinter, no Complexo dos Barris, na capital.

As investigações do Ministério Público da Bahia começaram em 2005. Ao todo, foram emitidos 23 mandados de prisão pela Justiça da Bahia, onde ocorreram a maior parte das detenções. Os 15 detidos, até ontem, são advogados, empresários e funcionários públicos. Uma das pessoas detidas, Ana Elisabete Vieira dos Santos, é mãe do piloto de testes da equipe de Fórmula 1 Lotus Luiz Razia. O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, disse que a prisão é ilegal.

O advogado afirma que Valério sempre atendeu às determinações de todas as instâncias da Justiça nos últimos seis anos, além de ter endereço fixo. "Ele nunca foi, não conhece e não tem nenhuma relação com São Desidério. A empresa dele, a DNA Propaganda, comprou o imóvel para garantir uma dívida e foi enganada", sustenta o advogado. Leonardo adiantou que entrará com um pedido de habeas corpus na segunda-feira.

Segundo o advogado de Francisco e Margareth, Marcelo Sarsur, o pedido para relaxamento das prisões será feito ainda no fim de semana. "Fazem isso para conseguir manchetes nos jornais. Nenhum documento foi apresentado para a realização das prisões", disse Sarsur. O advogado de Ramon Hollerbach, Hermes Guerrero, classificou a prisão do ex-sócio da DNA como "arbitrária".

Carros de luxo Principal articulador de um do maiores escândalos da política brasileira, Marcos Valério foi preso mais uma vez, mas permanece impune diante das acusações de ter financiado a compra de votos dos parlamentares. Ontem, às 6h, o próprio Valério respondeu à chamada do interfone e pediu para que os policiais entrassem na mansão de dois andares em que mora com a mulher e dois filhos no bairro Bandeirantes, região da Pampulha. Ao ser confrontado com o mandado de prisão, disse apenas: "Ah, tá. Já sei".

O empresário pediu para tomar banho e voltou meia hora depois. Na garagem da casa estavam três carros de luxo. Uma Toyota SW4 e dois Mitsubishis (Pajero e Outlander), avaliados respectivamente em R$ 103 mil, R$ 170 mil e R$ 98 mil. Ao delegado Denílson Gomes, ainda em casa, o empresário afirmou que se tratava de uma detenção por motivos políticos.

Além da prisão de ontem, Valério passou 97 dias na cadeia, entre o fim de 2008 e o começo de 2009. A acusação à época foi ter forjado um inquérito policial com a intenção de prejudicar dois fiscais da receita que haviam multado a Cervejaria Petrópolis, produtora da cerveja Itaipava. Valério já foi condenado a seis anos de prisão, mas recorreu da sentença e aguarda o julgamento do recurso em liberdade. A condenação é por ele ter prestado informações falsas ao Banco Central sobre operações financeiras da SMP&B Comunicações entre 1998 e 1999.

Colaborou Paula Sarapu